Caixa não renovará patrocínio da equipe de ginástica de São Bernardo

Banco encerrará apoio ao clube formado por técnico acusado de abuso sexual

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Demétrio Vecchiolli
São Paulo | UOL

Há quatro anos, a Caixa Econômica Federal resolveu estender o apoio que já dava à Confederação Brasileira de Ginástica e passar a patrocinar também um clube.

O projeto escolhido foi o da cidade de São Bernardo do Campo (SP), que tinha como responsável o técnico Fernando de Carvalho Lopes, atualmente acusado por mais de 40 ex-atletas de ter cometido abuso sexual.

Agora, após um investimento de mais de R$ 3 milhões na equipe, a Caixa decidiu encerrar o patrocínio, que envolvia também o naming rights do centro de treinamento de ginástica e o estádio de atletismo.

Inicialmente o banco havia informado à reportagem que estava “avaliando todas as medidas cabíveis”. Nesta segunda-feira, foi mais específico e revelou que já havia decidido não renovar o acordo, de R$ 1,8 milhão ao ano, e que vence em agosto.

Assim, o time que hoje tem Diego Hypolito e o CT que deveria ser a base da seleção masculina ficarão sem patrocínio.

Diego Hypólito e Caio Souza
Diego Hypólito e Caio Souza reforçaram a equipe de São Bernardo, contratados com verba da Caixa' - Ricardo Bufolin/CBG

Na semana passada, quando questionada sobre o patrocínio à CBG, a Caixa já havia informado que “está acompanhando o resultado das investigações junto às autoridades competentes e tomará as medidas cabíveis previstas em contrato, se for o caso”.

O banco, porém, não respondeu a questionamento sobre a existência de cláusula contratual que trate de denúncias de abuso envolvendo técnicos ou funcionários da confederação.

No caso da equipe de ginástica de São Bernardo, o contrato é entre a Caixa e a prefeitura da cidade, em um convênio de R$ 1,8 milhão ao ano. 

O projeto se chama “Esporte São Bernardo – Atletismo e Ginástica” e inclui os trabalhos desenvolvidos na Arena Caixa de Ginástica, base da equipe de ginástica, e na Arena Caixa de Atletismo, local onde foram realizadas as últimas edições do Troféu Brasil e onde treinava a equipe do ASA São Bernardo. As estruturas são quase vizinhas. É este contrato que não será renovado.

Procurada pelo UOL, a prefeitura de São Bernardo foi mais específica e disse que a ginástica recebe uma cota de R$ 800 mil por temporada, valor que deve ser utilizado para: “manutenção do ginásio, auxilio a atletas, pagamentos de taxas federativas e viagens, alimentação, publicidade, assessoramento e demais despesas inerentes à modalidade”.

Em quatro anos, até junho, terão sido destinados R$ 3,2 milhões para a modalidade.

Esse valor sai da Caixa e chega à prefeitura de São Bernardo do Campo, que descentraliza parte dele para outras instituições. Quando o projeto de ginástica foi criado, em meados de 2014, a entidade que recebia os recursos era a ASA (Associação Sãobernardense de Atletismo).

Naquele momento, a cidade acabava de ganhar a Arena Caixa, um galpão do antigo Clube da Volks, reformado por R$ 1,25 milhão pela prefeitura de São Bernardo e estruturado com equipamentos comprados pela CBG com dinheiro do Ministério do Esporte.

Injetar recursos na equipe mediana que Fernando de Carvalho Lopes mantinha há quase duas décadas no Mesc, um clube social, foi a forma encontrada para que o CT tivesse utilidade no dia-a-dia e para que São Bernardo ganhasse projeção na ginástica.

Contratados com verba da Caixa

Assim, a antiga equipe do Mesc virou ASA/Mesc, sendo reforçada por Diego Hypolito e Caio Souza, ambos contratados com a verba do patrocínio da Caixa. Então prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT) foi quem apresentou Diego à imprensa.

Em agosto de 2015, porém, a prefeitura de São Bernardo parou de repassar recursos ao ASA. Não que a equipe tenha sofrido qualquer modificação: treinador, atletas e patrocinador continuaram os mesmos.

A diferença é que o dinheiro passou a ir, por convênio, para outra entidade, a Associação Desportiva e Cultural São Bernardo (ADC São Bernardo), uma espécie de ONG, ligada à prefeitura, e que é dona, por exemplo, de uma franquia da Superliga Masculina de Vôlei – o time joga com o “nome fantasia” de Corinthians/Guarulhos.

Quando a primeira denúncia de abuso sexual surgiu, em junho de 2016, Fernando era oficialmente um funcionário da ADC São Bernardo, que o afastou.

Hoje, a equipe continua treinando na Arena Caixa, mas com outro treinador, Ricardo Yokoyama, contratado depois de longo trabalho na AABB. Além do time masculino, há também um feminino, essencialmente de base.

Procurada pela reportagem, a prefeitura de São Bernardo não soube explicar por que houve mudança no destino do repasse da verba da ginástica, da ASA para a ADC.

A alegação do governo municipal foi de que a decisão foi tomada pela gestão anterior. O UOL enviou perguntas para o diretório estadual do PT em São Paulo, presidido por Luiz Marinho, mas não obteve respostas.

Procurada pela Folha, a Caixa Econômica Federal confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, a decisão de não renovar o contrato com a equipe de São Bernardo.

"A decisão [de não renovação] ocorreu por uma decisão estratégica para o ano, considerando inclusive a dotação orçamentária disponível", disse a Caixa, em sua nota oficial.

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