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Fora da elite do tênis, Brasil Open tenta reinvenção mais modesta

Após 19 anos, torneio deixa calendário ATP em 2020 e deverá ocorrer em novembro

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São Paulo

Pela primeira vez em 20 anos, a próxima temporada do circuito mundial de tênis não terá o Brasil Open no principal calendário da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais).

A saída do torneio, criado em 2001 na Costa do Sauípe (BA) e desde 2012 realizado em São Paulo, foi confirmada no último fim de semana pela entidade.

Nesta quinta-feira (21), Luis Felipe Tavares, diretor da competição e dono da sua promotora, a Koch Tavares, afirmou que o projeto é criar um novo evento, na semana do dia 23 de novembro do ano que vem.

De acordo com ele, a data já está confirmada pela ATP e o torneio, no ginásio do Ibirapuera (SP), será de nível challenger, que segue um calendário paralelo em relação aos maiores campeonatos —estes são classificados conforme a pontuação distribuída no ranking: 250, 500 e Masters 1.000.

Vista da arquibancada da edição de 2019 do Brasil Open no ginásio do Ibirapuera
Edição de 2019 do Brasil Open no ginásio do Ibirapuera - Marcello Zambrana - 2.mar.19/DGW Comunicação

Procurada, a entidade não se manifestou sobre a confirmação da nova data até a publicação desta reportagem.

Estão incluídos no pacote do novo Brasil Open, além do challenger de novembro, com premiação de US$ 162 mil, outros dois campeonatos prévios desse mesmo patamar e com premiações menores no primeiro semestre, em Olímpia (SP) e Florianópolis (SC). A edição deste ano do Brasil Open pagou US$ 550 mil.

As mudanças de data e formato (até então o evento era um 250) se deram porque a empresa Octagon, dona dos direitos da sua realização junto à ATP, optou por levar a competição para Santiago a partir de 2020.

"A empresa não é de filantropia, busca dinheiro e encontrou melhores condições no Chile, que tem tradição no tênis e vive um momento diferente do Brasil, apesar de tudo que está acontecendo [protestos contra a desigualdade] lá agora", afirmou Tavares à Folha.

Guga dá autógrafos durante a edição de 2004 do Brasil Open
Guga dá autógrafos durante a edição de 2004 do Brasil Open - Paulo Whitaker - 29.fev.04/Reuters

Torneio mais tradicional do país e que já viveu anos de pompa com as participações de nomes como Gustavo Kuerten e Rafael Nadal, recentemente o Brasil Open passou a ter dificuldades para fechar a conta da sua realização.

O evento é o único de nível 250 na temporada que concorre com dois 500 na mesma semana, no caso os campeonatos de Acapulco e Dubai, que oferecem premiações bem maiores e atraem as grandes estrelas do esporte.

Pesa contra a gira sul-americana de fevereiro (da qual também fazem parte o Rio Open e dois eventos na Argentina) ser disputada no saibro, piso com cada vez menos especialistas entre os melhores do mundo.

"Essa data é completamente infeliz", resume o empresário. O pleito de mudar o período e a superfície para uma mais rápida une todos os diretores de torneios disputados nesse período, mas esbarra na falta de peso político do grupo nas decisões da ATP.

Ele admite que a concorrência interna com o Rio Open, único 500 dessa gira e criado em 2014, atrapalha na busca por patrocínios. Neste ano, após impasses em reuniões da Secretaria Especial do Esporte do governo federal, a autorização para captar verbas de empresas por meio da lei de incentivo ao esporte só saiu com a competição em andamento.

Relatos de atrasos de fornecedores são comuns, e a Koch Tavares está inscrita na Dívida Ativa da União no valor de R$ 16 milhões, segundo extrato ao qual a Folha teve acesso nesta quinta.

"Conseguimos o milagre de vir até agora. Todas as empresas estão endividadas, qual o problema? Vamos enfrentar. Atrapalha [a realização do torneio], se você não tiver dinheiro você não faz. Neste ano nós fizemos com correria, não é o cenário ideal, mas agora que estamos atrelados a uma nova data vamos buscar isso", afirmou Tavares.

Apesar das diferenças de tamanho da nova competição, o promotor não abre mão de dizer que se trata de uma continuidade: "O Brasil Open continua sendo o Brasil Open porque é uma marca registrada de propriedade da Koch Tavares, que idealizou, correu o risco e entregou durante os últimos 19 anos".

Ele defende que o torneio reformulado estará mais ajustado à realidade do tênis brasileiro atual, com apenas um atleta entre os cem primeiros do ranking, e pode se tornar melhor para os jogadores da casa do que o existente nos últimos anos.

"Vamos elaborar em conjunto com a ATP uma situação que vá beneficiar o Brasil Open. A sugestão de trazer o evento para São Paulo foi deles, então eles têm interesse", disse.

Segundo o empresário, o mesmo projeto para captação via lei de incentivo previsto para a antiga data está mantido e começará a a ser executado a partir de agora.

"Se os patrocinadores apoiarem, você vai ter o dinheiro e continuará contratando os jogadores para virem. Como que o Nadal veio jogar aqui? Por que eu estava com um topete melhor? Não, porque a gente pagou para ele vir jogar", afirmou.

Sobre o fato de a temporada já ter praticamente acabado no fim de novembro e os tenistas precisarem abdicar das suas curtas férias para comparecer ao novo Brasil Open, ele se declara confiante: "Tudo bem, faz parte do risco, vamos tentar explorar as vantagens de estar nessa data".

Colaborou Carlos Petrocilo

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