Descrição de chapéu Copa do Mundo

Salah vai jogar na estreia do Egito na Copa do Mundo, diz colega

Atleta não treinou, mas apareceu para a torcida ao lado do líder da Tchetchênia

O atacante Salah tira fotos com fãs durante treino da seleção do Egito, no Cairo
O atacante Salah tira fotos com fãs durante treino da seleção do Egito, no Cairo - Mohamed Abd El Ghany/Reuters
Igor Gielow
Grozni

O meia-atacante Mohamed Salah, maior estrela da história do futebol egípcio, irá jogar na estreia da seleção de seu país na Copa do Mundo da Rússia, segundo um colega de time. Os egípcios enfrentam o Uruguai na próxima sexta (16), em Iekaterinburgo.

"Ele está bem e vai jogar", afirmou à Folha o zagueiro Ali Gabr. Zagueiro do West Brom (ING), ele veio a Grozni, capital da Tchetchênia onde o Egito terá sua base durante o Mundial, em um voo comercial originário de Moscou. Chegou às 13h (7h em Brasília), enquanto o avião fretado trazendo o restante da delegação egípcia pousou 15 minutos depois.

Salah, contudo, não treinou no começo da noite. Para uma plateia entusiasmada que gritou por seu nome durante 55 minutos, a frustração parecia inevitável, até que a estrela egípcia apareceu ao lado do campo acompanhado de ninguém menos do que autocrata que governa o país, Ramzan Kadirov.

O meia-atacante apenas cumprimentou a plateia e falou rapidamente, saindo antes até do que o presidente. Kadirov, por sua vez, ficou mais tempo acenando para os cerca de 8.000 presentes, que ganharam ingresso do governo. Havia uma grande quantidade de crianças e também de mutilados de guerra em cadeiras de rodas —um lembrete do passado recente de conflitos na atribulada república. O clima era de um jogo de fim de domingo, com a polícia e militares organizando a entrada e a saída do estádio.

Salah é a maior estrela do Liverpool, time inglês pelo qual se machucou jogando a final da Liga dos Campeões da Europa contra o Real Madrid, há duas semanas. Logo no primeiro tempo, ele foi derrubado pelo zagueiro Sergio Ramos e lesionou o ombro. Além de desfalcar o seu clube na derrota por 3 a 1 para os espanhóis, Salah virou dúvida para a Copa. Até a semana passada, especulava-se que ele só iria estar apto a entrar em campo na segunda partida dos egípcios, contra a Rússia. O grupo ainda tem a Arábia Saudita, que fará a abertura da Copa contra os anfitriões na quinta (14).

Os “faraós”, como são conhecidos, foram recebidos pelo embaixador do Egito na Rússia e uma série de autoridades numa cerimônia fechada. O esquema de segurança foi reforçado, com cinco soldados fortemente armados do Exército russo e vários seguranças, em cinco vans e quatro carros de polícia que fizeram a escolta do ônibus da delegação. O Egito está em um hotel de luxo construído para o time, o The Local, e treinará no estádio Akhmat.

A presença do Egito em Grozni agitou a rotina da cidade e provocou algumas polêmicas. República integrante da Federação Russa, a Tchetchênia foi palco de duas sangrentas guerras de secessão contra Moscou nos anos 90, encerradas enfim com a ascensão do pai do atual presidente, Akhmat Kadirov. Ele acabou morto por rivais islâmicos em 2004, e desde 2007 o país é governado com mão de ferro pelo seu filho, Ramzan.

Seu regime é visto por entidades de direitos humanos como repressivo e abusivo, e o Egito foi criticado por ter aceitado o convite de ficar baseado na cidade. Segundo a Human Rights Watch, entidade referência na área, Kadirov está sendo recompensado indevidamente por uma política que inclui a perseguição de gays no país.

Por outro lado, a Tchetchênia é solo muçulmano, e o Kremlin tem usado Kadirov como contato em suas negociações com os países do Golfo Pérsico. O centro da cidade, destruído nas guerras civis, foi reconstruído com ajuda de países como os Emirados Árabes Unidos. O rumor na cidade é de que são os xeques do Golfo que estão pagando a conta da luxuosa hospedagem dos “faraós”, assim como vários outros investimentos.

Por sua vez, o presidente islamizou a sociedade com uma vertente mais moderada da religião, ligada ao ramo sufi. Com isso, mantém laços com outras nações islâmicas e afasta seus rivais separatistas que costumam esposar versões radicais do islamismo, como o wahhabismo saudita. 

 
Salah e companheiros da delegação do Egito chegaram a Grozni neste domingo (10)
Salah e companheiros da delegação do Egito chegaram a Grozni neste domingo (10) - Karim Jaafar/AFP

Além disso, o próprio Kadirov, que tem apenas 41 anos, é um fã inverterado de futebol. Em 2011, ele reuniu remanescentes do Brasil pentacampeão de 2002 para um jogo em Grozni no qual ele foi o capitão do time adversário —perdeu de 6 a 4, não sem antes converter dois pênaltis cedidos pelos visitantes, numa cena que emulou as falsas competições de que participava o ditador Idi Amin Dada na Uganda dos anos 1970.

Além disso, Kadirov renomeou o estádio local e o time da cidade para homenagear seu pai —Akhmat dá nome a tudo em Grozni, de ruas a ginásios do esporte nacional, a luta greco-romana. No FC Akhmat, que disputa a primeira divisão russa, jogam quatro brasileiros, que estão de férias como o resto do time. A arena em que o Egito substituiu o palco do assassinato do pai do presidente, em 2004, em um atentado a bomba. Ela foi inaugurada em 2011, triplicando a capacidade para 30 mil lugares, ou quase 10% da população da capital.

Com efeito, se em sedes da Copa como Moscou mal se nota o fato de que o campeonato começará em menos de uma semana, em Grozni a cidade toda está enfeitada com bandeiras do Egito, da Rússia e da Tchetchênia, além de banners do Mundial.

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