Saiba por que jogadores levam as mãos à cabeça após erros no campo

Psicologia tem uma explicação para gesto repetido por atletas na Copa

The New York Times

Em jogos de futebol, gols podem ser raros e demorar demais a acontecer, o que ajuda a explicar a natureza delirante da maioria das comemorações quando eles surgem.

Alguns jogadores arrancam as camisas, ou caem de joelhos e deslizam pelo gramado para demonstrar felicidade. É frequente que terminem embaixo de uma pilha de companheiros de time exultantes.

Não importa que o chute não tenha entrado por uma gafe de quem chutou ou por uma defesa espetacular do goleiro, a resposta dos jogadores que perderam a oportunidade continua quase idêntica.

"É exatamente a mesma realidade estatística", disse David Goldblatt, historiador do futebol britânico. "Você teve sua chance, a perdeu, o goleiro defendeu, não importa. O mecanismo pelo qual o jogador chega àquele ponto não é relevante".

Jones descreve a experiência do atacante, nos dois casos, como "choque".

"Quando a pessoa se assusta inesperadamente, suas mãos sobem à cabeça como que em um movimento de proteção", disse Dacher Keltner, professor de psicologia na Universidade da Califórnia em Berkeley. "O tipo mais antigo de intenção comportamental, nessa classe de comportamentos, é o de proteger a cabeça contra golpes".

Em 1996, Keltner publicou um estudo sobre as reações emocionais das pessoas a ruídos súbitos. Os participantes do estudo apresentaram reações próximas à dos jogadores de futebol ao perderem um gol.

"Quando a pessoa ouve um barulho alto, a correlação prática é de que algo pode atingi-la na cabeça, e assim ela se posiciona para defender a cabeça, que é vulnerável e crucial", disse Keltner. "Em qualquer tipo de ação como a perda de um gol certo, a fonte da dor psíquica produzirá esses movimentos de proteção à cabeça".

O gesto básico pode vir acompanhado de adições sutis. Os jogadores podem esconder o rosto com as mãos ou a camisa, outra demonstração típica de vergonha. Ou podem erguer o rosto para o céu, no que Goldblatt caracteriza como "um pedido de que o gol perdido seja interpretado como obra do destino, e não como erro do jogador".

"Quando as pessoas ficam atônitas, elas olham para cima", disse Keltner, que já teve diversas conversas com a comissão técnica do Golden State Warriors, falando de suas pesquisas sobre compaixão. Algo que ele observou nessa experiência foi que "os atletas sérios reconhecem as ações do acaso mais do que os torcedores". Olhar para o alto, ele disse, pode ser "o reconhecimento pelo jogador de algo que vai além da vontade humana".

Levar as mãos à cabeça é algo que os torcedores também fazem, nos mesmos momentos que os jogadores. Porque são observadores e não participantes, a motivação pode diferir.

Philip Furley, professor de psicologia do esporte na Universidade do Esporte da Alemanha, em Colônia, estudou o comportamento dos jogadores em cobranças de pênaltis, quando o gesto é comum.

Entre os espectadores, disse Furley, "o que se encontra frequentemente é uma espécie de contágio. Se a pessoa torce por um time e um jogador desse time demonstra algum tipo de comportamento, o comportamento não verbal pode contagiar os torcedores".

Lionel Messi leva as mãos à cabeça durante a derrota para a França
Lionel Messi leva as mãos à cabeça durante a derrota para a França - Dylan Martinez/Reuters

Não importa a causa, a previsibilidade quase absoluta do gesto se tornou seu traço mais característico. "É como os bordões que os humoristas usam", disse Goldblatt.

"As pessoas começam a rir antes que sejam ditos. Muitos humoristas contam com isso".

No caso, os jogadores de futebol e os torcedores não precisam trabalhar no gesto. Ele surge naturalmente.

Tradução de Paulo Migliacci

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