Garotas do Barcelona entram em liga masculina de futebol e a dominam

Outros clubes da Espanha também adotam a prática nas categorias de base

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Rory Smith
Madri | The New York Times

Não são apenas as camisetas, o azul profundo e o vermelho sangrento, que tornam os jogadores instantaneamente reconhecíveis como atletas das fabulosas categorias de base do Barcelona.

A forma de jogar também é prova das origens dos atletas, da maneira pela qual estão imbuídos do estilo do clube. Os resultados da atual temporada são nova demonstração: 30 jogos, 30 vitórias, e o implausível total de 329 gols marcados em uma liga formada basicamente por times locais da Catalunha.

Só existe um aspecto em que esse time pode ser considerado diferente dos demais times do Barcelona, repletos de jovens esperançosos que vestem a famosa camisa do clube e sonham seguir os passos de Xavi Hernández, Gerard Piqué, Andrés Iniesta e todos os outros. A diferença é que o elenco do time em questão é formado por meninas, e elas jogam, e dominam, em uma liga masculina.

Nesta temporada, o Barcelona pela primeira vez inscreveu suas equipes sub-12 e sub-14 de futebol feminino em ligas masculinas locais. Não foi o primeiro clube espanhol a fazê-lo. A mesma atitude foi adotada nas categorias juvenis do Atlético de Madrid, há algum tempo, e o Athletic Bilbao recentemente encampou a ideia.

Mas o Barcelona se impressionou tanto com os resultados que, a partir da próxima temporada, fará o mesmo com sua equipe feminina sub-10. A motivação, claro, é a de melhorar as jogadoras. O clube acredita que expô-las a ambientes diferentes vai acelerar seu progresso.

"Quando essas meninas jogam em ligas masculinas, elas são mais pressionadas em seus jogos", disse Maria Teixidor, a conselheira do Barcelona responsável pelo futebol feminino, entre muitas outras coisas. "Isso realmente as faz jogar melhor".

Os resultados desta temporada, aliás, parecem indicar que o desafio foi fácil demais para as meninas. O Barcelona foi campeão na liga sub-12 —conhecida como Alevi na Catalunha— por 14 pontos de vantagem, vencendo todas as suas partidas. Celia Segura, a melhor atacante do time, marcou 121 gols, mais que o dobro do total do vice-artilheiro.

O sucesso talvez pudesse causar ressentimento entre os oponentes vencidos, mas Teixidor insiste em que não é esse o caso.

As regras espanholas de futebol estipulam que, antes dos 16 anos de idade, meninos e meninas podem jogar juntos e, mesmo acima desse limite de idade, os clubes podem ao menos realizar treinos conjuntos entre os meninos e as meninas de suas equipes. Nenhum clube objetou à ideia. E a reação dos meninos derrotados não foi hostil.

Jogo das garotas do Athletic Bilbao contra uma equipe de meninos na Espanha
Jogo das garotas do Athletic Bilbao contra uma equipe de meninos na Espanha - Edu Bayer/The New York Times

"O efeito foi outro", disse Teixidor. "Para os meninos, isso ajuda a normalizar a ideia de mulheres como jogadoras de futebol de nível semelhante ao deles. Para as meninas, isso traz empoderamento, mostrando que não existe motivo para que não compitam em igualdade de condições".

As meninas do Barcelona nem sempre receberam o mesmo apoio que os meninos, em sua busca de levar adiante uma paixão. Uma delas recorda ter sido informada de que não podia jogar com meninos na escola, e de um professor ter dito que o futebol não era um passatempo adequado para uma garota.

Como o Atlético de Madri e o Athletic Bilbao, o Barcelona está investindo mais no futebol feminino, tentando aplicar ao desenvolvimento das jogadoras os mesmos métodos que lhe propiciaram tanto sucesso nos times masculinos. Dar oportunidade para que as meninas enfrentem meninos é só um aspecto disso. O costume de marcar os treinos femininos para bem tarde, para que não interrompessem o treinamento masculino, é outra coisa que ficou para trás.

"Isso é parte do apelo mundial das mulheres por igualdade de condições em todos os aspectos das vida", disse Teixidor. "É nossa responsabilidade como clube e instituição social adicionar o que pudermos a isso. E está funcionando. Não é exatamente uma surpresa que, quando você dá às mulheres as mesmas condições que dá aos homens, elas se saem melhor".

Tradução de Paulo Migliacci

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