Descrição de chapéu The New York Times tênis

Federer na despedida e segurando a mão de Nadal: 'Talvez seja um agradecimento secreto'

'Perdi meu emprego, mas estou feliz', afirma o tenista suíço, que se aposentou

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Christopher Clarey
The New York Times

Roger Federer, recém-aposentado, estava de volta à Suíça na noite de segunda-feira (26), voltando de Londres, onde encerrou uma despedida relâmpago de sua carreira competitiva com uma última partida na Laver Cup.

Ele fez parceria com seu rival-amigo Rafael Nadal em duplas para o Team Europe, perdendo uma partida apertada para Frances Tiafoe e Jack Sock, do Team World, que também ganhou a Laver Cup pela primeira vez em cinco tentativas.

Roger Federer (à esq.) ao lado de Rafael Nadal após a última partida do tenista suíço
Roger Federer (à esq.) ao lado de Rafael Nadal após a última partida do tenista suíço - Li Ying-24.set.22/Xinhua

Mas a derrota foi secundária para a ocasião –um adeus intenso e emocional para Federer e aqueles que o cercam, incluindo sua mulher, Mirka, e seus quatro filhos, além de Nadal e outro adversário-amigo, Novak Djokovic.

Federer, 41, firmou-se há muito tempo como um dos maiores jogadores da história do tênis, mas depois de quebrar o recorde masculino de 14 títulos do Grand Slam de Pete Sampras em 2009, ele decidiu jogar por mais 13 anos. Ganhou mais cinco majors e aos 36 anos tornou-se o número 1 masculino mais velho desde o advento do ranking ATP em 1973.

Sua despedida marca o início do fim de uma era de ouro no tênis masculino, em que Nadal, Djokovic e Federer desenvolveram rivalidades ricas e duradouras, elevando um ao outro e seu esporte. Federer, por toda a sua longevidade e genialidade nas quadras, agora ocupa o terceiro lugar nos títulos de Grand Slam, atrás de Nadal com 22 e Djokovic com 21.

Entrevistei Federer pela primeira vez em fevereiro de 2001, em sua cidade natal, Basileia, na Suíça, quando ele era adolescente e ainda não tinha vencido seu primeiro grande torneio. Na noite de segunda, conversamos por telefone sobre esses 21 anos e seu adeus à competição:

A entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

Então, como você se sente agora que realmente acabou? Acho que me sinto completo. Perdi minha última partida de simples. Perdi minha última partida de duplas. Perdi a voz de tanto gritar e apoiar a equipe. Perdi a última vez como um time. Perdi meu emprego, mas estou muito feliz. Estou bem. Estou realmente bem. Essa é a parte irônica, todo mundo pensa em finais felizes de contos de fadas, sabe? E para mim, na verdade, acabou sendo isso, mas de uma forma que nunca pensei que fosse acontecer.

Rafa Nadal claramente fez um grande esforço para fazer parte do evento na sexta-feira, dada a gravidez de sua mulher. O que significava, sabendo tudo o que você sabia, ele estar lá para você nas duplas? Liguei para ele depois do US Open –esperei que ele terminasse aquele torneio– só para avisá-lo da minha aposentadoria. Eu só queria que ele soubesse antes que começasse a fazer alguns planos sem contar a Laver Cup. Eu disse a ele no telefone que provavelmente estava 50-50 ou 60-40 em fazer as duplas. Eu disse a ele: "Olhe, vou mantê-lo informado. Você me conta como estão as coisas em casa. E vamos nos reconectar".

Mas logo ficou claro pelo telefone, e Rafa me disse: "Vou tentar de tudo para estar aí com você". Isso foi obviamente incrível para mim. E mostrou mais uma vez o quanto significamos um para o outro e quanto nos respeitamos. E pensei que seria uma história linda e incrível para nós, para o esporte, para o tênis, e talvez além disso também, onde podemos coexistir em uma rivalidade difícil e sair por cima, mostrando que, ei, é apenas tênis. Sim, é difícil e às vezes é brutal, mas é sempre justo. E você pode sair do outro lado e ainda ter essa grande rivalidade amigável. Eu apenas pensei que acabou ainda melhor do que eu jamais pensei que seria. Então, foi um esforço incrível do Rafa, e obviamente nunca vou esquecer o que ele fez por mim em Londres.

