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A favor da volta do futebol, René Simões diz que amigos bateram em mulheres

Ex-técnico da seleção brasileira feminina reconhece ter sido infeliz nas declarações

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São Paulo

O ex-técnico da seleção brasileira feminina de futebol René Simões defendeu a volta do futebol como uma forma de ajudar os torcedores a enfrentar o período de quarentena.

Em entrevista à Rádio Central, de Campinas, nesta sexta-feira (26), ele afirmou que o retorno dos campeonatos poderia, inclusive, diminuir os casos de violência doméstica.

"Vamos discutir o futebol como fator social para ajudar as pessoas que estão em casa enlouquecendo. Eu tenho amigos aqui que já se separaram, outros já bateram na mulher, outros batem nos filhos. Estão enlouquecendo. Então, se colocar futebol, pode ser que ajude em alguma coisa", disse René.

O treinador, dirigente, coach e comentarista esportivo foi criticado nas redes sociais por não ter reportado o caso de violência contra a mulher que citou às autoridades. É possível denunciar o abuso à Polícia Militar, pelo telefone 190, ou pelo disque-denúncia do governo federal, o 180.

Renê Simões, usando óculos, com a mão na altura da orelha
O técnico René Simões, quando ele era coordenador das categorias de base do São Paulo, em 2012 - Jorge Araújo/Folhapress

Neste domingo, Simões disse à Folha que "a cabeça pensou uma coisa e a boca disse outra". Ele afirma ter escutado o áudio da entrevista que concedeu à rádio de Campinas e reconhece que não se expressou da maneira como gostaria. "Jamais teria esse significado, porque dizer isso seria de uma estupidez muito grande."

Ele nega ter tentado justificar a violência doméstica e diz que a volta do futebol seria um alívio para as pessoas que estão estressadas e confinadas em casa durante a pandemia da Covid-19. O treinador foi diagnosticado com a doença no final de março, mas está recuperado.

"Não tem que ser justificativa para agressão. Jamais disse isso, mas ficou dando essa falsa impressão. Foi uma tentativa de dizer que sou a favor que o futebol volte para as pessoas terem uma distração, um entretenimento, como os shows pela internet, por exemplo", compara.

Ele justifica ter falado de pessoas que conhecia e bateram em mulheres por causa de uma amiga que lhe contou ter sido agredida. "Eu disse a ela que era caso de denúncia, de ir à polícia. Mas ela me disse que não, o caso já havia acontecido há alguns dias e havia se acertado com o marido. Ela me pediu para que nada fosse feito. No meio da entrevista, para explicar meu ponto de vista, eu citei esse caso, mas foi totalmente fora de contexto."

Por causa das críticas que recebeu, Simões gravou um vídeo em sua conta no Instagram.

No último dia 3, o Senado aprovou alterações na Lei Maria da Penha para definir como essenciais os serviços e as atividades relacionadas às mulheres em situação de violência doméstica ou familiar, em razão do aumento das denúncias e dos casos durante a pandemia. No estado de São Paulo, por exemplo, as ocorrência de violência doméstica saltaram 20% no período da quarentena.

Para ser aprovada, a proposta precisa ainda passar pela Câmara e pela sanção do presidente do Jair Bolsonaro.

Na entrevista à rádio, Simões também afirmou que a volta dos jogos não traria problemas relacionados à disseminação da doença, uma vez que os atletas são "pessoas extremamente saudáveis" e o vírus quer aqueles "que tenham alguma deficiência".

"Nós já tivemos mais de cem jogadores brasileiros com Covid. Nenhum deles foi internado, nenhum deles foi entubado. No mundo todo, só conheço um caso que fugiu da regra, que foi o Dybala da Juventus, que foi testado positivo, 14 dias depois positivo de novo, mais 14 dias positivo de novo, mas resolveu tudo", disse.

Simões já comandou times como Coritiba, Botafogo, Fluminense e Portuguesa. Ele foi medalhista de prata com a seleção brasileira de futebol feminino na Olimpíada de Atenas, em 2004. Comandou a Jamaica na Copa do Mundo masculina em 1998.

Segundo o técnico, o retorno do futebol não significa uma volta à normalidade, já que haveria uma série de medidas de segurança, como a ausência de torcida.

"Como está normal? Não tem torcida, os jogadores têm de ser testados o tempo todo, o pessoal no banco está de máscaras, a comemoração... Então, isso não é normalidade", disse.

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