Logo nos primeiros minutos, Everton Luiz, 28, começou a ouvir barulhos estranhos. Como não fala sérvio, não os identificou. Quanto mais corria a partida de sua equipe, o Partizan Belgrado, mais ouvia os ruídos vindos da torcida do Rad Belgrado.
Depois de algum tempo, o volante brasileiro percebeu. Eram sons de macaco. E eram direcionados e ele.
"Quanto mais eu me aproximava da lateral do campo, mais forte ficava", afirmou, em entrevista à Folha por telefone, nesta segunda (20).
Ser vítima de racismo o consumiu por quase 90 minutos. Seus companheiros avisaram o árbitro, que parou a partida disputada no domingo (19). Pelos alto-falantes do estádio, um locutor pediu para o público parar com aquilo, sem sucesso.
Na hora, o volante brasileiro, que está há um ano no futebol sérvio, lembrou-se da filha Luna, de quatro anos.
Meses antes, ela havia ido com a mãe a um supermercado de Belgrado. Outra criança se aproximou, viu a pele morena escura, puxou o cabelo de Luna e se enojou. "Eca!", disse.
Foi o que fez Everton explodir. No final do jogo, fez gestos obscenos para a torcida que o ofendeu racialmente. Os jogadores do Rad Belgrado partiram para cima de Everton. Queriam briga.
"Quando aconteceu o racismo, eles não fizeram nada. Não tomaram nenhuma atitude. Nenhum deles se aproximou dos torcedores e pediu para que parassem. Depois ainda quiseram brigar comigo. Talvez eu não devesse ter feito nenhum gesto. Mas não aguentei", lamenta.
Na saída de campo, aconteceu a imagem que correu o mundo nesta segunda.
Às lágrimas, o brasileiro foi consolado pelo goleiro Filip Kljajic, seu companheiro de Partizan Belgrado.
"Chorei de raiva. Nunca havia passado por uma situação como essa. Espero que nunca mais aconteça. Não só comigo, mas com ninguém."
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