Essas emoções cruas após a partida foram poderosas para muitas pessoas ao redor do mundo, principalmente as cenas com você e Rafa. Você acha que mudou a forma como as pessoas veem os atletas do sexo masculino? Acho que sempre tive dificuldade em manter minhas emoções sob controle, ganhando e perdendo. No começo, era mais sobre ficar com raiva, triste e chorando. E então eu estava feliz, chorando por minhas vitórias. Acho que na sexta-feira esse foi outro animal, para ser franco, porque acho que todos os caras –Andy (Murray), Novak e também Rafa– viram suas carreiras piscando na frente de seus olhos, sabendo que todos nós, de certa forma, já estamos na prorrogação há bastante tempo. À medida que você envelhece, chega aos 30, começa a saber o que realmente aprecia na vida, mas também no esporte.

Você já viu a sua foto com o Rafa, sentados no banco chorando e de mãos dadas? Já.

Como é olhar para essa imagem? Bom, quer dizer, foi um momento rápido. Acho que em certo ponto eu estava chorando tanto, e não sei, tudo estava passando pela minha cabeça sobre o quão feliz eu estava de realmente viver esse momento ali com todo mundo. E acho que foi isso que foi tão bonito, apenas estar lá absorvendo tudo, enquanto a música tocava, e o foco talvez estivesse mais nela [a cantora Ellie Goulding]. Então, você quase esquece que ainda está sendo fotografado. Acho que em um ponto, só porque obviamente eu não conseguia falar e havia a música, acho que simplesmente toquei nele, e acho que talvez seja um agradecimento secreto. Não sei o que foi, mas para mim talvez tenha sido isso e como eu me sentia, e saíram algumas fotos disso. Fotos diferentes. Não apenas essa, mas outras também, que eram completamente loucas, você sabe, com ângulos diferentes, e espero conseguir essas porque significam muito para mim.

Aquele momento em que você está falando com seus filhos e dizendo a eles: eu não estou chorando porque estou triste. Estou chorando porque estou feliz. Acho que qualquer pai poderia se relacionar com isso. Eu não sabia que as pessoas podiam ouvir isso. Eles pareciam tão tristes, e quando eu disse a eles que estava me aposentando, também três deles estavam chorando, porque acham que estou triste com isso, mas realmente não estou. E, claro, um momento como esse é muito poderoso na arena. Foi difícil não chorar em algum momento, e não apenas difícil para eles.

Você desidratou o mundo. Temos que recarregar essas lágrimas.

Você disse: "É hora de parar. É o que eu sinto". Isso se baseia principalmente no sentimento de que você simplesmente não pode mais se movimentar do jeito que precisa para competir em turnê? Isso faz parte. É também a idade, sejamos francos. E indo bem fundo, não vejo o ponto. Eu tentei tanto nos últimos anos que está tudo bem. Sabe, está tudo bem. E você chega a um ponto em que, sabe, quando fiz a cirurgia no ano passado, sabia que seria um longo caminho de volta. E provavelmente levaria um ano.

Então, é claro, no meu sonho, eu me via jogando de novo, mas fui muito realista sobre o retorno. Número 1, eu fiz isso pela minha vida pessoal. Eu sabia que era a coisa certa a fazer: vamos consertar essa perna e tudo o mais. Para isso, tive que fazer uma reabilitação adequada. Se eu me aposentar, sei que não farei minha reabilitação direito. Então, se eu continuar ativo e ainda for um tenista profissional, sei que vou fazer 100% certo. E eu mantenho as opções abertas para talvez voltar ao tênis de exibição pelo menos 250, espero, 500 e 1000 se as coisas realmente correrem super bem. E Grand Slams se, você sabe, a mágica acontecer.

