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F4 busca preencher lacuna no Brasil e levar pilotos do país à F1

Categoria estreia como tentativa de resolver problema na formação de jovens

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São Paulo

Em 2017, quando correu pela última vez no Brasil como piloto da F1, Felipe Massa se despediu do público no autódromo de Interlagos com uma previsão pessimista. Para ele, o país demoraria anos para voltar a ter um representante na categoria.

O paulista acreditava que não seriam apenas patrocínios e dinheiro que levariam os brasileiros de novo ao maior campeonato do automobilismo mundial. Seria necessário, também, investir na formação de pilotos, algo que, segundo ele, o país havia deixado de fazer.

A maior consequência disso é que há sete anos nenhum competidor do país chega à F1. O último a entrar como titular na categoria foi Felipe Nars, em 2015 —Pietro Fittipaldi disputou duas corridas em 2020, mas como reserva da Haas.

Após 15 anos de vazio e projetos frustrados para encontrar e formar novos talentos, uma nova iniciativa vai tentar quebrar esse hiato. A partir deste fim de semana, 16 pilotos com idades a partir de 15 anos vão disputar a inédita F4 Brasil.

Carro da F4 durante testes antes do início da temporada inaugural
Carro da F4 durante testes antes do início da temporada inaugural - Duda Bairros/Divulgação

A competição nasceu da união entre a recém-criada Associação dos Pilotos de F4 do Brasil e a Vicar, que, além de investidora e promotora da nova competição, também organiza a Stock Car.

O objetivo do campeonato é solucionar falhas na formação dos atletas e preencher a lacuna entre o kart e as competições de fórmula, como F1 e Indy —quem deseja seguir carreira nas pistas geralmente precisa deixar o país e buscar competições de base na Europa ou nos Estados Unidos.

"Quando você manda um menino de 15 anos para a Europa, ele tem que aprender um novo idioma, vai ficar longe da família, dos amigos, da namorada, e vai ter que aprender a cozinhar e morar sozinho. Ou seja, 90% de tudo o que pode dar errado vai ser fora do carro", diz à Folha Fernando Julianelli, CEO da Vicar.

Segundo o executivo, ao dar continuidade à carreira sem ter de sair do país tão jovem, o piloto vai ter uma chance maior de sucesso. "Quando ele chegar à Europa depois de competir aqui, estará mais maduro."

A última iniciativa parecida no Brasil havia sido a Fórmula Renault, disputada de 2002 a 2006, que ajudou a formar nomes como Lucas Di Grassi, Daniel Serra, Allam Khodair e Bia Figueiredo.

Sem projetos parecidos, a presença de pilotos brasileiros nos campeonatos de F4, F3 e F2 foi diminuindo ao longo dos últimos anos, o que prejudicou a ascensão até a F1.

"Se não tem pilotos nas categorias de baixo, F4, F3 e F2, não tem como mandar para a F1. Agora, se nós aumentarmos esse número, vamos ter mais chances de chegar à F1", afirma Alberto Cho, vice-presidente executivo da Associação de Pilotos da F4 no Brasil.

Da esquerda para a direita, Pedro Clerot, Ricardo Gracia, Lucca Zucchini,  Aurelia Nobels, Vinicius Tessaro, Álvaro Cho, Lucas Staico,  Nelson Neto, Nickolas Monteiro e Nic Giaffone
Da esquerda para a direita, Pedro Clerot, Ricardo Gracia, Lucca Zucchini, Aurelia Nobels, Vinicius Tessaro, Álvaro Cho, Lucas Staico, Nelson Neto, Nickolas Monteiro e Nic Giaffone - Miguel Costa Jr/RF1

O empresário é pai de Álvaro Cho, o mais jovem garoto do grid —ele tem 14 anos e vai completar 15 no dia 27 de junho. Ao todo, dos 16 pilotos, 10 são ligados à associação.

O campeonato contará, ainda, com sobrenomes de peso do automobilismo nacional, como o de Fernando Barrichello, filho de Rubens Barrichello.

Como a F4 Brasil é licenciada pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo), a idade mínima para competir é de 15 anos. Dessa forma, Cho só poderá estrear a partir da segunda etapa, no dia 31 de julho, em Interlagos. A abertura da temporada será neste sábado (14), às 9h40, no Autódromo Velocitta, em Mogi Guaçu, município do interior de São Paulo.

Serão seis etapas ao longo do campeonato, e cada um delas contará com três corridas no mesmo fim de semana, sendo duas aos sábados e uma no domingo. As provas serão transmitidas pelo BandSports.

Por ter a chancela da FIA, o campeonato também contará pontos para a superlicença, necessária para um piloto chegar à F1. Para ter essa espécie de carteira de motorista, cada piloto precisa somar 40 pontos ao longo das competições de base. O campeão da F4 vai somar 12 pontos.

Além disso, o carro que será usado aqui é o mesmo modelo recém-lançado na Europa, fabricado na Itália e utilizado nas principais categorias de base do mundo, o Tatuus F4 T-021, com pneus da Pirelli.

Para o piloto Felipe Giaffone, também membro da associação e pai do piloto Nicolas Giaffone, 18, usar esse modelo ajuda a diminuir a distância entre os pilotos formados fora do país. "Correr com esse carro e com os mesmos pneus fabricados e usados na Europa é uma grande oportunidade", diz.

Ao todo, a Vicar investiu cerca de R$ 20 milhões para comprar 17 carros, além de peças de reposição e os pneus. Para recuperar o investimento, o promotor da categoria poderá comercializar 30% dos patrocínios dos carros —por enquanto, o Banco de Brasília é o único parceiro da categoria. Já os outros 70% serão das equipes.

A ideia da associação que reuniu dez pilotos do grid nasceu justamente para facilitar as negociações por essas cotas de patrocínios. Embora eles tenham a liberdade de buscar parcerias individuais, o grupo tem oferecido ao mercado a possibilidade de um patrocínio conjunto, aparecendo em dez carros.

"No nosso caso, dos 16 pilotos, 10 são da associação. Então, a visibilidade é garantida. A probabilidade de ter um piloto da associação no pódio é grande, e a chance de visibilidade para o patrocinador, também", explica Ricardo Gracia, membro da associação, e pai do piloto Ricardo Gracia Filho, 17.

Fernando Julianelli diz que, mesmo com o investimento necessário para organizar o campeonato, a F4 no Brasil será uma das mais baratas do mundo. Segundo o executivo da Vicar, isso é possível porque a categoria vai correr junto com a Stock, nas mesmas pistas e fins de semana.

"Primeiro, a gente amortizou o custo do evento com a Stock Car. Segundo, homologamos as equipes da Stock Car para fazer a gestão dos carros. Então, grande parte do custo de oficina já está amortizado em cima da Stock", explica. "Além disso, a mão de obra e parte dos insumos são em Real, então, quando você compara isso internacionalmente, a F4 no Brasil é muito atrativa", encerra.

Programação da primeira etapa da F4 no Autódromo Velocitta

Sábado (14)

9h40 - Corrida 1 (25 minutos + 1 volta) - BandSports

14h40 - Corrida 2 (18 minutos + 1 volta) - BandSports

Domingo (15)

12h10 - Corrida 3 (25 minutos + 1 volta) - BandSports

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