Fora do UFC, Junior Cigano reaprende a bater por sucesso na luta livre

Ex-campeão dos pesados foi contratado pela AEW (All Elite Wrestling), empresa de 'telecatch'

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São Paulo

Os movimentos de lutas vêm naturalmente para o brasileiro Junior dos Santos, o Cigano. Ele passou muito tempo a dar socos, chutes e a tentar imobilizar os adversários. Mas e agora, que precisa reaprender tudo isso aos 37 anos?

"São vários detalhes, na verdade. Precisa ter mais atenção para não machucar seu oponente. Há detalhes que você tem de prestar atenção. Acrescentar detalhes, estar bem nas quedas. No MMA, a gente se defende como dá. Agora eu preciso estar no ponto certo, ligado", afirma ele.

O brasileiro Junior dos Santos durante participação na AEW
O brasileiro Junior dos Santos levanta oponente durante participação em show da AEW - Divulgação/AEW

Um dos maiores nomes da história do MMA brasileiro e campeão mundial dos pesos pesados no UFC, Cigano foi contratado pela AEW (All Elite Wrestling), companhia americana de luta livre. Modalidade que no Brasil foi chamado durante anos como telecatch, em que as lutas são coreografadas e os resultados, determinados com antecedência.

O brasileiro precisa passar por um processo de transição para aprender a bater no oponente de maneira que não o machuque. As contusões são comuns, mesmo assim, no que os americanos chamam de "esporte de entretenimento", em que o show, a exibição e contar uma história são os aspectos mais importantes.

"Eu fui assistir pela primeira vez [a AEW] com o dono da American Top Team, o Dan Lamber, que é muito fã do wrestling [nome da modalidade nos EUA]. Tive a oportunidade de ver o tamanho dos eventos. É tão grande quanto o UFC. Os combates exigem muito, vi gente saindo arrebentada, sangrando de verdade. Quando eu assisti aquilo, falei para ele: ‘você tem de me colocar nisso aí’", completa.

Junior dos Santos entrou também em uma indústria bilionária nos Estados Unidos. O wrestling profissional movimenta mais dinheiro que o UFC, a principal empresa de MMA do planeta.

Criada em 2019, a AEW tem valor de mercado estimado em US$ 400 milhões (R$ 2,1 bilhões pela cotação atual). Nasceu para ser concorrente da WWE (World Wrestling Entertainment), avaliada em US$ 5,7 bilhões (R$ 30,8 bilhões).

Mesmo com apresentações sem presença de público durante a maior parte do ano passado, por causa da pandemia, a AEW faturou US$ 64 milhões (R$ 345 milhões). A empresa pertence a Shahid Kahn, também dono do Jacksonville Jaguars, da NFL (a liga profissional de futebol americano), e do Fulham, equipe de futebol atualmente na segunda divisão da Inglaterra.

A companhia de wrestling é administrada pelo seu filho, Tony Kahn, idealizador da empreitada. A fortuna da família está em cerca de US$ 9 bilhões (R$ 48,6 bilhões).

No Brasil, os episódios do Dinamyte e do Rampage, os dois programas produzidos pela AEW, são exibidos pelo canal Space.

O tamanho da indústria surpreendeu Cigano, acostumado com outro mundo. Ele foi campeão do UFC nos pesos pesados em 2011 ao derrotar o americano Cain Velasquez (outro que tem flertado com o Wrestling). Foi o terceiro brasileiro a conseguir o cinturão da categoria, mas foi o primeiro considerado campeão absoluto.

Ele tem treinado outro aspecto que, no "esporte de entretenimento", é tão importante quanto a luta em si: saber lidar com o microfone. Ele já percebeu que os lutadores que sabem entreter, provocar e se expressar costumam ter mais sucesso. Há partes dos programas baseados apenas nisso.

"Tenho trabalhado esse lado também. É o principal. No MMA, os caras que são polêmicos, falam bastante, levam até para o lado pessoal, são os que chamam a atenção. Nunca fui um cara polêmico, mas tenho trabalhado nisso", diz.

Isso pode ter também a recompensa financeira. A AEW não confirma o salário dos seus atletas. A imprensa americana especula que alguns dos seus principais astros, como Jon Moxley e CM Punk, ganham milhões de dólares por ano.

A empresa conseguiu trazer de volta ao wrestling CM Punk, um dos nomes mais famosos da modalidade e que estava afastado há sete anos. Segundo sites especializados, ele vai receber cerca de US$ 3 milhões (R$ 16 milhões) a cada 12 meses. Isso sem contar a participação na venda de merchandising.

"Eu pude ver o quanto as pessoas são fanáticas. É algo que eu não via hora nenhuma no UFC. Você vê nos olhos delas que querem te matar. Quando tive oportunidade de participar, fiquei muito feliz com isso", diz Cigano.

Não que ele tenha abandonado os planos de voltar ao MMA no futuro. Além dos treinos para o wrestling, ele segue praticando outras lutas que podem fazê-lo voltar ao octógono. Tem praticado boxe também, esporte em que outros atletas do MMA tem tentado entrar.

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