Descrição de chapéu
Copa do Mundo 2022 Futebol Internacional

França x Inglaterra opõe país com ambição global a nação que luta para permanecer no primeiro mundo

Provocações entre chefes de Estado marcam o ponto mais baixo das relações desde a Segunda Guerra

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Países poliesportivos por excelência, França e Inglaterra são adversários crônicos no rúgbi, mas jamais disputaram um jogo de fase final na Copa do Mundo. Os jogadores, no entanto, se conhecem de cor.

A partir dos anos 2000, quando o alsaciano Arsène Wenger estabeleceu uma colônia no Arsenal, chegar ao campeonato inglês se tornou o principal objetivo de carreiras dos atletas franceses.

Mas algo mudou depois do brexit. O futebol inglês ficou mais pobre e menos competitivo depois da interdição de recrutamento de cidadãos da União Europeia com menos de 18 anos. As relações políticas degringolaram durante as discussões sobre a saída do Reino Unido da União Europeia.

Kane, da Inglaterra, e Mbappé, da França, durante partidas da Copa do Mundo
Kane, da Inglaterra, e Mbappé, da França, durante partidas da Copa do Mundo - AFP

Paris está indignada com as novas regulações da pesca no Canal da Mancha, e Londres tem ameaçado romper o acordo sobre a fronteira da Irlanda do Norte.

No Leste Europeu e na Ásia, os dois antigos aliados voltaram a competir por espaço geopolítico. As constantes provocações entre chefes de Estado no último ano marcam o ponto mais baixo das relações desde a Segunda Guerra Mundial.

A animosidade tem muito a ver com a trajetória contrastante dos dois países desde que a ruptura foi acertada em 2016.

O Reino Unido saiu do túnel da pandemia muito atrás dos seus antigos parceiros europeus. A economia anda cambaleante e a indústria britânica perdeu parte da sua competitividade.

Para a surpresa de zero especialista, a promessa de um grande arco de acordos comerciais com atores internacionais jamais se concretizou. Fragilizados pela Guerra da Ucrânia, os ingleses assistiram siderados à debacle da sua primeira-ministra Liz Truss, tratada pelo mercado como a governante de uma república das bananas.

A França, por outro lado, foi uma das grandes beneficiárias da desclassificação britânica.

Neste ano, virou a maior praça financeira da Europa, depois de uma campanha agressiva de atração de capitais britânicos.

Quando os coletes amarelos dão um respiro, a Startup Nation de Macron parece francamente mais pujante que a Alemanha em pleno choque industrial e a Itália refém da extrema direita.

Kylian Mbappé personifica esse estado de espírito. Um craque perfeccionista, criado nos melhores laboratórios do futebol francês, com gestos e declarações milimetricamente calculados. Ele é a cara da França competitiva e global desejada por Macron.

Nada a ver com a geração de Nicolas Anelka, que, minada por tensões étnicas e raciais, se autoimplodiu durante a Copa da África do Sul.

O desempenho nas quatro linhas é um raio de luz na ilha. Longe vão os tempos da geração Hollywood de David Beckham, quando a Inglaterra ganhava as manchetes mas perdia os jogos. A alma do time de hoje são Jordan Henderson, Harry Maguire e Harry Kane, operários aguerridos mas poucos carismáticos que encarnam a luta da Inglaterra para permanecer no primeiro mundo.

O jogo será uma primeira oportunidade para contemplar os destinos cruzados da França e da Inglaterra.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.