Brasil fica com título mundial de surfe pela 4ª vez em 6 anos

Campeão inédito, Italo Ferreira amplia domínio recente da "Brazilian Storm"

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São Paulo

O campeão mundial de surfe é novamente brasileiro. Em uma disputa que só foi definida na última bateria da última etapa da Liga Mundial da modalidade (WSL), Italo Ferreira, 25, superou o compatriota Gabriel Medina, 25, ampliando o domínio recente do Brasil na modalidade.

O potiguar fez a festa em Pipeline, no Havaí, celebrando mais uma conquista da “Brazilian Storm”, nome dado à onda verde-amarela no esporte. A “Tempestade Brasileira”, como pode ser traduzido o apelido da geração, passa a ter quatro dos últimos seis títulos do circuito masculino.

Medina foi coroado em 2014 e em 2018. Em 2015, o campeão mundial foi Adriano de Souza, o Mineirinho, mais experiente dos brasileiros na elite, hoje com 32 anos. Agora, foi a vez de Ferreira.

Mesmo se o recorte é ampliado para as últimas dez temporadas, ninguém supera o Brasil. Há dois títulos para os Estados Unidos (Kelly Slater, em 2010 e 2011), dois para a Austrália (Joel Parkinson, em 2012, e Mick Fanning, em 2013) e dois para o Havaí (John John Florence, em 2016 e 2017), que na Liga Mundial de Surfe tem bandeira própria.

 

Desde 2018, os brasileiros são maioria no circuito. Em 2019, dos 34 surfistas fixos da elite, 11 eram do Brasil. A Austrália aparecia em segundo lugar, com oito representantes. Havaí e Estados Unidos, com quatro surfistas cada um, não chegariam ao número brasileiro nem se todos competissem sob a mesma bandeira.

O cenário não será muito diferente em 2020. Seis brasileiros ficaram abaixo da linha de rebaixamento da primeira divisão, mas cinco se colocaram na zona de acesso do WQS, a segunda divisão.

Mineirinho, mal colocado por ter perdido várias etapas por lesão, tem boa chance de ficar com uma das duas vagas na elite reservadas justamente a atletas mal ranqueados por contusão. Ou seja, não há sinais de arrefecimento da “Brazilian Storm”.

A juventude dos principais brasileiros do esporte também deixa aberta a possibilidade de um sucesso duradouro. Italo e Medina, que ficaram até o fim na disputa pelo título, têm 25 anos. Filipe Toledo, que também chegou a Pipeline com chances, tem 24. O promissor Yago Dora tem 23.

Na próxima temporada, além do quinto título mundial, o Brasil tentará estender seu domínio à Olimpíada. Os Jogos de Tóquio serão os primeiros que incluirão o surfe no programa, com a disputa agendada para a praia de Tsurigasaki, em Chiba, a cerca de 60 quilômetros da capital.

Os representantes do país na competição foram definidos pelo ranking da temporada 2019. Assim, Italo e Medina carregarão a bandeira brasileira no Japão.

No Havaí, na etapa que fechou o ano, eles mantiveram o alto nível apresentado nos meses anteriores. Na jornada decisiva, com o mar em condições difíceis que foram melhorando ao longo do dia, aqueles que seriam campeão e vice foram despachando seus oponentes até a decisão.

Ferreira trilhou um caminho mais tranquilo. Ele passou pelos compatriotas Peterson Crisanto (11,84 a 4,23) e Yago Dora (15,66 a 13,50), antes de se impor sobre o multicampeão norte-americano Kelly Slater (14,77 a 2,57).

O potiguar Italo Ferreira, em uma de suas manobras na etapa decisiva - Ed Sloane/WSL

Já Gabriel precisou usar uma artimanha rara para sobreviver às oitavas de final. No fim de sua bateria contra o brasileiro Caio Ibelli, o paulista de Maresias cometeu deliberadamente uma interferência, atrapalhando o rival na última chance de virar o jogo.

Ele sabia que a punição seria a perda de sua segunda melhor nota, mas a primeira (4,23) seria suficiente para superar as duas do adversário (0,50 e 0,63). Então, mesmo sem a intenção de surfar a onda que surgiu, ele entrou na frente de Ibelli, fechando a bateria em 4,23 a 1,13.

“Eu apenas joguei o jogo, sabia que seria interferência. Faltavam só 20 segundos. Você tem que jogar o jogo. O pessoal estava: ‘O que ele fez?’. E eu pensava: ‘Ok, está tudo certo”, afirmou Medina.

O derrotado na manobra não ficou satisfeito. “Mostra que tipo de competidor ele é. Se tiver que jogar sujo, vai jogar sujo.”

Na sequência da etapa, Medina superou o havaiano John John Florence, campeão de 2016 e 2017, em uma disputa de alto nível (17,63 a 13,50). Na semifinal, o adversário foi o norte-americano Griffin Colapinto, que ameaçou até o fim, mas acabou sucumbindo (13,00 a 7,10).

Desenhou-se, então, um final incrível para a temporada, com dois brasileiros disputando o troféu da prestigiada etapa de Pipeline e o título mundial. O vencedor, no um contra um, levaria tudo.

Italo saiu na frente, conseguindo imediatamente uma onda de nota 7,83. Medina se colocou em seguida na disputa, com um 7,77. Ferreira se manteve à frente ao longo de toda a bateria e aliou um tubo com uma manobra aérea para levar o título, com 15,56 (7,83 + 7,73), contra 12,94 (7,77 + 5,17) do vice-campeão, que cometeu erros cruciais na decisão.

O potiguar terminou o campeonato com 59.740 pontos, contra 56.475 de Gabriel Medina. O sul-africano Jordy Smith (49.985), o brasileiro Filipe Toledo (49.145) e o norte-americano Kolohe Andino (46.655) completaram a lista dos cinco primeiros colocados.

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