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Copa do Mundo 2022 Futebol Internacional

Torcida para a Argentina no Brasil se divide em contra, a favor e Messi

Para um grupo de fãs, camisa 10 mal é argentino, pois cresceu na Espanha

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São Paulo

Para os destemidos brasileiros que continuam acompanhando a Copa, mesmo com a seleção de Tite ausente desde as quartas de final, resta torcer para a… Argentina, mas a favor ou contra?

Uma investigação superficialmente minuciosa pelos confins das redes sociais mostra que esta torcida relacionada aos hermanos se divide em três grupos: a turma a favor, que abraçou a alviceleste; a do contra, sempre contra; e um terceiro grupo, derivado do segundo, formado por pessoas que torcem contra a Argentina, mas a favor de Messi.

Sim, até isso o pequeno camisa 10 conseguiu, a façanha de dividir os secadores.

Jogadores da Argentina comemoram com a torcida no estádio Lusail após vitória contra a Croácia na semifinal
Jogadores da Argentina comemoram com a torcida no estádio Lusail após vitória contra a Croácia na semifinal - Xu Zijian/Xinhua

O primeiro grupo, não necessariamente o melhor, também tem Messi como um de seus principais pilares. Além do canhoto barbudo, estes guapos torcedores enxergam no país vizinho um representante sul-americano guerreando contra a farra do boi da Europa em que as últimas Copas se transformaram.

Afinal, só Messi e companhia conseguiram furar o bloco de finalistas do Velho Continente desde que o Brasil foi campeão em 2002. Faz tempo.

O ex-jogador Rivaldo, campeão em 2002, é um dos que assumiram a alviceleste no Qatar. "Já não temos o Brasil nem o Neymar nesta final de Copa, então vou ficar com a Argentina. Sem palavras para você, Messi, já merecia ser campeão do mundo antes", comentou.

"Fora toda essa rivalidade com o Brasil, eles merecem, estão indo bem", disse a veterinária Natália Angelucci, 38.

"Queria torcer para Marrocos, mas entre Argentina e França, vou torcer para a Argentina na final, sou contra a Europa", comentou André Luís Amaral de Oliveira, 46, assessor parlamentar.

A radialista Magali Schunck, 37, faz coro na teoria do Mercosul. "Torço pela Argentina porque também sou latina e minha preferência sempre será apoiar os vizinhos sul-americanos."

Já o bloco de torcedores que odeiam a Argentina acima de tudo e Maradona acima de todos é um grupo quase que movimentado por uma fé cega. Para eles, torcer para a alviceleste é um absurdo e faz menos sentido do que a novela "Travessia".

Essas pessoas cresceram alimentando a rivalidade em qualquer esporte, do futebol à escalada boulder (é olímpico, não pergunte a razão), sempre defendendo o mandamento ensinado pelo filósofo Galvão Bueno há 40 anos na televisão: "Ganhar é bom, ganhar da Argentina é muito melhor".

"Minha torcida é contra a Argentina sempre", crava Rafael Duarte, 40, profissional de TI, que até olha com estranhamento quando o intrépido jornalista pergunta se ele está a favor ou contra os vizinhos.

"Depois que o Brasil perdeu, eu até parei de acompanhar um pouco", completou, dizendo que mal viu a vitória argentina contra a Croácia. Este grupo da torcida contra parece ser o maior, e o mais virulento, na grande rede online em que tudo cabe.

Por fim, o terceiro grupo não é tão fácil de compreender. Se fosse uma série de TV, seria "Black Mirror". "Como pode torcer para Messi se dar bem e para a Argentina entrar pelo cano?", questionaria um narrador em off.

Basicamente, o desejo dos adeptos desta causa é que todo jogo termine 4 a 3 para o adversário da Argentina, que marcará seus três gols com Messi, obviamente.

Essa turma cresceu vendo, ou ouvindo falar, das malandragens de Maradona, da "velha catimba argentina" (outro mantra do filósofo GB), de sempre vencerem com uma pitada de sorte, quiçá de trapaça. Para eles, metade dos gols da Argentina foram de mão ou com alguma outra irregularidade e seriam anulados se o VAR tivesse sido admitido após a Segunda Guerra.

Mas… tem o Messi. Essa turma é da igreja do Messi. Messi não trapaceia, Messi não sacaneia, Messi não põe a mão na bola. Messi não trai a mulher. Messi leva os filhos para a escola. Messi mal é argentino, cresceu na Espanha. Messi é do Barcelona, time que todo brasileiro aprendeu a admirar (está provisoriamente no Qatar Saint-Germain, mas vai voltar, acreditam).

E até quando ele diz "que mirás, bobo?" para um rival é um guti-guti. "Olha que bonitinho, chamou o amiguinho de bobo". Enfim, Messi é o queridão do futebol. Essa turma queria inclusive fazer um tratado de "mútua extradição" e trocar Messi por Neymar, sem troco. Preferem o espírito boa-praça do dito argentino.

"Com esses argentinos não dá, não quero que eles ganhem", avisa Danilo Silva, 33, engenheiro que inclusive esteve no Qatar, onde acompanhou o Brasil até as oitavas de final, contra a Coreia do Sul. Silva lembra também os recentes casos de racismo na Libertadores, quase todos envolvendo a torcida argentina.

Mas, caso a Argentina ganhe, "o que me deixa um pouco feliz é que o Messi vai ganhar, na despedida da Copa, gosto muito dele", se derrete o engenheiro. "Gosto da postura dele. Ele é argentino… mas cresceu na Espanha", completa.

O certo é que após a final deste domingo, com França e Argentina lutando pelo tricampeonato mundial, um desses grupos vai comemorar, ou dois.

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