Dupla homenagem faz de Aimar Riquelme atração em time da Copinha

Atleta do Trem-AP é um dos 12 com o nome do ídolo do Boca Juniors no torneio

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Bruno Rodrigues Jasmin Endo Tran
São Paulo

Homenagear filhos com nomes de ídolos do futebol não é um fenômeno novo. Há no Brasil, por exemplo, o amazonense Tospericagerja, nomeado assim pelo pai como forma de homenagear a seleção brasileira de 1970, com sílabas do sexteto Tostão, Pelé, Rivellino, Carlos Alberto, Gérson e Jairzinho.

A Copa São Paulo de Futebol Júnior, com seus registros e apelidos curiosos, traz na edição de 2020 uma particularidade: existem 12 jogadores, com variações de grafia, que homenageiam o ex-jogador argentino Juan Román Riquelme. Um deles, Rikelmi, do Juventus, marcou dois gols na competição, contra Grêmio e União Mogi-SP. O time foi eliminado na primeira fase. Riquelme, do Atlético-GO, fez três contra o Assisense nesta quinta (9) e classificou sua equipe para a próxima fase,

Entre os tantos homônimos do ex-meio-campista, há um garoto que se destaca por celebrar em seu nome não só o ídolo do Boca Juniors (ARG), mas também outro grande craque do futebol do país, o ex-meia Pablo Aimar, atleta histórico do River Plate (ARG).

Aimar Riquelme dos Santos Pádua, 18, joga no Trem, do Amapá, e disputa sua primeira Copinha. A estreia poderia ter acontecido no ano passado, mas um problema de documentação impediu sua viagem para o estado de São Paulo junto com a delegação amapaense.

 

A ideia do nome composto veio de seu pai, Alex de Barros, fã da seleção argentina e principalmente de Riquelme. A mãe, Leandra, mostrou resistência no início, mas acabou cedendo.

"Quando eu nasci, em 2001, o Aimar e o Riquelme estavam no auge das carreiras deles, e meu pai, por ser muito fã, resolveu colocar o nome. Mas a história, na verdade, foi porque o Riquelme foi carrasco do Palmeiras, e meu pai é corintiano", diz o garoto à Folha, que prefere ser chamado apenas de Riquelme.

"É mais o meu pai e a minha mãe que me chamam de Aimar, às vezes quando estão meio bravos comigo", explica.

O atleta ainda não era nascido quando Riquelme, pelo Boca, teve atuação de gala na semifinal da Copa Libertadores de 2000 e eliminou o Palmeiras no antigo Palestra Itália. No fim daquele ano, teve outra grande exibição na final do Mundial, diante do Real Madrid (ESP), e ajudou os argentinos a conquistarem o título sobre os espanhóis.

Em 2012, ano em que o Corinthians conquistou a Libertadores justamente sobre o Boca Juniors de Riquelme, ele conta que seu pai ficou dividido entre a glória corintiana e a derrota do ídolo. "Mas o coração é mais corintiano", afirma.

Aimar Riquelme é um dos 12 "Riquelmes" que disputam a Copa São Paulo
Aimar Riquelme é um dos 12 "Riquelmes" que disputam a Copa São Paulo - Zanone Fraissat/Folhapress

Alex não foi o único inspirado pelo sucesso do ex-camisa 10 na hora de nomear o filho. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), na década de 1990, quando Juan Román Riquelme começou sua trajetória no futebol, 202 pessoas foram registradas como Riquelme ou com grafia similar no Brasil.

De 2000 a 2010, o número de homônimos do argentino nascidos no país saltou para 14.037. No Maranhão, que tem a maior taxa percentual de "Riquelmes" por estado, a cada 100 mil pessoas, 21 têm o nome do ex-jogador.

As homenagens não ficam restritas aos homens. Há mulheres, pouco mais de 200 em todo o país de acordo com o IBGE, com o nome do craque. O estado de Minas Gerais lidera, com 57 registros.

No incêndio que vitimou oito jovens das categorias de base do Flamengo, em fevereiro de 2019, um dos atletas flamenguistas se chamava Rykelmo. Nascido em Limeira, em 2002, tinha 16 anos e era meio-campista.

"Antigamente eu achava que não tinha tantos Riquelmes, hoje já se vê mais. Acho bem legal", diz o atleta do Trem.

Os 'Riquelmes' da Copa São Paulo

  1. Riquelmo - Cruzeiro

  2. Riquelmy - Cruzeiro

  3. Riquelme de Sousa - Fortaleza

  4. Rikelmi - Juventus

  5. Riquelmy Oliveira - São Caetano

  6. Rikelme - Suzano

  7. Riquelme Carvalho - Vasco

  8. Riquelme Sousa Silva - Atlético-GO

  9. Rickelme - Mauá

  10. Aimar Riquelme - Trem-AP

  11. Adrian Riquelme - RB Brasil

  12. Riquelme Ramalho - Nova Iguaçu

Diferentemente dos ídolos de seu pai, Aimar Riquelme não é meia, mas sim lateral direito. Está na reserva no time do técnico Sandro Frazão, ex-jogador com passagens por Remo e Mogi Mirim.

Apesar de não figurar entre os destaques da equipe, é ele quem atrai todas as atenções no treinamento do Trem, em São Bernardo, no ABC Paulista.

No dia em que a Folha foi ao local, uma outra equipe de reportagem também entrevistou o jogador. Inclusive, para que a imprensa pudesse ter acesso ao treino, o clube precisou mudar o local da atividade, pois o gramado onde treinariam originalmente pertence a uma empresa privada de Diadema, que não autorizou a entrada de jornalistas.

O esforço foi feito para garantir visibilidade ao atleta e ao próprio clube, que perdeu a oportunidade de ter um jogo exibido para todo o Brasil. Isso porque seu adversário na segunda rodada da fase de grupos seria o Flamengo, mas os rubro-negros anunciaram às vésperas da Copa São Paulo que não disputariam o torneio. O confronto com os cariocas teria transmissão do SporTV.

Riquelme treina em São Bernardo do Campo antes de enfrentar o Vitória da Conquista-BA
Riquelme treina em São Bernardo do Campo antes de enfrentar o Vitória da Conquista-BA - Zanone Fraissat/Folhapress

"O Riquelme é a estrela, rapaz! Agora vai ter que colocar para jogar", brinca Eider Frazão, o preparador de goleiros, enquanto as câmeras focam o lateral.

Sandro, que é irmão de Eider, diz que talvez dê uma oportunidade ao jovem no decorrer da partida desta sexta-feira (10), contra o Vitória da Conquista-BA. Um empate classifica a equipe do Amapá para o mata-mata da Copinha.

Admirador de Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, Aimar Riquelme sonha em fazer carreira na Europa. Além da projeção pessoal, quer também dar uma vida melhor aos seus pais.

"No começo, quem mais me apoiou foi meu pai. Antes de chegar ao Trem, eu treinava sozinho com ele. Minha mãe também está sempre apoiando. Eu pensei em desistir algumas vezes, mas eles nunca deixaram. Eles me mantêm firme, com total apoio para seguir minha carreira."

Questionado sobre a possibilidade de dar a um filho o nome de algum jogador de futebol, talvez Cristiano ou Messi, seus grandes ídolos, o lateral direito respondeu: "Hoje, eu penso em dar o meu nome, Aimar Riquelme, mas talvez só Juan Riquelme ou Román Riquelme".

Colaborou Carlos Petrocilo, de São Paulo

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