Descrição de chapéu Futebol Internacional Itália

Em 1990, torcedores do Napoli enterraram Berlusconi ao celebrar título em Milão

Tom da festa era o triunfo dos oprimidos sobre os opressores

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São Paulo

Quem chegasse na tarde do dia 29 de abril de 1990 à praça do Duomo, no centro de Milão, presenciaria uma folia napolitana. Em sua maioria trabalhadores que deixaram a terra natal, no empobrecido sul da Itália, para tentar ganhar a vida na rica cidade do norte, festejavam, numa apoteose catártica, o triunfo dos oprimidos sobre os opressores.

Naquele domingo, cheguei lá por volta das 18h. Como escrevi à época (estava havia pouco em Milão como correspondente da Folha), formava-se rapidamente uma pequena multidão de torcedores do Napoli –aos urros e cânticos. Numa ocupação provisória, agitavam suas bandeiras brancas e azuis aos pés da enorme catedral gótica, que Goethe chamou de "montanha de mármore de mau gosto" e Stendhal admirou por suas intermináveis filigranas.

Bandeiras e faixas decoram rua em Nápoles, na preparação para o título italiano - Alberto Pizzoli - 24.mar.23/AFP

Pouco antes, o Napoli havia conquistado seu segundo "scudetto", deixando para trás o poderoso Milan dos holandeses Van Basten e Ruud Gullit, treinado por Arrigo Sacchi. Em quatro anos, a então modesta equipe sulista se tornara uma sensação europeia e mundial. Além dos dois títulos nacionais, levantou uma Copa da Uefa e outra da Itália.

O principal responsável pelo sucesso chamava-se Diego Maradona, o supercraque que saiu do Barcelona em 1983 e foi contratado pelo Napoli um ano depois.

Dois brasileiros se juntaram ao argentino genial naquele time histórico, o meio-campista Alemão e o centroavante Careca. E tinha também o italiano Giordano, que fez com Maradona e Careca o chamado trio "MaGiCa".

Na véspera daquele domingo, o Milan tinha feito seu dever de casa, derrotando o Bari por 4 a 0. Para ser campeão, precisaria de uma derrota dos napolitanos para a Lazio. Não aconteceu. A "squadra" de Maradona e Careca venceu por 1 a 0 e encerrou o assunto naquele glorioso domingo.

A capital lombarda teve que engolir seu renitente preconceito contra a gente do sul, que fez na praça um carnaval daqueles que só o futebol pode propiciar. Os vendedores de sorvetes para turistas, os batalhadores dos serviços e da indústria, aqueles pejorativamente chamados de "terrone" (tratados como alguns imbecis tratam os nordestinos no Sudeste do Brasil) subiram ao trono. Numa vingança simbólica, encenaram ali na praça um enterro do magnata Silvio Berlusconi, o empresário de ultradireita que havia comprado o Milan e em breve se tornaria premiê italiano.

Sim, também havia os sulistas endinheirados –o napolitano de Mercedes, o napolitano de Alfa Romeo, o napolitano de lenço de seda, que desfilou pela cidade em alegre buzinaço.

Talvez a festa se repita, não se sabe se neste fim de semana ou mais à frente. Certo é que o Napoli está muito perto de repetir a festa do "scudetto" 33 anos depois.

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