Descrição de chapéu Tóquio 2020 Natação

Pandemia fez Fernando Scheffer nadar em açude antes de bronze nas Olimpíadas

Atleta sempre buscou ser o 'mais esforçado' e colocou diversão como meta para livrar pressão

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Tóquio

A mão direita de Fernando Scheffer tremia enquanto segurava as flores que recebeu no pódio, a medalha de bronze e a bandeira do Brasil. Poderia ser o frio de quem acabou de sair da piscina, apesar do verão japonês. Poderia ser a emoção daquele que acredita não ter vencido só pelo talento. Foi também esforço.

“Desde pequeno, nunca fui o nadador mais rápido, nem o mais resistente, nem o mais versátil. Mas sempre pensei em ser o mais esforçado. Se eu via o cara ao lado dando quatro golfinhadas [movimentos antes de começarem as braçadas], queria fazer cinco. Levo essa mentalidade até hoje”, afirma o gaúcho.

O brasileiro Fernando Scheffer após conquistar a medalha de bronze nos 200 m livre
O brasileiro Fernando Scheffer após conquistar a medalha de bronze nos 200 m livre - Kai Pfaffenbach/Reuters

A análise do nadador contém certo exagero. A medalha de bronze nos 200 m livre nas Olimpíadas de Tóquio o coloca entre os melhores. Na prova, apenas os britânicos Tom Dean e Duncan Scott, ouro e prata, respectivamente, foram mais velozes. Mas a parte de ser esforçado é verdade.

Para se tornar um nadador de ponta, é necessário ter muita vontade para aceitar um treinamento como o que ele fez para os Jogos. Com quatro amigos, Scheffer alugou um sítio com um açude de 60 metros apenas para poder ter contato com água. No local, o grupo montou um programa de treinos de dez dias.

Antes, a única alternativa era usar uma piscina de condomínio de 15 metros —a olímpica tem 50— ou alugar pesos e bicicleta de spinning para exercícios em casa. “Tudo isso me deixou cascudo para saber que somos capazes de muita coisa. A gente percebe que é muito melhor do que pensa. Acreditar é uma coisa que às vezes temos um pouco de dificuldade [de fazer], e é o principal”, afirma o medalhista.

Scheffer sempre acreditou. Ainda no Brasil, dizia que a medalha era possível porque a prova dos 200 m livre não tinha favoritos. Chegou à Vila Olímpica e notou o clima leve entre os atletas, com brincadeiras. Escutou ser bem diferente da Rio-2016, quando a pressão em casa fez a equipe passar em branco.

Era o que o nadador queria para fugir da pressão. Repetia para si mesmo que, na hora da prova, tinha de fazer o que treinou nos últimos cinco anos. Fosse em uma piscina oficial, de condomínio ou no açude.

Aos 23 anos, ele enfim deixou de ser o garoto que, quando tinha de preencher alguma ficha ou dizer o nome, ouvia “nossa, você tem nome de nadador!” devido à semelhança fonética com Fernando Scherer, o Xuxa, bronze nos 50 m livre em Atlanta-1996 e no revezamento 4x100 m livre em Sydney-2000.

“É, também sou nadador”, respondia. Agora ele é Fernando Scheffer, um dos 14 medalhistas olímpicos da natação brasileira. “Acho que o esporte é muito mais do que resultado, do que medalha. É o legado que a gente deixa. É importante conquistar essa medalha para mostrar que o caminho existe. Não é porque a gente é brasileiro que não pode subir ao pódio. Do mesmo jeito que o Fernando Scherer inspirou as pessoas, espero que o Fernando Scheffer também possa inspirar”, diz ele.

O brasileiro, que voltou ao Centro Aquático de Tóquio na manhã desta terça (27) para as eliminatórias do 4x200 m, divertiu-se ao ver o vídeo da reação na casa de sua família, em Canoas, durante a final.

Diversão é outra palavra que se encaixa bem em tudo o que tentou fazer nestas Olimpíadas. Chegou à conclusão de que se fosse algo obrigado, complicado, poderia não dar certo. Porque mesmo um esforço descomunal como nadar 200 metros para definir um ciclo de cinco anos deve ter leveza.

“Só queria criar esse ambiente de estar feliz e curtindo. Todo mundo aqui ama natação, e a gente não pode transformar isso em uma coisa densa. Tem de chegar a uma final olímpica e estar feliz. Eu me diverti muito”, diz Scheffer, ainda com a mão direita tremendo e sem largar a medalha e a bandeira.

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