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Edinho classifica Londrina na Copinha e traça caminho recusado por Pelé

Filho do craque atua como treinador e alimenta o sonho de ser um dos melhores

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São Bernardo do Campo

Na escuridão do estádio Baetão, em São Bernardo do Campo (região do ABC), um policial se aproxima de Edinho e mostra a foto de uma pessoa na tela do celular. O técnico do Londrina a reconhece, e é acontece uma chamada de vídeo.

"Estou aqui fazendo o que eu amo", diz o filho de Pelé ao amigo que, pelo jeito, não via há muito tempo.

Edinho antes do início da partida do Londrina pela Copa São Paulo
Edinho antes do início da partida do Londrina pela Copa São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

Se a Copa São Paulo é vitrine para os jogadores de até 21 anos, vale o mesmo para o treinador do sub-20 do time paranaense. Desde 2007, o ex-goleiro do Santos e filho de Pelé busca se firmar na profissão em uma caminhada acidentada e de diferentes clubes. A maior oportunidade pode estar no torneio de base.

Nesta terça-feira (11), o Londrina goleou o EC São Bernardo por 4 a 1 e se classificou para a primeira fase do mata-mata. Nesta quinta-feira (13), às 11h, enfrenta o São Caetano. Se ganhar, avançará às oitavas de final.

"É uma dedicação minha de muitos anos. Estou na área técnica desde 2007. Fiquei oito anos na comissão permanente do Santos, depois fui técnico de Mogi Mirim, Água Santa, Atlético Tricordiano. Estou nesta empreitada faz tempo. A questão agora é adquirir experiência e conquistar o meu espaço. [A Copinha] é uma grande oportunidade", afirma.

Em nenhum momento ele comemorou uma classificação que deixou seus jogadores eufóricos. Eles até se atiraram na piscina ao lado do vestiário, algo que Edinho não quis imitar. O time se classificaria com vitória por qualquer resultado. A goleada fez com que terminasse em primeiro no Grupo 22.

Para quem gosta de tocar bola e atuar em velocidade, atuar no Baetão foi um desafio a mais.
O gramado sintético está gasto em vários locais. As dimensões do campo, estreitas, não parecem feitas para jogo de futebol de 11 contra 11. A partida começou às 19h15, e o sistema de iluminação era precário.

Na primeira rodada havia sido ainda pior: a tempestade tornou o ato de trocar passes algo quase impossível na derrota para o Aster. Não havia como adiar o confronto por causa da falta de datas.

Na goleada de terça, Edinho passou quase todos os 90 minutos de pé, braços cruzados ou mãos nos bolsos, sem mostrar emoção. Não se empolgou nem mesmo com os quatro gols do Londrina ou quando o goleiro Neneca defendeu pênalti durante o segundo tempo. Ao dar instruções aos seus atletas, sinalizou pouco. Pareceu passar as mensagens da maneira mais calma possível.

"A classificação é merecida, mas falei para eles que estamos aqui para disputar o título, então não comemoro muito, não", explica.

Manter a calma é mudança considerável para quem, no passado, disse se realizar com a adrenalina do esporte. A emoção de ser goleiro e de estar sempre envolvido em lances capitais fez parte de sua vida. Ele também participou de provas de motocross, com uma descarga elétrica no corpo que considerava semelhante à do salto de paraquedas.

Mas é à beira do campo que afirma ter se encontrado. A primeira fase da Copinha, em um estádio acanhado e sem grandes clubes como adversários (EC São Bernardo, Aster e São Bento também estavam na chave) o mantiveram longe dos holofotes, discreto. O treinador sabe que isso vai mudar em caso de vitória sobre o São Caetano e classificação para as fases mais agudas do mata-mata.

Afinal, ele é Edinho, filho do rei Pelé.

"Meu pai sofre por eu estar aqui, mas está muito feliz e orgulhoso, acima de tudo pelo momento em que eu estou, de estar de bem com a vida e em paz, fazendo o que eu amo e trabalhando com futebol", acredita.

Em recuperação de cirurgia para retirada de tumor no cólon, Pelé acompanhou como pôde os jogos do Londrina até aqui, mas nenhum deles foi transmitido pela TV. No passado, quando era goleiro, Edinho se incomodou por seu desempenho em campo estar ligado ao do seu familiar tão famoso. Chegou a pedir para o narrador Silvio Luiz parar de usar o bordão "papai gostou" a cada vez que ele fazia uma boa defesa. Isso está no passado.

Em entrevista à Folha em outubro de 2020, reconheceu que o futebol se transformara no elo que o unia ao maior jogador da história. Nada disso mudou desde então, mesmo que Edinho siga um caminho que Pelé sempre considerou perigoso. Depois de se aposentar, em 1977, o craque nunca quis ser técnico. Quando questionado sobre o motivo, definiu ser o "mundo da bola um ambiente muito injusto e com pouca memória."

"Ele sempre percebeu que tudo o que fez como atleta poderia ser manchado. Ele se sentiria vulnerável. Acho que ele já deu a contribuição dele no futebol, não é?", resume o filho.

Edinho espera ter chegado sua vez de também dar sua contribuição mais importante. Como goleiro, teve o auge no Santos de 1995, derrotado em uma das mais polêmicas finais da história do Campeonato Brasileiro por causa da arbitragem de Marcio Rezende de Freitas. Se é para sonhar, ele mira o topo.

"Agora ele [Pelé] tem um filho que se doou pelo futebol, e quem sabe esse seja o meu destino, o de ser um dos grandes técnicos do país?", questiona, impondo-se um desafio em que o primeiro passo pode estar na Copinha.

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