Descrição de chapéu olimpíada japão

Filmes e treinos com a mulher embalam sonho de carateca brasileiro

Inspirado em clássicos de artes marciais, Douglas Brose mira em Tóquio-2020

Daniel E. de Castro
São Paulo

Nove anos antes de o caratê entrar no programa dos Jogos Olímpicos, o brasileiro Douglas Brose tatuou na panturrilha direita os anéis que simbolizam o evento.

Em 2007, o carateca se preparava para disputar os Jogos Pan-Americanos do Rio e decidiu registrar o que na época parecia um objetivo distante.

“As pessoas me perguntavam como eu iria para os Jogos se o caratê não estava no programa olímpico. Eu dizia que não sabia, mas que esse era meu sonho”, afirma Brose, nascido em Cruz Alta (RS) e radicado em Florianópolis.

Hoje com 32 anos, ele tem grandes chances de disputar a Olimpíada de Tóquio e atualmente é um dos favoritos para subir ao pódio.

O caratê, que teve a entrada no evento aprovada em 2016, fará sua estreia no Japão em 2020.

Brose começou a praticar a modalidade aos oito anos, influenciado por filmes clássicos de artes marciais como Karate Kid (1984) e vários protagonizados por Jean-Claude Van Damme.

Não demorou, porém, para que ele descobrisse que a realidade do esporte é diferente do que via nas telas.
“Nos filmes têm muita firula, até oito socos [em sequência]. Às vezes numa luta você só precisa de um para fazer um ponto. É mais rápido e mais direto. Mas claro que tem a plasticidade, se todos os combates acabassem com um soco não teria graça”, diz o carateca brasileiro.

Foi por volta de 2006 que sua carreira começou a mudar de patamar. Nesta época, ele conseguiu apoio financeiro do governo de Santa Catarina para participar de competições na Europa.

Nas viagens, tinha a companhia da namorada, a carateca Lucélia Ribeiro, quatro vezes medalhista de ouro em Jogos Pan-Americanos.

“A gente treinava junto, morava junto, viajava junto. Ela era minha técnica, eu era o técnico dela. Isso fez com que a gente estreitasse mais as relações”, afirma Brose.

Os dois são casados desde 2010 e têm um filho, Daniel, nascido em 2014. O casal ainda mantém a rotina de preparação em família. 

Lucélia, que se aposentou das competições em 2012, continua como treinadora do marido.

Douglas Brose integra o programa de atletas de alto rendimento das Forças Armadas. Terceiro-sargento do Exército desde o ano passado, ele afirma que descobriu entre os militares valores que cultivou desde cedo no caratê, como respeito à hierarquia.

“Quando a gente aprende essas virtudes no caratê é em respeito à modalidade, aos mestres. Quando revive isso no Exército, é pela pátria. Eu sempre fui muito patriota, então foi fácil assimilar todas essas virtudes”, diz.

Pela função, ele recebe R$ 3.584 mensais. O atleta conta também com verba do COB (Comitê Olímpico do Brasil) para participar de competições, mas afirma que algumas vezes precisa tirar do próprio bolso.
O carateca tem quatro medalhas em campeonatos mundiais: bronze em 2008, ouro em 2010 e 2014 e prata em 2012. Na edição de 2016, parou nas quartas de final.

Atualmente, Douglas Brose lidera o ranking mundial da categoria até 60 kg.

Os esforços para conseguir uma vaga na delegação brasileira que irá participar dos Jogos de Tóquio-2020, porém, estão apenas começando. 

O Mundial na Espanha, em novembro, será o principal evento do ano para somar pontos que contarão na definição dos classificados.

Por mais que a participação olímpica represente a concretização de um sonho, ele afirma que nada mudará na sua preparação para o evento.

“Se eu falar que agora estou me preparando melhor, vou estar dizendo que me enganei nos 25 anos em que treino. Que poderia ter dado mais e não dei. Uma coisa que eu posso garantir é que dei o máximo desde o início. A diferença é que agora estou muito mais motivado”, diz.


Douglas Brose, 32
Douglas Brose é o maior vencedor da história do caratê do Brasil. Destaque na categoria até 60 kg, ele tem três medalhas em Jogos Pan-Americanos, sendo uma de ouro (Toronto-2015) e duas de bronze (Rio-2007 e Guadalajara-2011). Em mundiais, já são quatro medalhas, sendo duas de ouro. Nos Pan-Americanos da modalidade, o brasileiro conquistou todos os títulos desde 2011


A classificação olímpica do caratê
Categorias Serão três no masculino e três no feminino no kumitê (luta tradicional). Haverá ainda disputa no kata, espécie de luta imaginária
Pesos São cinco divisões por peso no ranking mundial e haverá junção de algumas delas. A categoria de Brose (60 kg) será disputada junto com os atletas de até 67 kg
Vagas Quatro para os melhores colocados no ranking: duas para 60 kg e duas para 67 kg. Haverá vagas em um torneio qualificatório mundial

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