No restaurante africano Biyou'Z, na Consolação, no centro de São Paulo, o jogo de Brasil contra Camarões, nesta sexta (2), foi motivo para a reunião de imigrantes de diversos países africanos.
Os camaroneses trajavam seus uniformes tricolores —em verde, amarelo e vermelho— e dividiam as mesas reservadas com pessoas de outras nacionalidades. Em uma delas, havia um nigeriano, uma angolana, uma congolesa e uma brasileira assistindo à partida.
De Guiné-Bissau, Benazira Djoco, 35, jornalista e coordenadora de políticas públicas para imigrantes no Sindicato dos Comerciários de São Paulo, diz que o jogo da Copa do Mundo é uma oportunidade de reunião do povo africano.
"É um momento para festejar, para torcer pela África. Sou de Guiné-Bissau, mas estou torcendo muito para Camarões. É para nós, africanos, uma chance de festejar e mostrar uma imagem diferente do que costuma se divulgar na mídia sobre a África."
À sua frente, sentavam-se dois homens vestidos com uniformes da seleção brasileira. Domingos Miguel Maria, 44, escritor, e Garcia Miguel Ndongala, cabeleireiro, 50, são imigrantes angolanos que torcem fervorosamente pelo Brasil. Durante toda a partida, trocaram provocações com Benazira.
"Que vergonha! Vou mandar trazer a família de vocês para cá! Tem que torcer para Camarões!", ela brincava.
João Maria Cabuya, 57, engenheiro químico em Angola e confeiteiro no Brasil, conta que, nos países subsaarianos, é muito comum que as pessoas torçam para o Brasil na Copa do Mundo. Para ele, é uma questão de representatividade, já que a seleção brasileira é uma das potências do futebol com mais jogadores pretos.
João disse que estava dividido entre Camarões e Brasil na partida, mas costuma torcer para os dois. Prudence Kalambay, 41, artista congolesa, estava na mesma. Preferia que Camarões não jogasse com o Brasil.
Para Benazira, a questão vai além da representatividade. Ela afirma que sempre vai torcer contra países colonizadores, e a favor de colonizados.
O camaronês Hervé Boyomo, 46, gerente de relacionamento em um hotel de São Paulo, disse que, caso Senegal caia, torcerá pela França no torneio.
O primeiro tempo foi morno no restaurante —poucos levantavam ou gritavam durante a partida. O intervalo foi embalado por música africana, pedida por Prudence, que dançava em meio às mesas. No segundo tempo, a temperatura subiu.
"Aqui não!", provocava a mesa africana a cada dividida ou chance perdida pela seleção brasileira.
A pedido da reportagem, o professor de francês Jean Abondo Oyono, 36, escolheu Aboubakar como o melhor jogador de Camarões. Sua confiança foi consagrada mais tarde. O camisa 10 cabeceou para o gol e para a festa da torcida africana na Consolação.
Jean subiu na cadeira e berrava em francês. Hervé chorava sentado. Até a dona do restaurante, a camaronesa Melanito Biyouha, entrou na festa com uma bandeira do país. Ao final da partida, mesmo com a eliminação, os africanos comemoraram juntos sua reunião. Eles tiraram fotos, brincaram e dançaram a vitória sobre a seleção brasileira.
Ao redor, estavam brasileiros que se divertiam com a festa dos imigrantes. Matheus Lopes, 19, estudante, era um deles.
Ele chamou cinco amigos para torcer no restaurante e festejou a vitória camaronesa vestindo uma camisa brasileira. Matheus pretende assistir Brasil x Coreia do Sul, pelas oitavas da Copa, no Bom Retiro, bairro ocupado por coreanos nas últimas décadas.
Camarões, Gana e Tunísia caíram, mas Senegal e Marrocos continuam a representar o continente africano na Copa do Mundo. Para alguns deles, o Brasil também pode cumprir esse papel.
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