Ex-assessor de Haddad confirma ter recebido denúncia de propina contra deputado, mas sem provas

José Francisco Manssur prestou depoimento à CPI das Apostas Esportivas; empresário que denunciou diz que vai esclarecer caso na comissão

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Brasília

Ex-assessor especial do Ministério da Fazenda, José Francisco Manssur afirmou à CPI das Apostas Esportivas do Senado nesta terça-feira (2) que um presidente de associação de jogos relatou receber pedidos de propina do deputado Felipe Carreras (PSB-PE).

A denúncia teria sido feita pelo então presidente da Associação Nacional de Jogos e Loterias, Wesley Cardia, no segundo semestre de 2023.

Manssur disse, porém, que Cardia nunca apresentou provas do pedido de propina. O ex-assessor também afirmou que o empresário estava "sob efeito de medicamentos" e que seu relato é duvidoso.

Dois homens estão sentados em uma mesa durante uma reunião formal. O homem à direita está falando ao microfone e usa um terno cinza, camisa branca e gravata lilás. Ele tem barba e cabelo grisalho. O homem à esquerda usa um terno escuro, camisa azul clara e gravata listrada. Ambos têm copos de água à sua frente e há papéis sobre a mesa.
José Francisco Manssur foi assessor especial do Ministério da Fazenda, com foco na regulamentação das apostas esportivas - Roque de Sá/Agência Senado

"A pessoa que estava em minha frente reiterou que estava tomando muitos remédios. Não falou horário, local, onde e como isso teria acontecido [...]. Não digo aqui que ele disse mentira ou verdade", disse Manssur na CPI das Apostas Esportivas.

"Considero sim a testemunha, o que ele relatou aquele dia, passível de dúvida", afirmou.

Wesley Cardia disse à Folha que vai "atender o convite da CPI" e responderá sobre o caso "diretamente à comissão". O deputado Felipe Carreras chamou o suposto pedido de propina de "insinuação mentirosa, negada pelo próprio presidente da associação" e disse que somente se encontrou com Cardia em reuniões institucionais, com presença de outros parlamentares.

"Me pergunto a quem interessa essas insinuações fantasiosas, mentirosas e covardes. É uma história de péssimo gosto, mal contada, sem pé e nem cabeça. O autor intelectual dessa fantasia fez um roteiro bizarro. É digna de repúdio uma mente maligna que desenha uma história desqualificada como essa", concluiu.

O caso do suposto pedido de propina foi revelado pela revista Veja em setembro do ano passado. A reportagem dizia que Carreras teria pedido R$ 35 milhões em propina em troca de ajuda e proteção na CPI das Apostas Esportivas da Câmara.

Carreras era relator da investigação.

Manssur disse aos senadores que realmente foi procurado por Cardia. "Eu disse para não pagar absolutamente nada a ninguém. Disse: ‘Procure as autoridades e relate a elas’", afirmou.

O então presidente da associação de jogos estava inquieto, segundo Manssur, e havia tomado remédios para tentar se acalmar. O pedido da propina teria sido feito naquele mesmo dia. O ex-assessor disse que o encontro ocorreu em agosto ou setembro de 2023.

Manssur conta que repassou o caso à Ouvidoria e ao gabinete do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

"É importante que se diga: em nenhum momento o deputado disse nada a mim. Foi relatado por esse cidadão que havia recebido esse tipo de coação por parte do deputado. Nunca soube pelo deputado nem nada que não fosse a palavra do Wesley Cardia", afirmou Manssur.

Os senadores que integram a CPI reagiram de formas diversas à confirmação da denúncia, sem provas, de pedido de propina.

O presidente da comissão, senador Jorge Kajuru (PSB-GO), disse que o fato de a revelação da Veja não ter gerado novas investigações ou reportagens levanta dúvidas sobre a credibilidade da denúncia de Cardia.

"Nós estamos em julho e, de lá para cá, não teve mais nenhuma matéria, ela não deu sequência à investigação. Então fica uma pergunta: por quê?", disse Kajuru.

O senador Carlos Portinho (PL-RJ) disse que o ministro Fernando Haddad deveria ter levado o caso para investigação policial.

"O fato é o seguinte: ninguém fez nada e, no dia seguinte, a CPI da Câmara foi enterrada [...]. Alguém se beneficiou com o término daquele procedimento na Câmara, e foi muito esquisito aquilo", afirmou.

José Francisco Manssur deixou o Ministério da Fazenda em fevereiro. Houve especulação de que sua saída teria sido causada por uma pressão do centrão, que queria que o Ministério do Esporte, comandando por André Fufuca (PP), assumisse a responsabilidade sobre a regulamentação das apostas esportivas.

O ex-assessor negou que tenha saído do governo Lula (PT) por pressão política. "Eu pedi para ser exonerado. Eu conversei com o ministro da Fazenda sobre as dificuldades para continuar vivendo em Brasília e realizando o trabalho", disse.

Felipe Carreras era líder do PSB na Câmara em 2023. Suas pautas principais são relacionadas ao setor de eventos e de jogos de azar.

Ele foi relator do projeto de lei que legaliza jogos de azar no país, como cassinos e jogo do bicho. Foi também um requerimento dele que abriu a CPI das Apostas Esportivas na Câmara.

A permanência de Carreras na relatoria da CPI foi questionada em dois momentos. Em agosto do último ano, parlamentares pediram a saída do relator após a Folha revelar que a empresa de Carreras era patrocinada por sites de apostas alvos da investigação.

A publicação da reportagem da revista Veja sobre o suposto pedido de propina, em setembro, enfraqueceu ainda mais Carreras à frente da CPI das Apostas Esportivas.

A comissão parlamentar de inquérito finalizou os trabalhos sem votar o relatório de Carreras. Não houve indiciamentos.

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