Zé Roberto Guimarães consegue patrocínio para o Barueri após desabafo

Técnico pediu que os próprios patrocinadores dessem a notícia para atletas do time de vôlei

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

José Roberto Guimarães, 67, reuniu as jogadoras na quadra e, em vez de dar início ao treino, pediu que os diretores de duas empresas abrissem aquela sessão com a tão esperada notícia. O Barueri Volleyball Club, após desabafo público do técnico, tem agora o patrocínio de duas marcas do grupo Alelo.

Elas são a Veloe, empresa especializada em soluções para mobilidade urbana, e o aplicativo de delivery Pede Pronto.

"Quando recebi a notícia eu tive, e ainda tenho, a vontade de chorar. Preciso levantar as mãos e agradecer a Deus, porque a gente precisa disso [patrocínio] para sobreviver", diz Zé Roberto.

"Eu pedi que eles [executivos] dessem a notícia. Eu ficaria ainda mais emocionado na hora de anunciar, e eles estavam felizes demais. As jogadoras ficaram orgulhosas, com a sensação de que estavam sendo olhadas. Com a sensação de que estão sendo valorizadas. Foi uma luz no final do túnel."

Zé Roberto, de camiseta azul e máscara, com os braços preparados para segurar uma bola amarela
José Roberto Guimarães comanda o projeto do Barueri desde 2016 - Johnny Nikolaídis/BVC

Ainda não é o suficiente para garantir a aquisição dos naming rights da equipe, que seguirá como Barueri na disputa da Superliga, nem o patrocínio máster. A luta por novos parceiros continua, mas agora com um pouco mais de tranquilidade.

"É muito difícil arrumar patrocinador máster nesse período. Tudo é bem-vindo. Quem puder ajudar, independentemente do valor, o fato de agregar a marca é muito importante. Tem outras empresas que ficaram de estudar."

O projeto, que completou cinco anos em outubro, vivenciou pela primeira vez o risco de encarar uma temporada sem aporte financeiro. Assim, o técnico da seleção brasileira feminina de vôlei se viu obrigado a utilizar recursos próprios para manutenção do Barueri Volleyball Club, bancando salários das atletas e da comissão técnica.

Atualmente, a equipe é a oitava colocada da Superliga, com duas vitórias (sobre Curitiba e Valinhos) e três derrotas (Pinheiros, Sesi Bauru e Osasco). Em seu sexto jogo na competição, nesta terça-feira (23), o time paulista recebe o Brasília, às 17h, no ginásio José Correa, em Barueri.

Zé Roberto temia a possibilidade de ter que dispensar as atletas e fechar as portas após a atual temporada. Técnico tricampeão olímpico com a seleção brasileira (1992, 2008 e 2012), ele conta com a ajuda da esposa, Alcione, e da filha Anna Carolina para liderar o time dentro e fora das quadras, na região metropolitana de São Paulo.

No centro de treinamento, o Sportville, construído pela família em Barueri, moram 20 atletas que atuam desde as categorias de base até o profissional. O projeto também se compromete com a educação escolar das jovens e conta com a presença de psicólogos e fisioterapeutas.

As levantadoras Vivian e Jacke, do Barueri, exibem uniforme com patrocínio da Velo
As levantadoras Vivian e Jacke, do Barueri, exibem uniforme com patrocínio da Velo - Victor Martins/Secretaria de Esportes de Barueri/Divulgação

Apesar das dificuldades financeiras, o jovem elenco do Barueri, apelidado de "Chiquititas" pela torcida, terminou o Campeonato Paulista em segundo lugar, derrotado na decisão do título pelo Osasco.

Na semifinal, desbancou o então favorito Sesi. Após aquele confronto, no dia 12 de outubro, Zé Roberto fez um desabafo que comoveu torcedores e a comunidade do voleibol. "Precisamos de ajuda e apoio para esse projeto tão bonito não morrer", afirmou ainda em quadra, ao vivo no SporTV.

Nas três primeiras temporadas, a equipe tinha como principal parceira a empresa Hinode. Nas duas seguintes, contou com o São Paulo Futebol Clube —relação frustrada após a agremiação tricolor deixar de pagar o valor acordado durante todo o último ano de vínculo.

Aquele clamor chamou atenção, inclusive pelo fato de Zé Roberto, dois meses antes, ter conduzido a seleção brasileira feminina de vôlei à medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio. Um resultado bastante comemorado para uma seleção que, ao longo do ciclo olímpico, perdeu atletas por questões médicas diversas (como lesões e gravidez).

Logo os torcedores repercutiram o desabafo do técnico nas redes sociais, com a hashtag #PatrocineOBarueriVolei.

"Isso [acerto com patrocinadores] é fruto dos torcedores, de quem se preocupou com a gente. Da mídia, as reportagens que saíram na Folha, na Globo", diz o treinador. "Estamos felizes, com a sensação de orgulho também e vamos dar o melhor para que esta parceria seja duradoura."

O vínculo do Barueri com a Veloe e a Pede Pronto terá duração de uma temporada. A equipe também continuará com a Hummel, fornecedora de material esportivo, e a Prevent Senior. Esta última oferece assistência médica para toda a equipe.

As líberos Paulina e Lais exibem o novo parceiro do Barueri, Pede Pronto, no uniforme
As líberos Paulina e Lais exibem o novo parceiro do Barueri, Pede Pronto, no uniforme - Victor Martins/Secretaria de Esportes de Barueri/Divulgação

"A ideia de entrar nesse projeto surgiu quando soubemos que o clube precisava de apoio e acreditamos que poderíamos somar esforços para fortalecer o desenvolvimento de jovens e atletas de alta performance", diz André Turquetto, diretor da Veloe.

"Além disso, é uma oportunidade de estreitar ainda mais a relação com a cidade de Barueri, onde fica nossa sede."

Uma das preocupações da família Guimarães, além da crise econômica do país, é o fato de o Barueri ter como vocação revelar e lapidar jovens talentos, em vez de contar com atletas experientes e consagradas, fator que pode dificultar na hora de atrair os patrocinadores.

"Tem patrocinador que, quando entra, quer ganhar o campeonato e contratar jogadoras de seleção. Eu acho que a gente encontrou o nosso DNA, que é o da formação. Temos todas as categorias de base, 17, 19, 21 anos e adulto", disse Zé Roberto à Folha, em outubro.

"Procuramos jogadoras no Brasil inteiro, não só que sejam talentosas e talvez cheguem à seleção, mas para que elas joguem voleibol, tenham chances. É importante a inclusão social, dar oportunidades para essas meninas", completou o treinador.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.