Descrição de chapéu Dengue

Casos de dengue em São Paulo em 2024 ultrapassam todo o ano de 2023

Até 21 de fevereiro, capital paulista chegou a 16.001 casos da doença, segundo dados da gestão municipal

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São Paulo

A cidade de São Paulo registrou, nos primeiros 52 dias de 2024, mais casos de dengue do que o ano inteiro de 2023. É o que mostra o boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria Municipal da Saúde nesta segunda-feira (26).

Até o dia 21 de fevereiro, na oitava semana epidemiológica, a capital tinha 16.001 casos. Em 2023, a cidade registrou 14.398 ocorrências da doença. Segundo informações da pasta, a marca foi ultrapassada entre as semanas epidemiológicas 6 e 7, que corresponde aos dias de 4 a 17 de fevereiro. Os dados ainda são provisórios.

Até o momento, uma pessoa morreu em São Paulo em decorrência da dengue.

A auxiliar de enfermagem Gabriela Rodrigues, 32, faz  exame diagnóstico para dengue na tenda montada dentro da UPA 26 de Agosto, região de Itaquera, zona leste da capital paulista
A auxiliar de enfermagem Gabriela Rodrigues, 32, faz exame para dengue na tenda montada na UPA 26 de Agosto, na região de Itaquera, em São Paulo - Ronny Santos - 06.fev.2024/Folhapress

De acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, que é atualizado diariamente com eventuais novos casos e óbitos, a capital tem 22.746 registros confirmados. São 19 mortes por dengue, contando o óbito na capital. Outras 23 estão em apuração. A contagem do painel do estado difere do registrado no documento da administração municipal, que leva em consideração a semana epidemiológica.

Para Alexandre Naime Barbosa, infectologista e professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Botucatu, o aumento observado na capital neste início de ano começou a ser verificado no final de novembro, e se intensificou entre os meses de dezembro e fevereiro.

"Isso coincide com as médias de temperatura diária mais elevadas que tivemos, inclusive o verão acabou sendo antecipado justamente por essas altas temperaturas registradas ainda na primavera. E além disso, a média de pluviosidade [chuva] também foi muito alta. Então, você tem uma temperatura elevada seguida de chuva intensa, o que cria um ambiente perfeito para a proliferação do mosquito", diz.

O Brasil vive uma epidemia de dengue sem precedentes. O país registra um total de 920.427 casos prováveis e 184 mortes, segundo atualização do Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde desta segunda.

A pasta estima que o país tenha 4,2 milhões de casos de dengue em 2024, alcançando um novo recorde. Em 2023, foram 1,6 milhão de registros, com 1.094 mortes pela doença, maior número desde o início da série histórica, em 2000.

Segundo Barbosa, as temperaturas diárias acima de 25°C são um ambiente ideal para a eclosão dos ovos do Aedes aegypti. Mas este não é o único fator que contribui para o aumento das infecções neste ano.

"Tradicionalmente, no Brasil, tivemos sempre a circulação mais intensa do sorotipo 1 da dengue, e muitas pessoas que já se infectaram no passado foram com essa forma. Mas desde os últimos anos temos visto uma circulação maior do tipo 2, e as pessoas que já tiveram o tipo 1 foram imunizadas contra ele, mas estavam suscetíveis ao tipo 2", explica.

Atualmente, o sorotipo 2 é prevalente na cidade de São Paulo, enquanto alguns casos esporádicos do sorotipo 3 são registrados tanto no município quanto no estado.

O infectologista afirma que o aumento no número de registros deve seguir até meados de março e abril. Outras estimativas indicam que o pico pode se estender até maio.

"E aí tem um terceiro fator, que é a falta de saneamento em muitos municípios e o adensamento populacional, condições estas que criam um ambiente de alta transmissão da dengue, assim como de qualquer arbovirose [doenças transmitidas por mosquito]."

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde afirma que não há previsão de ser decretada uma emergência sanitária por dengue no município neste momento.

A pasta informou, por meio de nota, que monitora o cenário da dengue na cidade, intensificou as ações de combate ao mosquito nos sete dias da semana, e aumentou o número de agentes nas ruas de 2.000 para 12 mil. "Somente este ano, foram realizadas 2.107.460 ações de combate à dengue na cpaital, como visitas, ações de bloqueios de criadouros e nebulizações", disse a nota.

Os distritos administrativos de Itaquera, na zona leste; Jaçanã, Anhanguera e São Domingos, na zona norte; e Jaguara e Vila Leopoldina, na zona oeste, estão em situação epidêmica pela dengue. Ao todo, a capital tem 96 distritos.

Neles, o coeficiente de incidência —critério do Ministério da Saúde para a classificação da doença em relação à população— está acima de 300.

Para chegar ao coeficiente de incidência, basta multiplicar por 100 mil o número de casos novos e dividir pelo total da população da área em questão. O indicador mostra o risco de os moradores ficarem doentes e a probabilidade de novas ocorrências.

A incidência de dengue é maior no distrito de Jaguara, que chegou a 2.521,1. Em seguida, aparecem São Domingos (524,8), Jaçanã (517,6), Vila Leopoldina (446,1), Itaquera (425,2) e Anhanguera (326,6).

Com 299,8 casos por 100 mil habitantes, São Miguel, na zona leste, está próximo da condição.

Na capital, o coeficiente de incidência da doença está em 133,3 —considerado médio, de acordo com o critério da Saúde.

Ao menos 11 cidades paulistas decretaram situação de emergência devido ao aumento dos casos da doença. São elas Registro, Iepê, Marília, Botucatu, Jacareí, Pindamonhangaba, Pederneiras, Bariri, Guararema, Suzano e Taubaté.

"Estas são cidades que são, em geral, muito quentes e concentram alta pluviosidade. Então, é natural que a proliferação do mosquito seja facilitada. Em segundo lugar, temos também os efeitos do adensamento. São Paulo é uma cidade com um grande adensamento, principalmente nas áreas periféricas e favelas", diz Barbosa.

No âmbito nacional, o Distrito Federal é a unidade da federação com maior incidência de dengue. A região tem 2.938 casos prováveis por 100 mil habitantes, além de 35 mortes confirmadas, segundo dados do Ministério da Saúde. O governo local, porém, contabiliza 38 mortes e afirma que outras 72 estão em investigação.

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