Com o passar do tempo, eu sentia cada vez menos chance, pois o joelho estava criando problemas para mim enquanto eu lutava para superar. Foi aí que eu finalmente disse: olha, está tudo bem, eu aceito. Porque eu deixei tudo claro. Nada mais a provar.

Você raramente mostrou isso, mas que porcentagem de suas partidas você jogou ao longo dos anos com algum tipo de dor? Acho que todos jogamos doentes e machucados. Sempre tive a impressão de que posso jogar com alguma dor, muita dor, como todos nós temos que fazer. Mas acho que sempre senti meu corpo muito bem. Eu sabia quando podia forçar e quando tinha que ser cuidadoso. E sempre fui da opinião de que poderia descansar em algum momento: me dar uma semana a mais, um dia a mais, uma hora a mais, um mês a mais, seja lá o que for, e ter calma, voltar a treinar e depois voltar forte novamente. Por isso tentei evitar qualquer tipo de injeções e operações por muito tempo, até ter que fazer uma cirurgia em 2016.

Sei que você estava brincando com seus companheiros de equipe em Londres sobre sua falta de mobilidade, mas você está confiante agora, depois de jogar as duplas, de que seu corpo permitirá que você jogue tênis de exibição? Eu tenho que voltar para a prancheta agora e ver, depois desse fim de semana incrível, o que devo fazer a seguir.

Acho que seria lindo de alguma forma ter um jogo de exibição de despedida, sabe, e agradecer aos torcedores, porque obviamente a Laver Cup já estava esgotada antes que eu soubesse da aposentadoria. Muitas pessoas adorariam conseguir mais ingressos e não conseguiram, então acho que seria bom ter mais uma ou várias exibições de despedida, mas não tenho certeza se posso ou devo fazer isso agora. Mas, obviamente, eu adoraria jogar em exibições mais adiante, levar o tênis para novos lugares ou levá-lo de volta a lugares onde me diverti muito.

Agora que você se afasta, vê alguém por aí que joga parecido? Agora não. Obviamente, teria que ser um cara com um backhand de uma mão. Ninguém precisa jogar como eu, aliás. As pessoas também achavam que eu ia jogar como Pete Sampras, e não o fiz. Acho que todo mundo precisa ser sua própria versão de si mesmo. E não um imitador, embora copiar seja o maior sinal de elogio. Mas desejo que todos se encontrem, e o tênis será ótimo. Tenho certeza de que sempre serei o fã número 1 do jogo. E vou acompanhar, às vezes nas arquibancadas, às vezes na TV, mas é claro, espero por bastantes one-hands, bastante tênis de ataque, bastante talento. Mas vou sentar e relaxar e assistir ao jogo de um outro ângulo.

Enquanto isso, seus rivais continuam jogando. Você disse que era importante se aposentar primeiro, pois você é o mais velho. Estava preocupado que Rafa o vencesse nesta primavera, quando ele estava pensando em se aposentar por causa de seus problemas nos pés? Fiquei assustado com Murray, também. Lembro-me vividamente de quando o vi no vestiário na Austrália em 2019, depois de sua partida contra o Bautista [Roberto Bautista Agut]. Lembro que ele disse: "Talvez eu tenha acabado". Pediram-nos para fazer vídeos de despedida; eu tive uma chance de chegar até ele, e perguntei: "Você terminou, sério?" E me lembro dele dizendo: "Bem, com esse quadril, não posso mais jogar". Então, ele sabia que estava numa enorme encruzilhada na vida. Mas sim, estou feliz por poder ir primeiro, porque também devo ir primeiro. Então, é por isso que me sinto bem. Espero que todos possam jogar o maior tempo possível e espremer esse limão. Eu realmente desejo o melhor para eles.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.