Reintegração de agência antidoping da Rússia gera revolta de organizações

Retorno definitivo dependerá de acesso total da Wada ao laboratório de Moscou

São Paulo | Reuters

A suspensão da Agência Antidoping da Rússia (Rusada) foi revogada pela Agência Mundial Antidoping (Wada) na quinta-feira (20), sob diversas condições, em uma decisão recebida com profundo desagrado por ativistas.

A Rusada foi suspensa em novembro de 2015 depois que um relatório independente da Wada, preparado pelo advogado canadense Richard McLaren, delineou provas de doping sistemático, com apoio do Estado, no atletismo russo.

As acusações, negadas por Moscou, levaram à exclusão quase completa dos representantes russos na Olimpíada de Inverno deste ano, na Coreia do Sul, e a Federação Russa de Atletismo foi suspensa da Associação Internacional de Federações de Atletismo (Iaaf).

A Wada havia declarado repetidamente que a suspensão da Rusada não seria revogada até que a organização satisfizesse diversos critérios importantes, entre os quais admitir as constatações do relatório McLaren e permitir acesso a amostras de urina armazenadas em seu laboratório em Moscou.

Na quinta-feira, em uma reunião do comitê executivo da Wada em Seychelles, os membros da organização aceitaram uma versão atenuada da primeira exigência —um reconhecimento parcial da versão do Comitê Olímpico Internacional (COI) para o relatório McLaren— e definiram um "cronograma claro" para a implementação da segunda.

"Hoje, a grande maioria do comitê executivo da Wada decidiu readmitir a Rusada como signatária do Código Mundial Antidoping, sujeita a condições severas", afirmou Craig Reedie, presidente da Wada, em comunicado.

Reedie acrescentou que a suspensão seria reimposta caso não seja concedido acesso ao laboratório de Moscou.

Yuri Ganus, o diretor geral da Rusada, afirmou à Reuters que mais trabalho era necessário para garantir a readmissão, mas disse que a decisão desta quinta-feira era um sinal positivo para o atletismo, os halterofilistas e os atletas paralímpicos russos, cujas federações continuam excluídas.

Oposição feroz

A decisão da Wada veio a despeito da oposição feroz de atletas e de outras organizações antidoping, depois que o comitê de revisão da entidade recomendou na semana passada a readmissão da agência russa.

"O processo todo fede, e a maneira pela qual foi conduzido foi extremamente dúbia", disse Travis Tygart, presidente da Agência Antidoping dos Estados Unidos à Reuters Television. Esta semana, Linda Helleland, vice-presidente da Wada, tinha dito que se oporia à proposta.

Organizações antidoping nacionais de todo o planeta, entre as quais as dos Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália, divulgaram um comunicado conjunto na quarta-feira apelando à Wada que não revogasse a suspensão da Rusada.

Grigory Rodchenkov, o antigo dirigente da Rusada que forneceu provas que fizeram muito para expor as dimensões do problema, disse que a a readmissão sob as condições atuais seria "uma catástrofe para os ideais do esporte olímpico, para a luta contra o doping e para a proteção dos atletas que competem limpamente".

O advogado dele, Jim Walden, descreveu a decisão desta quinta-feira como "a maior traição aos atletas limpos na história do movimento olímpico".

"Os Estados Unidos estão desperdiçando dinheiro ao continuar contribuindo para a Wada, que é obviamente impotente para enfrentar o doping patrocinado pelo Estado na Rússia", ele afirmou em declaração.

Inaki Gomez, que integrou a equipe olímpica canadense de marcha atlética, tuitou que a decisão "maculará a reputação da Wada e abalará a respeitabilidade do esporte".

O COI readmitiu a Rússia no final de fevereiro, mas a suspensão da Iaaf  continua em vigor, embora alguns atletas russos tenham sido autorizados a competir sem bandeira, depois de provarem que não usam doping.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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