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04/02/2011 - 22h08

Especialistas reagem a protesto contra homeopatia

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DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

Médicos, farmacêuticos e terapeutas especializados em homeopatia repudiaram a manifestação do movimento 10:23, marcada para sábado de manhã na praça Benedito Calixto, zona oeste de São Paulo.

Os manifestantes prometem entornar vidros inteiros de remédios homeopáticos, o que provaria que eles não funcionam.

De acordo com Marcia Gutierrez, presidente da Associação Brasileira de Farmacêuticos Homeopatas, o protesto dos "céticos" é preconceituoso. "Eles não são obrigados a usar uma terapêutica [a homeopatia]. Estão sendo preconceituosos com quem faz essa opção."

Ela afirma ainda que, diferentemente do que dizem os "céticos", há risco sim em tomar homeopatia de forma indiscriminada. "Não é inócuo. Quem tomar pode ter sinais e sintomas. Se algum deles tiver alguma predisposição, pode haver um agravamento disso. É uma irresponsabilidade recomendar comprar remédio e tomar o vidro inteiro."

Para a farmacêutica, o protesto pode gerar pânico nos pacientes que estão em tratamento com homeopatia. "Essas pessoas podem interromper um tratamento indicado por um médico. Podem ter um agravamento de sintomas."

Ela acredita que o ato é uma agressão ao trabalho dos especialistas em homeopatia. "Medicamento homeopático é regulamentado pela Anvisa, tem legalidade. A atividade homeopática é legítima", afirma.

A entidade presidida por Gutierrez notificou a Vigilância Sanitária municipal (Covisa) sobre protesto, e também a polícia. "Fazer uma brincadeira com medicamento é um risco sanitário." Segundo ela, a intenção não é impedir o protesto, mas garantir a segurança da população e informar. "Minha preocupação é se as pessoas sabem o que estão fazendo."

A questão levantada pelos manifestantes --de que a homeopatia não tem base científica-- é rebatida pela farmacêutica. "Se querem discutir cientificidade, não é na Benedito Calixto que isso vai acontecer. Não é tomando um frasco de medicamento que algo vai ser provado. Há 15 mil médicos homeopatas no Brasil, porque existe demanda da população. Nada disso vai afetar nossa profissão."

O médico Rubens Dolce Filho, presidente da Associação Paulista de Homeopatia, afirma que vai acompanhar o protesto no sábado. Ele acredita que os manifestantes não vão sentir efeitos colaterais. "Você pode tomar um litro do remédio, e não vai acontecer nada. Se tomarem por muito tempo, vão ter sintomas. Com uma dose só, não vai acontecer nada."

Dolce Filho afirma que o motivo da desconfiança em relação à especialidade é a falta de conhecimento. "São ignorantes a respeito disso." Os "céticos" que organizam o movimento internacional contra a homeopatia denunciam que os poderes públicos desperdiçam dinheiro custeando uma terapia que, dizem eles, não funciona. "O que o governo gasta com homeopatia no Brasil é quase nada. Não vejo como estamos incomodando. Não sabemos quem está financiando isso."

Um grupo de homeopatas está até se mobilizando para fazer uma contramanifestação na mesma praça, a Benedito Calixto, no sábado. O movimento é organizado pela Associação Nacional dos Terapeutas Holísticos e Energéticos e pelo Conselho Nacional de Homeopatia.

Eliete Fagundes, coordenadora do curso de homeopatia da Universidade Federal de Viçosa (MG), é uma das organizadoras do movimento. "Em primeiro lugar, queremos mostrar que temos material da universidade, como teses de doutorado e mestrado, que provam a eficácia da homeopatia em plantas. Se age nas plantas, não tem como não agir no ser humano."

Fagundes afirma que o efeito em plantas é definitivo para comprovar a eficácia da homeopatia porque os vegetais não poderiam ser sugestionados a sentir a ação dos compostos diluídos. Assim, não haveria possibilidade de efeito placebo, muitas vezes levantado por quem condena a homeopatia para explicar por que algumas pessoas sentem melhora com os remédios dessa especialidade.

Ela acredita que pode haver multinacionais da indústria farmacêutica por trás dos protestos. "Quem tem interesse em derrubar a homeopatia são os grandes laboratórios. Mas não temos como provar."

Fagundes diz que entrou em contato com um laboratório que fabrica remédios homeopáticos para fornecer as drogas aos manifestantes. A ideia é se certificar de que eles vão tomar remédios homeopáticos de verdade e provar que alguns preparados têm sim o potencial de causar sintomas. "Queremos propor outras homeopatias que não estão na lista deles. Eles dizem que quanto mais os remédios são diluídos, menos efeitos têm. Vamos propor remédios bastante diluídos. Eu acho que eles vão recusar. Se algum deles tiver algum conhecimento, vai dizer não."

O engenheiro Daniel Sottomaior, 39, um dos organizadores do movimento 10:23, contrário à homeopatia, reagiu com risos à informação de que os farmacêuticos homeopatas avisaram a polícia sobre o protesto. "Eu acho que eles deveriam acionar a polícia cada vez que as pessoas tomam água, então!"

Ele acredita que não há risco em entornar vidros e vidros de homeopatia. "O risco é igual ao número de moléculas dos medicamentos deles: zero."
A ideia do protesto é denunciar o que Sottomaior chama de "enganação". "Lembra da pílula anticoncepcional de farinha? Milhares de mulheres processaram a empresa que fez aquilo, com razão. E isso está acontecendo todos os dias. São 15 mil médicos prescrevendo farinha para os pacientes, que estão sendo enganados."

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