Conselho de Medicina aciona PF por mensagens com conteúdo anti-Lula em eleição de conselheiros

Organização alega que sua identidade visual e marca foram usados indevidamente para apoiar candidatos

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Isabela Rocha
São Paulo

O CFM (Conselho Federal de Medicina) afirma que acionou a PF (Polícia Federal) nesta terça-feira (23) após a circulação de postagens em redes sociais e mensagens de texto usando sua marca para apoiar candidatos nas eleições de seu plenário. A votação, que elege dois representantes de cada estado, está marcada para os dias 6 e 7 de agosto.

As postagens continham "peças gráficas" que imitavam a identidade visual do conselho, afirmou a organização em nota. Já as mensagens de texto abordavam médicos diretamente, fazendo propaganda para candidatos específicos, com mensagens contrárias ao presidente Lula.

A PF ainda não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem.

Ambos foram feitos sem autorização prévia, afirma o Conselho. Questionado, o CFM não disse quando e para quem especificamente esse conteúdo teria sido divulgado.

Captura de tela mostra uma mensagem de texto em um fundo escuro. O texto diz: 'Conselho Federal de Medicina 2024: Chapas de SP que votaram no L (13): 1,3 e 4. Única chapa anti-(L-13): 2. Apoie chapa 2: dias 06/07 agosto'.
Mensagem de texto recebida por médicos em referência às chapas de São Paulo nas eleições de 2024 do plenário do Conselho Federal de Medicina - Aquivo pessoal de médicos

"O Conselho Federal de Medicina produz e divulga apenas conteúdo de caráter informativo a respeito das eleições com o objetivo de estimular a ampla participação dos médicos brasileiros nesse pleito, não sendo compartilhadas informações de médicos –sob responsabilidade do sistema de conselhos– com outros indivíduos ou grupos", escreveu.

Uma das mensagens de texto primeira pedia que candidatos apoiassem a Chapa 2 do estado de São Paulo, a "única chapa anti-(L 13)", fazendo referência ao presidente Lula. Depois, uma segunda mensagem dizia "diga não à Chapa 2. Apoie quem defende a ciência de verdade! Apoie a Chapa 3".

Ambos textos começavam com os termos "CFM 2024" e foram enviados por um número não identificável.

O CFM sofre críticas devido à recente resolução que tentava impedir que o procedimento de assistolia fetal, indicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para aborto em caso de gestações avançadas, fosse realizado. A resolução foi um dos motores para a criação do PL Antiaborto por Estupro, que visava equiparar a pena daqueles que fazem aborto após a 22ª semana à reclusão prevista em caso de homicídio simples.

Na época, o presidente Lula foi cobrado por um posicionamento sobre a proposição, uma vez que ele já havia se declarado contrário ao aborto. Após pressão, afirmou ser contra o projeto de lei.

O médico Francisco Eduardo Cardoso Alves, candidato titular da Chapa 2, disse à Folha que desconhece o autor da primeira mensagem e ninguém que ele conhece a recebeu. "Estou desconfiado que isso foi feito por alguém querendo me prejudicar. Fiz uma denúncia na Comissão Eleitoral do Cremesp [Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo] para investigarem o caso".

Em nota, o Cremesp disse que tem informações de que médicos estão fazendo propaganda por mensagens de texto, que não é leniente com a situação, e que a instituição não fornece informações cadastrais dos profissionais. "Tais mensagens são provenientes de plataformas anônimas inviabilizando assim a identificação de autoria".

A Comissão Regional Eleitoral do Cremesp não respondeu questões relacionadas à denúncia de Alves.

Suplente da Chapa 3, a médica Ilka de Fátima Santana Ferreira Boin afirmou que sua chapa não escreveu e "abomina" atos do tipo.

"Nossa chapa é apartidária, deseja o retorno da ciência e da boa prática médica no CFM. Apoiamos a intervenção da Polícia Federal. Descobrir os autores também é de nosso interesse".

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