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Torcedores de Bragantino e Athletico planejam viagens de ônibus para final no Uruguai

Veículos fretados se tornam solução para a decisão da Copa Sul-Americana em Montevidéu

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São Paulo

O aposentado Vicente Lucio Barreto, 62, lembra-se do primeiro jogo do Bragantino a que assistiu. Foi em 1965, ano em que a equipe subiu para a divisão de elite do futebol paulista.

Para a disputa do torneio entre os grandes clubes do Estado no ano seguinte, Felippe de Loredo Netto, avô do radialista Silvio Loredo, ajudou a erguer a arquibancada de concreto no estádio Marcelo Stefani (hoje Nabi Abi Chedid).

Silvio Loredo, torcedor do Bragantino, com sua coleção de camisas do time
Silvio Loredo, torcedor do Bragantino, com sua coleção de camisas do time - Eduardo Knapp/Folhapress

Quando o time voltou ao principal campeonato de São Paulo, em 1988, foi a vez de Silvio, 55, empurrar carrinhos de areia e cimento para a construção de novo setor para o público.

Torcedores do clube que hoje se chama Red Bull Bragantino se angustiaram para encontrar uma forma de viajar a Montevidéu para a final da Copa Sul-Americana. Calcularam diferentes orçamentos, consideraram a possibilidade de alugar carro, fazer bate-volta sem hospedagem, imaginaram diferentes trajetos.

Quase todas as opções estavam fora da realidade financeira não só deles mas da maioria da classe trabalhadora do país.

No próximo dia 20, o Red Bull Bragantino joga a primeira final continental de sua história. Decide a Copa Sul-Americana com o Athletico, no Estádio Centenário, em Montevidéu.

Como ocorre com palmeirenses e flamenguistas interessados em ver a decisão da Copa Libertadores, uma semana depois, na mesma cidade, os torcedores que desejam ver a partida derradeira da Sul-Americana encontram passagens aéreas por cerca de R$ 10 mil.

As diárias dos hotéis podem chegar a R$ 30 mil (com café da manhã incluído, os estabelecimentos fazem questão de deixar claro). O ingresso mais barato para a Libertadores custa US$ 200 (R$ 1.127 pela cotação atual). Para Bragantino x Athletico, são US$ 100 (R$ 563).

A solução será fretar um ônibus.

"Pensamos em ir de carro, mas e o preço do combustível? Consideramos alugar um veículo, mas tem a burocracia na fronteira com o Uruguai, não é só atravessar. Conseguimos um ônibus, e uma agência vai levar 50 torcedores", afirma Silvio Loredo.

Cada um vai pagar R$ 1.999 em até dez prestações. O valor não inclui ingresso ou refeições. Para não se tornar muito cansativa, a caravana vai parar por uma noite em Porto Alegre, na ida e na volta.

"Acho que desse jeito ficou bom. O importante é estar lá. Se você me dissesse, há uns cinco anos, que o Bragantino estaria por disputar uma final continental, eu não acreditaria de jeito nenhum", completa Loredo.

É um espírito parecido com o dos torcedores do Athletico que tentam se organizar para ver a decisão. O clube, assim como o Bragantino, não terá nenhuma excursão oficial. As passagens saindo de Curitiba estão ainda mais caras do que aquelas com São Paulo como ponto de partida. O jeito é também apelar para o ônibus.

"Passei uma semana em Buenos Aires para ver o jogo contra o Boca em La Bombonera [em 2019]. Foi uma viagem mais barata do que será passar dois dias na estrada e ficar um dia e meio em Montevidéu para a final da Sul-Americana", relata o advogado Guilherme Voidela, 25.

Guilherme Voidela, torcedor do Athletico que vai ao Uruguai para final da Copa Sul-Americana
Guilherme Voidela, torcedor do Athletico que vai ao Uruguai para final da Copa Sul-Americana - Arquivo pessoal

Ele é um dos responsáveis por fretar um micro-ônibus para ir ao Uruguai. Voidela já vendeu 20 lugares no veículo em que cabem 30. Está se esforçando para negociar os outros e não ter prejuízo. O preço da viagem, que inclui só o transporte Curitiba-Montevidéu-Curitiba, será de R$ 550.

"Pode avisar que ainda tem lugares? Precisamos lotar", pede.

As caravanas do Athletico vão viajar direto, sem pernoite no caminho. Mas os paranaenses dormirão após o jogo na capital uruguaia na esperança de fazer lá a festa do título. O ônibus dos paulistas retorna poucas horas depois do apito final.

"A gente está com o sentimento bom. Seria o anticlímax voltar logo depois da partida. Consegui um hotel no centro de Montevidéu por R$ 100. Mas olha... Vai ser só para dormir porque no centro de São Paulo tem coisa melhor e mais barata", diz Voidela, deixando clara a baixa qualidade da habitação.

Ao contrário do que ocorre com o Bragantino, a decisão não será inédita para o Athletico. O clube já conquistou a Sul-Americana. Em 2018, bateu o Junior Barranquilla, da Colômbia. Na época, o título era decidido em confrontos de ida e volta, não em jogo único como agora.

"Estou animado demais! Eu sou meio coroa, mas aguento a viagem. Estou muito contente com o time. Já pensou ver o Bragantino campeão no Uruguai?", imagina Vicente Barreto, que nasceu em Toledo, no Paraná, mas se apaixonou pelo time de Bragança em transmissões pelo rádio, antes mesmo de se mudar para a cidade, em 1966.

O aposentado queria levar mais gente da família, mas os gastos se tornaram proibitivos. Nem a namorada Joana coube no orçamento. Vicente acredita que ela vai entender. Ou pelo menos espera.

Silvio Loredo terá companhia dos filhos Gustavo, 29, e Gabriel, 27. Vai faltar apenas a presença do pai, Felippe, que lhe incutiu o amor pelo clube. Ele morreu em 2018.

"Se estivesse vivo, ele iria com a gente. Não tenho nenhuma dúvida disso. É um marco histórico. Independentemente do resultado, este jogo é um marco para o Bragantino", conclui Loredo.

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