Nova chefe da liga americana feminina de futebol busca mudanças após abusos

Marla Messing ouve jogadoras e tenta resolver problemas sérios envolvendo treinadores

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Nova York | The New York Times

Marla Messing, executiva de esportes que teve papel fundamental no sucesso da Copa do Mundo feminina de 1999, assumiu seu posto como presidente-executiva interina da National Women’s Soccer League apenas alguns dias atrás. E já tem ideias ambiciosas, entre as quais uma possível mudança de nome para a liga, que chegará ao seu décimo aniversário no ano que vem.

Mas a primeira coisa em sua agenda, antes que a liga possa seguir em frente com um mínimo de confiança, é lidar com os recentes casos de abuso que deixaram a organização em queda livre.

"Serei completamente clara: nosso primeiro objetivo é pôr a casa em ordem e garantir que estejamos à altura dos padrões mínimos de uma liga de esportes profissionais. Que resolvamos as questões que as jogadoras querem e precisam que sejam resolvidas", disse Messing.

Jogadoras do Gotham FC e do Orlando Pride se juntam para mostrar união contra abusos na liga americana feminina - Bernie Walls - 9.out.21/USA Today Sports

Ela acrescentou que são necessárias mudanças para fazer as atletas se sentirem "valorizadas e seguras, recebendo o respeito que merecem". Essas mudanças podem demorar meses, afirmou, porque muita coisa precisa ser examinada a fim de compreender de que maneira a liga caiu a um ponto tão baixo.

Depois de uma série de acusações, nos últimos meses, de que treinadores abusaram sexualmente de jogadoras ou as assediaram, enquanto dirigentes da liga e dos clubes fingiam que não viam, dirigentes de futebol, executivos da liga, jogadoras e proprietários de clubes vêm procurando alguém a quem culpar pelos erros na condução de numerosos casos.

Pelo menos cinco investigações foram lançadas, por organizações diferentes, já que ninguém confiava o suficiente em qualquer outra entidade para comandar um inquérito unificado.

As investigações se concentram ao menos em parte em Paul Riley, ex-treinador do North Carolina Courage, que mais tarde foi acusado de abusos sexuais contra duas jogadoras quando as treinava no Portland Thorns. Em 2015, ele foi demitido pelos Thorns por comportamento inapropriado, mas, mesmo assim, continuou a treinar na liga. O Courage demitiu Riley no mês passado, depois que as acusações contra ele se tornaram públicas.

Richie Burke, ex-treinador do Washington Spirit, foi demitido no mês passado por ter violado as regras de combate a assédio da liga. Ainda outro treinador, Farid Benstiti, pediu demissão do OL Reign em julho, em meio a acusações de abusos verbais contra o elenco do clube.

Os múltiplos casos de abuso levaram à renúncia de Lisa Baird como comissária da liga e a exigências do sindicato das jogadoras de que mudanças imediatas fossem adotadas para protegê-las. Entre suas reivindicações, o sindicato apelou pela suspensão automática de qualquer pessoa em posição de poder que esteja sendo investigada por possíveis abusos.

Na quarta-feira (20), Messing iniciou sua entrevista via vídeo anunciando que a liga agora estava trabalhando com o sindicato para resolver suas preocupações. "Só estou no posto há 72 horas, mas já me sinto muito bem quanto a esse relacionamento", declarou.

Marla Messing, executiva interina da liga americana feminina de futebol
Marla Messing tem ouvido as jogadoras da liga americana - Divulgação

Alex Morgan, atacante do Orlando Pride, membro da seleção feminina dos Estados Unidos e uma das maiores estrelas do esporte, disse em uma teleconferência na terça-feira que se sentia encorajada pelo que os representantes do sindicato em seu clube tinham lhe dito. Mas afirmou que a liga continua a operar em modo reativo no tratamento das questões importantes.

"Sei que há muitas coisas que precisam mudar, mas precisamos começar a construir alguma confiança, e a esta altura isso ainda não existe", observou.

Em uma tentativa de encontrar a pessoa certa para ajudar a criar essa confiança, Cindy Parlow Cone, presidente da Federação de Futebol dos Estados Unidos, ligou para Messing a fim de lhe oferecer a presidência interina da liga.

A escolha parecia apropriada, considerando que Messing já conhece muita gente no mundo do futebol. Ela foi presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de futebol feminino de 1999 e uma das fundadoras da Major League Soccer, a mais importante liga de futebol masculino profissional americana.

Ela já conhecia pessoalmente Cone e muitas outras jogadoras da seleção feminina americana. Cone foi parte da seleção dos Estados Unidos que venceu a Copa de 1999, diante de mais de 90 mil torcedores no Rose Bowl.

Aquela Copa do Mundo foi o tiro de partida para a mania do futebol entre as meninas dos Estados Unidos. Algumas das garotas que começaram no esporte naquela época se tornaram parte de futuras seleções nacionais e jogadoras da própria National Women’s Soccer League.

Para Messing, esse histórico tem um significado importante, e não só por ter sido parte dele. Ela disse que gostaria de planejar algo especial para celebrar o décimo aniversário da liga no ano que vem, porque "é um marco muito importante para uma liga feminina".

Mas há coisas mais importantes a fazer primeiro.

"No momento, minha missão é supervisionar as investigações para garantir que uma mudança institucional aconteça e administrar as operações cotidianas da liga. Francamente, é esse o meu foco por enquanto."

Tradução de Paulo Migliacci

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