Nunca seleção brasileira dependeu tão pouco dos gols de Neymar

Com Tite, atacante tem menor participação em gols desde 2010

Camila Mattoso Diego Garcia Sérgio Rangel Luiz Cosenzo
Kazan

Neymar, 26, fez e ainda faz a diferença dentro de campo, mas a seleção brasileira conseguiu deixar a dependência do jogador no passado.

No Mundial da Rússia, o time brasileiro aposta no conjunto. E a força do coletivo será testada novamente nesta sexta-feira (6), às 15h, na Arena Kazan, quando a seleção enfrenta a Bélgica, pelas quartas de final do Mundial.

Neymar toca o gramado com as mãos antes de entrar no campo do estádio Tsentralny, em Kazan
Neymar toca o gramado com as mãos antes de entrar no campo do estádio Tsentralny, em Kazan - Eduardo Knapp/Folhapress

Desde que estreou na equipe principal, em agosto de 2010, o atual camisa 10 sempre foi o principal astro no time.

 

Assim como acontece agora na era Tite, ele também foi o goleador com os últimos três treinadores que comandaram a seleção brasileira: Mano Menezes, Felipão e Dunga.

A dependência de Neymar, porém, era muito maior. Com Mano, o atacante era responsável por 1 a cada 4 gols da seleção (fez 17 de 66). A média se manteve enquanto Felipão estava no comando do time. O atacante foi responsável por 18 dos 70 gols da seleção na segunda passagem do técnico pela equipe nacional.

Com Dunga, a dependência diminuiu. Neymar passou a marcar 21,5% dos gols da seleção (11 de 51), mas atingiu o menor patamar com Tite.

Desde que o ex-treinador corintiano assumiu a equipe, Neymar marcou 1 de cada 5 gols da seleção (11 de 54).

A seleção aposta em uma evolução do atacante ao longo da Copa. Após lesão no pé direito, foi operado e ficou mais de dois meses sem treinar. Para a comissão técnica, ele só atingiria o seu ápice no quinto jogo da Copa, agora nas quartas.

Neymar tem três companheiros que ameaçam sua posição de artilheiro com Tite: Gabriel Jesus, que marcou dez vezes, e Coutinho e Paulinho, com oito gols cada um.

Em entrevistas, o técnico da seleção faz questão de elogiar Neymar ao mesmo tempo em que aponta o jogo coletivo do time como principal arma no Mundial da Rússia. Willian, 29, e Gabriel Jesus, 21, que ainda não fizeram gols no torneio, são citados como exemplos de jogadores que se sacrificam em prol da equipe.

O camisa 19, que joga aberto pela direita e é considerado um ponta, tem a função tática de ajudar Fagner na marcação. O meio-campista Paulinho é outro que contribui na composição tática defensiva.

Contra o México, nas oitavas de final, Willian foi um dos melhores em campo. Além de ajudar taticamente, fez a jogada individual no último terço do campo que terminou com o primeiro gol marcado pelo próprio Neymar.

Jesus ganhou importância para Tite por outras funções que exerce no campo, além da de colocar a bola no fundo do gol. "Artilheiro vive de fazer um grande jogo", afirmou.

Contra a Sérvia, o camisa 9 puxou a marcação e viu Paulinho se aproveitar do espaço criado para marcar o seu. No último jogo, contra o México, ajudou a equipe na marcação. 

Foi quando liberou os outros atacantes para jogarem mais avançados. Tanto é assim que o segundo gol contra os mexicanos saiu em uma arrancada de Neymar e conclusão de Firmino, que entrou no lugar de Philippe Coutinho. Tite vê até o camisa 10 e principal astro do time como uma peça na engrenagem coletiva da equipe. 

"Neymar está em altíssimo nível de novo, e mais do que isso. Não é só com bola e em dribles, há ações de transições defensivas, vocês verão como ele tem participado em termos coletivos. Retomada de posse de bola, ocupação de espaços, até desarme, que não é a característica, e nem quero que atacante desarme, mas o senso de equipe que ele vem desenvolvendo", afirmou o técnico.

Ele cita como ponto forte o equilíbrio da equipe nacional. A seleção possui a defesa menos vazada --sofreu apenas um gol, assim como o Uruguai-- e o quinto melhor ataque. O time marcou sete vezes na competição, média de quase dois gols por jogo.

De acordo com levantamento da Folha, o Brasil sofreu apenas quatro finalizações diretas ao gol de Alisson. 

No total, em 389 minutos jogados em quatro partidas, o Brasil sofreu 33 finalizações, sendo 12 bloqueadas, 17 para fora e 4 no gol. Apenas uma parou na rede, contra a Suíça, na estreia. Outras três ficaram nas mãos do goleiro.

"Conversei com profissionais por quem eu tinha admiração, um deles foi Carlos Bianchi. Ele disse que uma virtude de grande equipe era ser mentalmente forte e ter equilíbrio. Aquilo ficou marcado. Ele exemplificou situações. Digo isso para termos bom senso. Nem euforia nem medo de perder", completou Tite.

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