Colecionador de gafes, coronel Nunes preside CBF sem se expor

Dirigente paraense diz ser 'discriminado pela imprensa do Sudeste'

Coronel Nunes sorri durante o lançamento da Copa Verde, em Rio Branco (AC)
Coronel Nunes durante o lançamento da Copa Verde, em Rio Branco (AC) - Lucas Figueiredo/Divulgação CBF
Sérgio Rangel
Rio de Janeiro

Às vésperas da Copa do Mundo de 2018, o presidente interino da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), o paraense Antônio Carlos Nunes, comanda a entidade longe dos holofotes.

Substituto de Marco Polo Del Nero, banido do futebol por 90 dias pela Fifa, coronel Nunes, como gosta de ser a chamado, é blindado pela cúpula da confederação para evitar polêmicas. 

Nos raros eventos públicos aos quais comparece fora da confederação, ele entra e sai com ajuda de aliados, que têm a missão de afastá-lo dos microfones de jornalistas.

O ex-oficial da Polícia Militar do Pará não deu entrevistas aos principais meios de comunicação do país para falar sobre seus projetos para a entidade desde que a assumiu, em 15 de dezembro.

Caso Del Nero seja banido definitivamente pela Fifa, o paraense de 80 anos vai comandar a confederação até ao menos abril de 2019, quando acaba o atual mandato.

Nestes quase dois meses no cargo, o cartola optou por viajar pelo Brasil. A última viagem foi para Rio Branco, no Acre, onde fez o lançamento da Copa Verde, no último dia 30.

Xodó do cartola, o torneio reúne clubes das regiões Norte e Centro-Oeste, além de times do Espírito Santo. Bancada pela CBF, a competição serve para agradar os presidentes das federações locais em troca de apoio político. Na maioria dos estados envolvidos no campeonato, o futebol é praticamente amador.

O dirigente é protegido pela cúpula da entidade para afastá-lo de constrangimentos. Coronel Nunes é conhecido por colecionar gafes.

Em 2009, na disputa da Copa das Confederações, ele foi o pivô de uma crise com os organizadores do evento na África do Sul. Chefe da delegação brasileira, o dirigente reclamou da violência no país e disse que não levaria seus parentes ao Mundial de 2010.

A CBF teve que pedir desculpas aos dirigentes da Fifa, que ficaram furiosos.

Ele também já disse que o melhor treinador do país era Dado Cavalcanti, então treinador do Paysandu, seu clube de coração, e fez elogios ao lateral Yago Pikachu, que defendia o clube paraense.

Em março de 2016, quando ocupava interinamente a presidência da entidade após Del Nero pedir licença pela primeira vez, Nunes definiu seu estilo de comando. 

Ao ser questionado pelo senador Romário, que presidia a CPI do Futebol, sobre quem manda na confederação, o coronel aposentado disse que administra a entidade “como uma unidade militar”.

A cúpula da confederação toma todo o cuidado para não expor o cartola. No site da CBF, o dirigente raramente aparece e suas declarações na página são protocolares.

Ele está mais presente em fotos divulgadas no site. A viagem do cartola de volta ao Pará, sua terra Natal, foi a que mereceu mais destaque.

Em janeiro, ele participou da posse do seu sucessor na federação local e foi recebido por dirigentes de clubes e autoridades locais, como o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB). Uma entrevista concedida antes das 7h pelo dirigente a um programa da “Rede Brasil Amazônia de Televisão” foi postada no site da CBF.

Preconceito

Na mesma viagem pelo Norte do país, em outra entrevista, coronel Nunes disse ser vítima de preconceito.

“Sou discriminado pela imprensa do Sudeste, que não aceita ver uma pessoa do Norte no lugar em que estou hoje”, afirmou o dirigente, em entrevista concedida ao site do jornal “Diário do Pará”.

Nunes sempre foi aliado de José Maria Marin, condenado pela Justiça dos Estados Unidos em dezembro.

Ao ser eleito para substituir Marin como vice-presidente da CBF em 2015, o presidente interino negou a existência de corrupção no futebol brasileiro. Del Nero foi afastado pela Fifa por 90 dias por causa das acusações feitas pelo FBI (a polícia federal dos Estados Unidos).

Ele e Marin são acusados de receber propinas na venda de direitos de transmissão de campeonatos de futebol. Ambos negam as acusações.

A punição provisória imposta pela Fifa a Del Nero termina em março, mas pode ser renovada por mais 45 dias.

Por causa da indefinição sobre o futuro do presidente afastado, a eleição da CBF, que estava programada para abril deste ano, foi adiada.

No Pará, Nunes desconversou ao ser questionado se seria candidato. “Não estamos nem falando sobre sucessão na CBF”, disse o dirigente, em entrevista ao site local. 

Apesar do discurso, ele tenta articula nos bastidores a sua candidatura.

Fifa decidirá futuro de Del Nero em março

O banimento provisório do presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, se encerrará no próximo dia 15 de março. Até lá, o Comitê de Ética da Fifa deve terminar a investigação aberta contra ele por suposto recebimento de propina na venda de direitos comerciais de torneios no Brasil e no exterior.

Ao fim das investigações, o comitê pode optar por banir definitivamente o dirigente do futebol. Caso entenda que precisa de mais tempo para avaliar o caso, o órgão ainda pode manter Del Nero afastado por um período de mais 45 dias.

Em seu depoimento ao comitê, feito por videoconferência em 19 de janeiro deste ano, o dirigente negou ter cometido qualquer ato ilegal e disse que a Justiça americana não apresentou provas contra ele durante o julgamento de José Maria Marin, condenado em dezembro do ano passado. 

O Comitê de Ética da Fifa decidiu banir Del Nero de todas as atividades relacionadas ao futebol por 90 dias, em 15 de dezembro, após o cartola ser acusado pela defesa de Marin de ser o verdadeiro mandatário da CBF no período em que seu cliente ocupava o cargo de presidente da confederação.

Del Nero se defende dizendo que não participou da negociação nem da assinatura de nenhum dos contratos sob investigação nos Estados Unidos.

“A tentativa de réus e delatores se livrarem de acusações que lhe são dirigidas através do expediente corriqueiro de atribuir a terceiros inocentes a prática da infração em troca de benesses processuais é comum nos tribunais e não pode ser aceita como verdade absoluta”, afirmou o dirigente.

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