Cristiano Ronaldo e Pepe buscam brindar 20 anos de amizade com título da Copa

Classificada, equipe de Portugal fecha participação na fase de grupos contra a Coreia do Sul

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Al Shahaniya (Qatar)

Pepe nem havia completado 18 anos quando deixou o Brasil. Formado na base do Corinthians Alagoano, mudou-se para Portugal sem ter passado pelo radar dos grandes clubes brasileiros.

Em Funchal, na Ilha da Madeira, levou menos de um ano para subir dos juniores até o profissional do Marítimo, em 2002, quando começou a se destacar e conheceu José Diniz Aveiro.

Diniz, que trabalhava perto do campo do Marítimo na época, e Dolores, sua esposa, não se cansavam de fazer comentários orgulhosos sobre o filho, Cris, à época no Sporting.

Naquele mesmo ano, os caminhos dos dois garotos se cruzariam pela primeira vez, quando o defensor teve a chance de fazer um teste no time de Lisboa. Eles ficaram no mesmo quarto no alojamento do clube.

Foi ali que nasceu uma longa amizade entre Pepe e Cris, depois mundialmente conhecido como Cristiano Ronaldo.

Cristiano Ronaldo brinca com Pepe em treino no Qatar - Patricia de Melo Moreira/AFP

Sporting, Real Madrid, seleção portuguesa, a casa de um, a casa do outro. Todos esses ambientes se tornaram comuns para a dupla.

Faz 20 anos que o zagueiro luso-brasileiro e o atacante cultivam uma forte ligação, que é por sua vez atrelada às principais conquistas da história da seleção portuguesa e também um dos alicerces do time que disputa a Copa do Mundo no Qatar.

Já classificados para as oitavas de final, os portugueses enfrentam nesta sexta-feira (2) a Coreia do Sul, às 12h (de Brasília), no estádio Cidade da Educação, em Al-Rayyan.

Enquanto os asiáticos precisam vencer para avançar, os europeus buscam um empate para confirmar a liderança do Grupo H. Vencendo, manterão os 100% de aproveitamento após triunfos sobre Gana (3 a 2) e Uruguai (2 a 0).

A campanha até aqui é consistente. O grande destaque é Bruno Fernandes, autor de dois gols e duas assistências. Mas, a despeito de suas idades, a presença de Cristiano Ronaldo, 37, e Pepe, 39, é fundamental para jogadores como o meia conseguirem atuar com liberdade.

Líderes do elenco, os dois são respeitados pelos adversários e procuram transmitir segurança aos companheiros.

"O Pepe faz parte da mobília dessa equipe. Sou amigo dele, nós nos encontramos no Sporting há 20 anos. Gosto quando ele está aqui [na seleção]. Como um dos capitães, todos o respeitam e sabem da sua importância", exaltou Cristiano Ronaldo.

Ao todo, os dois já conquistaram 15 títulos juntos: 13 pelo Real Madrid e dois pela seleção, a Eurocopa de 2016 e a Nations League de 2018/19.

Pepe e Cristiano triunfaram na Eurocopa de 2016 - Carl Recine - 10.jul.16/Reuters

O sucesso pela equipe nacional começou em 2007, quando coube ao técnico brasileiro Luiz Felipe Scolari reunir a dupla pela primeira vez.

À época no Porto, o defensor brasileiro estava muito valorizado e obteve a cidadania portuguesas para defender o país em que vivia.

O encontro na seleção concretizou o que ficara no quase no Sporting. No clube português, embora tenha sido elogiado nos testes, não foi contratado. Segundo Leonel Pontes, técnico das categorias de base do time de Lisboa na ocasião, o motivo foi financeiro.

"Quando vi o Pepe treinar, ele tinha muita qualidade", lembra o treinador à Folha. "Quando o presidente do Marítimo deu liberdade para ele ir treinar no Sporting, definiu um valor em caso de compra. Mas, quando percebeu que o Sporting realmente o queria, acabou alterando esse valor. O Sporting não aceitou", conta.

A união com a camisa de um clube só ocorreria, de fato, anos mais tarde, em 2009, no Real Madrid, quando Cristiano Ronaldo foi contratado pelo time espanhol e encontrou o amigo. O luso-brasileiro havia chegado em 2007.

Foram quase oito anos juntos no clube, até 2017, quando Pepe se transferiu para o Besiktas, da Turquia. Ao lado do amigo, no período de branco, entre outros títulos, o beque triunfou três vezes na Champions League e duas no Mundial de Clubes.

Pepe e Cristiano dividiram glórias no Real Madrid - Juan Medina - 2.abr.16/Reuters

A amizade permaneceu e é notória na seleção, onde permanecem próximos. Nos treinos do grupo em Al Shahaniya, no Qatar, estão sempre brincando um com o outro.

Ter o amigo por perto tem sido importante para Cristiano Ronaldo. Apesar da boa fase com a camisa lusitana, ele está sem clube desde que entrou em litígio com o Manchester United, após duras críticas ao clube e ao técnico Erik ten Hag.

Estar desempregado e sem saber qual será seu futuro é uma situação inédita na carreira do camisa 7. Mas não é a primeira vez que ele se envolve em uma polêmica com um treinador. Isso já ocorreu na própria seleção.

Em 2014, depois da disputa da Copa do Mundo no Brasil, quando Portugal não passou da fase de grupos, o técnico Paulo Bento acabou demitido. À época, a imprensa europeia apontou que o atacante teria tido influência na decisão da federação. O comandante acha que não foi assim.

"Não creio que tenham invertido os papéis, mudado a hierarquia. Isso abriria um precedente que não seria bom nem para o presidente da Federação Portuguesa de Futebol nem para o jogador. Não acredito que um atleta, por maior influência que tenha, possa decidir e intervir em assuntos maiores", afirmou o treinador.

Bento é hoje o comandante da Coreia do Sul, mas não vai cruzar o caminho de Cristiano no gramado. Ele cumprirá suspensão e não poderá ficar no banco de reservas.

Das tribunas do estádio Cidade da Educação, observará seus atletas em uma missão difícil. "Estaremos diante de uma das melhores gerações [de Portugal]", disse.

Um respeito que se deve, também, a Pepe e Ronaldo.

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