Palmeirense Viña precisou de paciência antes de brilhar no Uruguai

Lateral foi o melhor do campeonato em 2019 depois de jogar só 4 minutos em 2018

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São Paulo

Técnico do Nacional (URU) em 2014, Alvaro Gutiérrez foi assistir a um treino dos aspirantes e gostou muito de um lateral esquerdo que fazia testes no clube. Tanto que pediu ao coordenador das categorias de base, Sebastián Taramasco, que o contratasse.

O atleta em questão era Matías Viña, 22, que chegou há algumas semanas ao Palmeiras e estreou, como titular, na vitória por 3 a 1 contra o Mirassol. Também atuou nesta quinta (20), diante do Guarani.

Demorou cinco anos para que ele e Gutiérrez trabalhassem juntos, mas a espera valeu para ambos. De volta ao comando do Nacional em 2019, o técnico potencializou as qualidades do atleta, que terminou o ano como melhor jogador do Campeonato Uruguaio, vencido sobre o rival Peñarol.

Para ganhar a tão esperada oportunidade, o lateral precisou mostrar resiliência. Em 2018, depois de já ter conquistado um Sul-Americano pela seleção sub-20 e ser considerado um dos melhores jovens talentos do país, disputou apenas 4 minutos em todo o ano pelo clube, além de ser frequentemente relegado ao time juvenil.

"Foi difícil para ele, porque sentia que deveria ter sua oportunidade. A mim não cabia dúvidas de que em algum momento iria explodir futebolisticamente", diz à ​Folha Martín Liguera, que treinou Matías Viña no que os uruguaios chamam de 3ª divisão, equivalente ao sub-23 no futebol do país.

Ex-jogador do Athletico-PR, Liguera tem uma relação curiosa com o lateral. Em 2017, quando voltou ao Nacional para se aposentar no clube, foi companheiro de Viña. No ano seguinte, virou técnico e passou a treiná-lo na base. "Cresceu muito no ano em que esteve na terceira divisão, só não era o momento ainda, ele teria de esperar", afirma.

A geladeira no Nacional foi a primeira vez que Viña sentiu o freio de mão puxado em uma carreira que até ali mostrava crescimento contínuo.

Essa trajetória começou aos 5 anos de idade, no chamado "baby fútbol" (campo reduzido, com cinco atletas para cada lado) do Club Unión. Sempre acompanhado pela mãe, Gabriela, disputava com a equipe os torneios infantis na sua Empalme Olmos natal (40 km de Montevidéu) e já atraía a atenção de quem o via.

O jogador Matías Viña, do Palmeiras, disputa bola com o jogador Chico, do Mirassol, durante partida válida pela sexta rodada do Campeonato Paulista, no Allianz Parque
O jogador Matías Viña, do Palmeiras, disputa bola com o jogador Chico, do Mirassol, durante partida válida pela sexta rodada do Campeonato Paulista, no Allianz Parque - Cesar Greco - 2.fev.2020/Ag Palmeiras

"Ele era ponta esquerda. Canhoto, muito rápido, chutava bem e era o goleador de sua categoria muitas vezes", afirma Jorge Cabrera, cujo filho foi companheiro de Viña no Unión, clube em que trabalha há 17 anos.

Cabrera relata que, dos oito anos em que Matías esteve no clube, sua geração, a de 1997, conquistou sete vezes o título da categoria. As atuações de Viña pela equipe o levaram à seleção do município, que tem cerca de 5.000 habitantes.

Aos 13 anos, passou para o Ferrocarrilero, time tradicional da cidade, pelo qual chegou à seleção do departamento de Canelones, que compreende as equipes amadoras da região. No Ferro, como o clube é chamado, atuou como meia pela esquerda.

Com olheiros no interior, de onde saem muitos jogadores que abastecem o futebol da capital, o Nacional se interessou por Viña e o levou ao clube.

Edinson Cavani abraça Viña após assistência do lateral na vitória sobre a Hungria, por 2 a 1, em amistoso
Edinson Cavani abraça Viña após assistência do lateral na vitória sobre a Hungria, por 2 a 1, em amistoso - AUF/Divulgação

Do meio-campo, passou para a lateral. Com 1,79 m, também foi utilizado como zagueiro em algumas oportunidades, inclusive nas seleções de base do Uruguai.

No Sul-Americano sub-20 de 2017, disputado no Equador, começou o torneio pela esquerda, mas já na segunda rodada foi escalado como defensor central pelo treinador Fabián Coito. Isso porque o elenco da Celeste tinha outro bom lateral esquerdo, Mathías Olivera, que hoje joga no Getafe (ESP).

"Chamou a atenção sua capacidade física, seu timing, joga com a perna esquerda, o que no Uruguai não é abundante para jogadores de defesa. Pareceu interessante convocá-lo", diz Coito. "Diria que ele é brilhante como zagueiro central. O que me parece é que, para o futebol internacional, faltam a ele alguns centímetros e alguns quilos a mais na hora de disputar no físico."

O Uruguai terminaria aquele Sul-Americano como campeão. No hexagonal final, venceu o Brasil por 2 a 1, de virada. O segundo gol foi marcado por Viña.

"Foi um momento incrível. Nem ele mesmo acreditava. ‘Eu vi que estava em condição de jogo e só corri. Quando vi, estava debaixo do gol’, ele disse", relembra Adriano Freitas, goleiro campeão daquele torneio.

De volta ao Nacional, Viña disputou quatro partidas em 2017. Na temporada seguinte, com o técnico Alexander Medina, ficou em campo por apenas quatro minutos. O ano de 2019, com Alvaro Gutiérrez no comando, marcaria a sua chegada definitiva ao futebol profissional.

Ele disputou 42 partidas e mostrou a consolidação de seu jogo ofensivo, ao participar como nunca na construção do ataque e ao marcar cinco gols na campanha do título uruguaio. Além da conquista, foi eleito o melhor jogador do campeonato, distinção rara para um lateral.

Ao todo, pelo Nacional, disputou 60 jogos, com 34 vitórias, 11 empates e 15 derrotas. Todos os gols que anotou pelo clube foram no ano passado. 

A temporada de 2019 também serviu para que ele chegasse ao último escalão de seleções na sua carreira, com a convocação para a Celeste principal.

Em setembro, chamado pelo técnico Óscar Tabárez, fez sua estreia pelo Uruguai na vitória por 2 a 1 sobre a Costa Rica, em amistoso. Desde então, para as duas datas Fifa seguintes, voltou a estar entre os convocados e inclusive deu assistência para Edinson Cavani no triunfo diante da Hungria, em Budapeste.

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