No Santos após dez anos, Cuca busca acertar contas com o passado

Treinador está na terceira passagem pelo clube e leva o time ao Mineirão neste domingo (23)

Alex Sabino
São Paulo

Cuca entra na sala de imprensa para falar com os jornalistas e começa a mexer em chuteira colocada sobre a mesa por um patrocinador. Em seguida a põe no lugar. Não é acaso. É um ritual. Passou a fazer isso no início de série invicta do Santos que já dura nove partidas. 

Cuca posa para foto após treino do Santos na última sexta-feira (21)
Cuca posa para foto após treino do Santos na última sexta-feira (21) - Rafael Hupsel/Folhapress

Conhecido como um dos personagens mais supersticiosos do futebol brasileiro, ele jura não ser uma cisma.

“Do que me colocam como supersticioso, sou só 10%. É tudo folclore, brincadeira. Eu não ligo”, afirma o treinador, caindo na gargalhada.

Pode ser divertido, mas quando assumiu o Santos, no final de julho, a situação não era nada engraçada. O time estava na zona de rebaixamento, com sérios problemas de rendimento em campo e mergulhado na crise política

Cuca mudou o Santos. A equipe hoje está em nono na tabela e não teme o rebaixamento. Pensa em classificação para a Libertadores de 2019. 

Ele sabe o momento em que a reação começou. Foi em 15 de agosto, na partida de volta das quartas de final da Copa do Brasil. Apontado como zebra, o Santos venceu o Cruzeiro por 2 a 1 e só foi eliminado nos pênaltis. 

Neste domingo (23), o time paulista volta ao estádio para enfrentar o mesmo rival, mas pelo Campeonato Brasileiro.

“Aquele jogo no Mineirão deu a confiança para o pessoal saber que a gente podia [crescer]”, constata.

Com superstição ou não, Cuca retornou à Vila Belmiro para acertar contas com o passado. É sua terceira passagem pelo clube. Como jogador, foi contratado em 1993 e não conseguiu ajudar a acabar com um jejum de títulos que na época já durava nove anos. Um problema crônico no púbis o atrapalhou.

Chegou como técnico em 2008 depois de ficar dois anos e meio no Botafogo. Durou apenas 40 dias.

“Eu estava no Botafogo na quarta e na quinta vim para o Santos. Não tinha como dar certo. Eu precisava de um tempo para descansar. Por isso que queria voltar para o Santos. Estava com muito tesão de trabalhar aqui. Foi um dos poucos lugares em que não consegui fazer um bom trabalho”, constata.

Nas últimas oito partidas, o time não sofreu gols. Ele afirma ter colocado Gabriel no banco para fazê-lo perceber que não era o responsável pela fase ruim em campo. O atacante em seguida engatou sequência que o tornou artilheiro do Brasileiro, com 12 gols. 

Entre as revanches que estão na sua mente, está a Libertadores. Cuca assistiu aos 90 minutos do empate entre Independiente e River Plate, na última quarta (19) pelas quartas de final pensando: “poderia ser a gente”.

A escalação irregular de Carlos Sánchez provocou uma mágoa dupla. Apesar de ter empatado dentro de campo em Buenos Aires, o Santos foi declarado perdedor nos tribunais. Cuca considerou um erro primário e disse que o Santos tinha muito a melhorar.

Soube ter irritado o presidente José Carlos Peres. O cartola procurou o colombiano Juan Carlos Osorio, que depois acertou com a seleção paraguaia. 

“Soube disso também [o contato com Osorio]. Claro que fico sentido. Eu poderia ter saído e deixado de concluir trabalho que queria muito vir aqui fazer. Não falei mal do presidente, mas naquele turbilhão de emoções, falei e falaria de novo. Tenho de agradecer aos caras da seleção do Paraguai que levaram Osorio, senão ele estava aqui”, conclui rindo, mais uma vez.

No processo de azeitar o time de 2018, Cuca já tem o olho em 2019. Afirma ter caderneta com cinco nomes “emergentes” para levar para  a Vila Belmiro, além de dois “jogadores importantíssimos para serem repatriados.”

Ele apenas não tem certeza se poderá continuar. Se o Santos não sabe sequer quem será o presidente no final do ano, que dirá o técnico.

Ao falar no assunto, cita o nome do mandatário José Carlos Peres, que pode sofrer impeachment neste mês, e de Orlando Rollo, o vice que assumiria o cargo. Nenhum dos dois levou a disputa (que o próprio Cuca chama de “guerra”) para dentro dos muros do Centro de Treinamento. 

“Já tenho tudo montadinho para o ano que vem, do que fazer, como fazer. Mas tenho de ver com quem vou fazer... Ou se eu vou estar aqui para fazer, não é?”, questiona.

Ainda irritado com a expressão Cucabol, apelido dado ao seu estilo de jogo no título brasileiro de 2016 pelo Palmeiras, baseado em jogadas aéreas, às vezes com cobranças de laterais (“Irrita muito. Me enche o saco”), Cuca quer continuar no Santos, mas tudo tem um limite.

O dele é interferência externa. Citar o assunto tão cedo soa como recado para quem quer que seja o presidente neste ou no próximo ano. O técnico quer seguir. Desde que seja nos seus termos.

“Se eu fosse dirigente, teria um treinador que casasse com a minha filosofia. Daria autonomia para ele executar o trabalho e cobrar o que precisasse. Espero que façam assim comigo e me deixem montar o time. Gosto de montar dentro do que imagino o time jogando. Raramente dá errado. Se tiver a condição de fazer isso, ano que vem será bom. Existem lugares em que há interferência e isso não combina com o meu trabalho. Espero que não tenha isso aqui”, resume quem ressuscitou o Santos no Brasileiro de 2018.

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