Barbieri busca título pelo RB Bragantino para mudar de patamar

Técnico comanda clube na semi da Sul-Americana contra o Libertad, nesta quarta (22)

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Santos

Maurício Barbieri, 40, estava há 41 dias à frente do Red Bull Bragantino, com apenas uma vitória em oito partidas disputadas, quando se reencontrou com o Flamengo, no Maracanã, em 15 de outubro do ano passado.

Enquanto o time ocupava a zona de rebaixamento, a equipe carioca, que havia dirigido por quase seis meses em 2018, liderava novamente o Campeonato Brasileiro. Tinha tudo para ser mais um tropeço.

O jogo, contudo, se transformou em uma espécie de chave de ignição para uma retomada improvável do clube, recém-promovido à Série A. Também valeu como uma afirmação pessoal a Barbieri.

Mauricio Barbieri, técnico do Bragantino - Ari Ferreira/Red Bull Bragantino

"Já apresentávamos evolução de rendimento, mas naquele jogo em especial os jogadores entenderam que poderíamos competir com qualquer equipe com o nosso jogo de intensidade", diz à Folha.

O time terminaria o Brasileiro na décima colocação, classificado à Sul-Americana, e teria Claudinho, hoje no Zenit, como artilheiro e recordista de premiações ao final do campeonato.

Hoje o técnico mais longevo entre as 20 equipes da primeira divisão nacional —completou um ano no cargo no último dia 4 de setembro—, Barbieri ainda precisa conviver com desconfianças e a pecha de treinador apenas para equipes de menor expressão.

"Não sei muito o que responder. Fico tão concentrado no trabalho que não percebo tanto essas coisas. Acho que o contexto geral estimula uma postura mais conservadora dos treinadores mesmo. No fim do mês, todos temos contas a pagar, mas aqui consigo fazer algo diferente porque o clube tem clareza do que quer", explica.

"E basta ver um pouco quem era o Claudinho até a minha chegada. Ou o Helinho, o Artur, o Raul... não pode ser sorte", acrescenta.

O time de Bragança Paulista ocupa a quinta colocação no Brasileiro, mas é na Copa Sul-Americana que tenta fazer história. A equipe enfrenta o Libertad (PAR), nesta quarta-feira (20), às 19h15 (Conmebol TV transmite), no estádio Nabi Abi Chedid, pela primeira partida da semifinal da competição. Um título afirmaria de vez clube e treinador.

"Sem dúvida, esse título pode mudar muita coisa. Não vai mudar a pessoa que sou, mas a maneira como as pessoas me veem. Isso não tenho dúvida, é assim em qualquer canto do mundo e no Brasil. O treinador é avaliado pelo que conquista. Se formos campeões, tudo muda", conta.

Barbieri busca afirmação desde o início da carreira, no começo dos anos 2000. Precoce como técnico, não jogou futebol profissionalmente e usou a formação acadêmica de bacharel em esporte como uma espécie de compensação para essa lacuna. Era comum vê-lo cercado por livros e pesquisas científicas.

O treinador Maurício de 2018 não é o mesmo de 2021. Passei por outros clubes, outras vivências, me considero hoje muito mais maduro para uma Série A. Aquele momento com o Flamengo foi a minha primeira experiência

Maurício Barbieri

Técnico do RB Bragantino

"Eu precisava buscar experiências e vivências que quem jogou tem, mas de outra maneira, e a maneira mais fácil era estudar".

No período, chegou a ficar pouco mais de um ano em Portugal para um estágio nas categorias de base do Porto, onde diz ter aprendido, principalmente, a metodologia que utiliza para a organização de treinamentos.

Aflorou no curso e na passagem pela Europa o gosto pela leitura. Atualmente, por exemplo, lê o livro “Blink”, de Malcom Gladwell, baseado em fundamentos científicos, que fala sobre escolhas e decisões, além de “Mindset, a Nova Psicologia do Sucesso”, de Carol S. Dweck, sobre liderança e atitude mental.

"Gosto de construir referências. E na época da faculdade encontrávamos muita dificuldade porque a literatura esportiva era mais escassa, com poucas bibliografias", argumenta.

No clube, Barbieri tem como hábito chegar próximo ao horário do almoço para ver vídeos e separar materiais que possam ajudá-lo com o próximo adversário. A atividade da equipe só inicia às 15h30.

São comuns, também, reuniões com a diretoria para falar sobre o desenvolvimento de jogadores e com a comissão técnica para entender erros e acertos do jogo anterior. Deixa o clube quase duas horas após o fim de cada treino.

"O clube pensa diferente. Quando cheguei, a conversa foi de que o objetivo principal era não ser rebaixado, mas que queriam um futebol intenso e agressivo. Ficou claro para mim o que queriam e me deu tranquilidade fazer exatamente o que pediam, mesmo sem resultados", conta.

A chegada ao cargo no Flamengo, em 2018, e, consequentemente, a apresentação ao maior público, trouxeram o destaque. Barbieri começou a carreira em 2004, nos times de base do extinto Pão de Açúcar, que posteriormente passou a se chamar Audax.

Virou auxiliar-técnico do profissional em 2010 e ganhou as primeiras oportunidades mais relevantes na franquia carioca do Audax e no Red Bull Brasil, hoje Red Bull Bragantino, em 2013, clube pelo qual conquistou o acesso à Série A2 do Campeonato Paulista. Tinha apenas 32 anos na época.

Voltou ao clube em 2016 e ainda passou por Guarani e Desportivo Brasil até ser chamado para compor a comissão técnica do Flamengo. A demissão do experiente Paulo César Carpegiani acelerou sua primeira grande oportunidade.

Curiosamente, foi também em setembro, mas de 2018, que Barbieri acabou demitido do clube carioca, dois dias depois de ser eliminado pelo Corinthians, na semifinal da Copa do Brasil. Apesar do apoio de jogadores, a pressão era enorme nos bastidores pela inexperiência.

"O treinador Maurício de 2018 não é o mesmo de 2021. Passei por outros clubes, outras vivências, me considero hoje muito mais maduro para uma Série A. Aquele momento com o Flamengo foi a minha primeira experiência", explica.

A carreira parecia que não engrenaria mais depois das passagens rápidas por Goiás, América-MG e CSA-AL. Até reencontrar o caminho no Red Bull Bragantino. "Hoje tenho mais de 100 jogos na Série A, sou outro treinador. Aprendi com decisões acertadas e outras repensei, não tenho vergonha", diz.

Nesta temporada, o técnico perdeu Claudinho, negociado após os Jogos de Tóquio-2020 com o futebol russo. Precisou se reinventar novamente sem o seu principal jogador.

Consolidado em Bragança e visto como um dos principais potenciais da geração de novos treinadores, ele quer cravar de vez o nome na história com títulos e reconhecimento.

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