Descrição de chapéu Copa do Mundo

Retratos de astros da bola como militares causam humor involuntário

Telas com Messi, Ronaldo e Maradona são expostas em São Petersburgo

São Petersburgo

Eles não usavam black tie, mas logo o circo da moda e a indústria das celebridades revolucionou o look dos grandes astros do futebol mundial.

Quase figuras de culto nesses tempos agitados de Copa do Mundo, jogadores cada vez mais vaidosos emprestam a fama e o físico esculpido nos gramados aos mais deslavados esforços de marqueteiros.

No mais estranho de todos eles até o momento, atletas como Diego Maradona e Cristiano Ronaldo aparecem pintados numa galeria de retratos do Museu da Academia Russa de Artes, em São Petersburgo.

Também estão lá o goleiro galã da seleção brasileira, Alisson Becker, o astro egípcio Mohamed Salah, o argentino Lionel Messi, o francês Zinedine Zidane, o uruguaio Luis Suárez e dezenas de outros que já fizeram história, menos Pelé, Ronaldo e Neymar, ausências que os brasileiros deverão notar na certa.

Mas história é mesmo o ponto. Nos quadros criados pelo ilustrador italiano Fabrizio Birimbelli, todos os atletas são retratados como heróis militares do passado, em poses duras e estoicas inspiradas no olhar renascentista sobre os nobres daquela época.

Birimbelli, é bom esclarecer, não pintou essas telas como faria qualquer retratista.

Essas obras fantasiosas têm como base a reprodução de fotografias desses jogadores, imagens que ganham um verniz fake de pintura por meio de manipulações toscas no Photoshop.

Suas composições, no caso, são tentativas frustradas de dignificar em pinceladas rostos cada vez mais banalizados pelo circo de celebridades que se tornou a indústria da bola.

Os contrastes são forçados, suas representações de luz e sombra ali resvalam numa canastrice que agride os olhos e os uniformes e armaduras inventados para cada retratado poderiam figurar como bons exemplos do que jamais fazer em qualquer aula de pintura.

No elástico universo da arte contemporânea, nada disso choca, mas esse estranho conjunto parece deslocado nas galerias de um museu acadêmico, onde estudantes costumam ser vistos sentados diante de estátuas gregas tentando copiar seus contornos.

Muitas delas, aliás, foram plantadas ali no meio dos quadros de Birimbelli, numa nada sutil justaposição.

Réplicas de alguns clássicos como a “Vitória de Samotrácia” e o “Discóbolo” de Míron, por exemplo, seriam ilustres antepassados desses atletas que fizeram do futebol uma paixão obsessiva.

Na visão de Birimbelli, os ídolos do futebol contemporâneo jogam no mesmo campo que as estátuas criadas com a ideia de expressar a perfeição das formas do corpo humano.

Seria trágico se não fosse cômico. Longe da perfeição apolínea dos clássicos, essas obras causam humor involuntário.

Mais bonito em sua versão fake do que na vida real, Messi é um peso-pesado na ala dos galãs, que tem ainda o astro português Cristiano Ronaldo e o goleiro Alisson Becker, do Brasil, retratado com bigodes hipster, chimarrão em punho e outra mãozona desproporcional em primeiríssimo plano, alusão óbvia à posição que ele ocupa nos gramados.

Também na série dos bonitões, alguns resultados bizarros. Luis Suárez, do Uruguai, visto ali com os lábios entreabertos e olhar meio sedutor, parece saído de filme pornô.

Outros, como o russo Aleksandr Kerjakov e o atual atacante da seleção francesa Antoine Griezmann poderiam estar em pornochanchadas, ou estampando capas de romances baratos, como livros da best-seller Danielle Steele ou “Cinquenta Tons de Cinza”.

Na mesma pegada dos galãs, dois gigantes ídolos do futebol que já morreram, o britânico George Best, que fez sua fama no Manchester United, e o holandês Johan Cruyff, são retratados ali no auge de sua juventude, com ar de meninos adolescentes que poderiam estar numa revista Capricho.

Nesse ponto, não são claras as escolhas de Birimbelli. Enquanto astros do passado ressurgem novinhos, alguns jogadores ainda vivos são retratados com sua aparência atual.

É o caso de Maradona, pintado pelo artista com ar de um general condecorado da velha guarda, com a barba grisalha.

Os gigantes do futebol, Birimbelli parece querer dizer com os retratos, envelhecem bem e nunca perdem o seu brilho. Mas é nítido seu fascínio por atletas no auge da forma, como Mohamed Salah, que lembra um príncipe encantado de desenhos da Disney.

Fantasia por fantasia, no entanto, a estonteante coleção do Hermitage em São Petersburgo, com obras de Da Vinci, Rembrandt e Caravaggio, e seus deslumbrantes interiores barrocos e rococó valem bem mais o tempo do viajante.

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