O Manchester United demitiu seu treinador, José Mourinho, dois dias depois de uma derrota para o rival Liverpool que agravou o pior começo de temporada da história do clube na Premier League.

O clube confirmou a saída do treinador, que estava trabalhando em Old Trafford há dois anos e meio, em um breve comunicado postado em seu site na manhã de terça-feira. O United agradeceu ao treinador português por seu trabalho e lhe desejou "sucesso no futuro", ao anunciar que ele estava saindo do clube, três anos depois de ser demitido do Chelsea pela segunda vez.

Mourinho já trabalhou em alguns dos maiores clubes de futebol do planeta - além do Chelsea, ele treinou o Real Madrid, a Inter de Milão e o Porto - e expressou por muito tempo seu desejo de trabalhar no United.

Ele descreveu sua contratação, na metade de 2016, como "uma honra especial".

O United vem enfrentando dificuldade para encontrar um sucessor para Alex Ferguson, que se aposentou em 2013, e Ed Woodward, vice-presidente executivo do clube, se vangloriou, no momento da contratação de Mourinho, de que ele era "simplesmente o melhor treinador do mundo, hoje".

Em sua passagem pelo Manchester United, no entanto, Mourinho enfrentou problemas para confirmar essa reputação. Ainda que tenha conquistado dois títulos em sua primeira temporada - a Europa League a Carabao Cup -, e que na temporada seguinte tenha levado o clube ao segundo lugar da Premier League, o reinado do treinador foi turbulento.

Ele expressava constantemente sua insatisfação com a política de contratações do clube, apesar de investimentos de centenas de milhões de dólares em talentos, e seu relacionamento com os jogadores foi se tornando progressivamente mais amargo nos últimos 18 meses.

Paul Pogba, a contratação mais cara na história do futebol inglês, provou ser um problema especialmente complicado. Mourinho oscilou entre encorajar o meio-campista, que liderou a França na conquista da Copa do Mundo, na metade do ano, e criticá-lo publicamente. Ofereceu-lhe o posto de capitão do time e depois o tirou da posição de maneira muito ostensiva. Como Mourinho disse em um email aos dirigentes do United nesta temporada, nenhuma das abordagens que ele adotou parece ter dado resultado.

Mas Pogba não foi o único membro da equipe a perder a fé no treinador. Mourinho enfrentou dificuldades para se entender com jogadores como o zagueiro Luke Shaw e o atacante Anthony Martial, o que o colocou em conflito ainda mais escancarado com os dirigentes do clube, que veem os jogadores jovens do time como ativos valiosos do United.

Mourinho não tinha objeções à saída de Martial, mas, em um sinal das tensões entre o clube e o treinador, o United anunciou que o contrato do atleta havia sido estendido por mais um ano no mesmo dia em que anunciou a demissão de Mourinho.

Com a piora da atmosfera veio uma piora de resultados. O United chegou às oitavas de final da Champions League - enfrentará o Paris St. Germain, de Neymar e Kilian Mbappé -, mas por enquanto tem apenas 26 pontos na Premier League.

O clube vem sendo muito criticado por falta de criatividade e espírito ofensivo. Tem o mesmo número de vitórias do Bournemouth e saldo de gols pior que o do Everton.

A derrota no Anfield domingo deixou o time de Mourinho 19 pontos atrás do Liverpool, o líder da Premier League, e, o mais importante, 11 pontos abaixo da zona de classificação para a Champions League na próxima temporada.

Em anos recentes, o United esperou até que a classificação para a Champions League se tornasse matematicamente impossível antes de demitir um treinador que estivesse mostrando mau desempenho.

Desta vez, agiu enquanto ainda há esperança. O clube anunciou que indicaria um treinador interino para o restante da temporada, e que contrataria um substituto definitivo na metade do ano que vem. Já o futuro de Mourinho é bem mais incerto.

Em todo o tempo que morou em Manchester, Mourinho não alugou sequer uma casa. Morou sempre no The Lowry, o mais caro hotel da cidade. A conta a ser paga pelo United chegou a 530 mil libras. Cerca de R$ 2,6 milhões.