Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Paciente, Éverson rodou e esperou para virar titular do Santos

Criado desde os 13 anos nas categorias de base do São Paulo, goleiro já jogou em times da Série C

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Santos

Éverson Felipe Marques Pires, 28, tinha apenas sete anos quando virou companheiro inseparável do pai, Paulo Ferreira Pires, pelos campos de várzea na cidade de Pindamonhangaba (a 140 km da capital).

Nas andanças, orgulhava-se de buscar as bolas chutadas nos matagais dos campos sem alambrados e já carregava uma certeza: viraria goleiro como o pai um dia.

“Isso [de ser goleiro] está dentro de mim. Penso nisso desde que me entendo por gente”, disse à Folha.

Escolhido pelo técnico argentino Jorge Sampaoli como titular nas últimas quatro partidas do Santos antes da paralisação para a Copa América, entre 14 de junho e 7 de julho, o goleiro venceu, ao menos momentaneamente, a concorrência com Vanderlei, dono da posição no clube desde 2015.

Éverson, goleiro do Santos - Divulgação

“Sinceramente, ainda não me considero titular porque o Sampaoli roda muito toda a equipe. Não vim aqui para tirar o espaço de ninguém, mas meu objetivo é jogar, claro. Falar que fico feliz na reserva seria uma tremenda hipocrisia”, explicou.

Os números, pelo menos, estão ao lado dele: seis gols sofridos em 12 partidas, até então, média de um gol a cada dois jogos. Vanderlei, por sua vez, acabou vazado 24 vezes nos 24 jogos em que atuou, média inferior a do concorrente, de um gol por partida.

Éverson esperou quase 20 dias até a estreia pelo Santos e mais alguns meses para alcançar a sonhada titularidade. Pouco, porém, para quem precisou de ainda mais paciência para seguir na carreira.

Criado desde os 13 anos nas categorias de base do São Paulo, o goleiro passou boa parte do processo de formação no Morumbi como reserva. Antes de se tornar profissional, esteve em duas edições da Copa São Paulo, em 2007 e 2008, mas assistiu a ambas somente do banco de reservas.

“Na hora em que, enfim, ia jogar a Copa São Paulo como titular o clube resolveu descer o Léo [outro goleiro, que já treinava entre os profissionais] para a competição”, contou. 

Chegou a treinar alguns meses no profissional ao lado de Rogério Ceni, Bosco e Dênis. Pouco depois, sem ser aproveitado e em fim de contrato, rumou para o Guaratinguetá, clube hoje licenciado de competições oficiais, para jogar com regularidade.

No novo time, mais uma vez, viu o sonho naufragar. Foram quatro anos assistindo a titularidade de Jaílson, hoje no Palmeiras. Sem perspectivas, uma ligação do ex-atacante Evair, que iniciava um trabalho como técnico no River-PI, mudou o rumo da carreira que parecia estagnada. Já com 25 anos e com poucos minutos em campo desde a profissionalização, não pensou duas vezes.

“Foi a única oportunidade que apareceu, então topei”, contou.

Em 2013, no Piauí, vieram as maiores dificuldades. Com dois filhos, um salário modesto e pouca estrutura no novo clube, pensou em voltar para casa e desistir do sonho. 

“Comi bastante capim, viu. Ficávamos em um hotel de beira de estrada, ganhava pouco e me alimentava muito mal. Só pensava em voltar para casa. Minha esposa falou: ‘Éverson, fica aí, você tem dois filhos e só sabe jogar bola’”, lembrou.

A promessa de, enfim, virar titular se cumpriu com Evair. Mesmo após a saída do treinador, foi mantido e conduziu o River ao título após sete anos de espera. Na sequência, recebeu um convite para ir para o Confiança-SE.

Além da titularidade e do acesso para a Série C, a passagem pelo clube de Sergipe serviu para chegar ao Ceará, a primeira grande vitrine após os anos de São Paulo.

O terceiro clube no Nordeste e o técnico Lisca mudaram por completo a carreira do jogador. Éverson chegou como reserva de Luís Carlos e com o clube na última colocação da Série B do Campeonato Brasileiro.

Lisca bancou a escalação da então desconhecida contratação como novo titular e transformou o goleiro no herói de uma improvável arrancada que manteve a equipe na Série B. No jogo decisivo, contra o Macaé, uma defesa plástica nos acréscimos o fez virar ídolo da noite para o dia da torcida.

“Foi a defesa de minha vida. Olhei para trás e vi o Castelão pulando como se fosse um gol. As pessoas passaram a me idolatrar."
 

O técnico do Santos, Jorge Sampaoli - Divulgação

No Ceará, tudo foi muito além. Conquistou anos de sequência como titular, dois títulos estaduais, mais um acesso, desta vez para a Série A do Brasileiro, e terminou a passagem marcando o primeiro gol de falta da carreira, diante do Corinthians, em 5 de setembro pela 23ª rodada.

“Foi o meu segundo gol como profissional, o primeiro tinha sido de pênalti. O Zé Sérgio [na base do São Paulo] me incentivou e sempre olhei o Rogério Ceni, meu principal ídolo. No vestiário, o Lisca perguntou quem se habilitava para bater faltas na partida e só eu levantei a mão. Ele falou: 'já me chamam de doido, alguém apoia isso?'. Todos levantaram a mão”, afirmou o jogador que, na Vila Belmiro, ainda não recebeu o aval de Sampaoli para voltar a bater faltas.

"Isso vai de treinador para treinador. Respeito a hierarquia, por enquanto estou quietinho", disse.

A chegada ao Santos foi a consolidação de tudo após anos difíceis. Lisca virou amigo e conselheiro. “Essa proposta é a sua vida. Vai”, disse o técnico ao jogador.

Após tantas vitórias pessoais, Éverson, agora, tenta na Vila Belmiro mais um grande salto na carreira. Comprado por R$ 4 milhões e com contrato até o fim de 2022 ele só quer continuar alimentando o sonho de criança.

 
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