Descrição de chapéu Campeonato Paulista

Treinador do Água Santa se inspira nos argentinos e fará estágio no River

Thiago Carpini conduz equipe de Diadema em surpreendente final com o Palmeiras no Paulista

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São Paulo

Em fevereiro de 2020, uma entrevista de Thiago Carpini no Brinco de Ouro teve uma repercussão maior do que normalmente ocorre com as declarações de técnicos do Guarani.

Então comandante o time de Campinas, ele fez uma crítica à nova geração de jogadores e às categorias de base do futebol nacional. De um modo geral, disse que havia pouco comprometimento entre os mais novos, razão pela qual ele havia acabado de rebaixar ao sub-20 um jogador do elenco profissional.

Três anos depois, o problema que o técnico classificou como "geracional" ainda o incomoda. Aos 38 anos, o jovem treinador é fruto de uma safra que, segundo ele, deveria inspirar-se no exemplo dos argentinos, atuais campeões mundiais.

"O que me agrada no futebol argentino é a competitividade, como eles encaram o jogo. Isso me encanta. O futebol brasileiro precisa resgatar isso", diz à Folha. "Nossa capacidade técnica é indiscutível, mas a nossa competitividade, a nossa gana de vencer, a gente perdeu um pouco com o tempo."

Thiago Carpini, técnico do Água Santa, finalista do Campeonato Paulista 2023
Thiago Carpini, técnico do Água Santa, finalista do Campeonato Paulista 2023 - Esporte Clube Água Santa no facebook

À frente do Água Santa desde maio do ano passado, ele buscou imprimir essa marca no elenco da equipe de Diadema durante o Campeonato Paulista deste ano.

Seu método foi dar mais atenção ao relacionamento com os atletas, à gestão do grupo e aos treinos. Para ele, "o dia a dia é mais importante do que o jogo", uma opinião formada com base na leitura de livros escritos por um espanhol, Pep Guardiola, de quem é fã. "Assim ele tira o melhor dos atletas."

Com as referências do técnico do Manchester City, o paulista nascido em Valinhos alcançou um resultado surpreendente. Levou uma equipe que até 2011 jogava no futebol amador à final do Estadual, eliminando o São Paulo e o Red Bull Bragantino nos mata-matas.

Na decisão, terá outro rival da elite do futebol brasileiro pela frente, o Palmeiras, atual campeão estadual e também nacional.

"Por que não nos permitir sonhar um pouco mais? O favoritismo não é nosso, não temos responsabilidade nenhuma de ser campeões. Mas claro que a gente vai tentar fazer um grande jogo, digno de uma final", diz.

O jogo de ida será neste domingo (2), na Arena Barueri, às 16h. A partida de volta será no dia 9, no mesmo horário, no Allianz Parque. Os duelos serão transmitidos por Record, YouTube, HBO Max, Paulistão Play e Premiere —essa é a única fase definida em dois confrontos.

Os holofotes mudaram a rotina de Carpini e do Água Santa. Desde a vitória sobre o São Paulo nos pênaltis (6 a 5), com empate sem gols no tempo regulamentar, os pedidos de entrevistas se acumularam.

"Acho que tem sido uma média de três por dia", comenta. "É um momento histórico para o clube, e a gente tem que desfrutar", afirma.

O desempenho na competição já rendeu ao treinador uma renovação de contrato. O vínculo, que tinha duração até o fim do torneio, foi estendido até dezembro de 2024. O período abrange a disputa da Série D do Campeonato Brasileiro do próximo ano, para a qual a agremiação obteve classificação.

Em 2023, terminado o Paulista, o Água Santa não vai mais jogar, motivo pelo qual deve se desfazer de quase todo o elenco finalista.

Durante o período de inatividade do clube, Carpini também estará fora. Ele já tem marcada uma viagem à Europa, onde fará estágios em clubes da Alemanha e da Inglaterra, incluindo o Manchester City, onde terá contato com Guardiola.

"Quero estar lá durante um período com jogos da Champions para acompanhar não só as partidas como os treinos da semana que antecede esses jogos", conta o profissional, que pretende tirar a licença de técnico da Uefa (União das Federações Europeias de Futebol).

Antes, ele fará uma escala na Argentina. Lá, além de completar a sua licença da AFA (Associação do Futebol Argentino), o treinador vai passar um período no River Plate.

Para ele, a formação dos técnicos argentinos está em um nível superior ao dos brasileiros.

"Prova disso é que o futebol argentino está muito mais próximo do futebol europeu", diz. "Vejo treinadores estrangeiros ocupando espaço no nosso futebol, e nós também precisamos nos preparar para ocupar os espaços lá fora."

Para ele, os argentinos têm mais facilidade de consolidação na Europa. "O futebol brasileiro exporta bastante, muitos jogadores fazem sucesso, mas muitos batem lá e não conseguem se firmar."

Ele mesmo não teve essa oportunidade. Como atleta, teve pouco destaque, mas acumulou passagens por importantes clubes brasileiros, como Guarani, Atlético Mineiro e Bahia. Parou de jogar em maio de 2017, aos 33 anos, forçado por sucessivas lesões.

No mesmo ano, aceitou um convite do técnico Evaristo Piza para ser assistente no XV de Piracicaba e deu início à trajetória à beira dos gramados, um desejo que já cultivava como atleta. Antes de pendurar as chuteiras, deu início ao curso de educação física.

No segundo semestre daquele ano, o ex-meia Fumagalli, à época superintendente de futebol do Guarani, levou Carpini para o time de Campinas, também como auxiliar. Apenas 40 dias depois, Roberto Fonseca acabou demitido em meio à campanha na Série B, e o recém-chegado foi promovido a treinador.

Com o novato no comando, o Guarani conseguiu escapar do rebaixamento à Série C. No ano seguinte, fez uma boa campanha no Estadual. Embora o time não tenha avançado ao mata-mata, seu futebol foi reconhecido por Tite, ainda técnico da seleção brasileira. Para ele, Carpini foi uma das grandes revelações daquele ano.

Após dirigir o time de Campinas, ele iniciou uma jornada pelo estado de São Paulo e teve trabalhos no Oeste, na Inter de Limeira, no Santo André e na Ferroviária até chegar ao Água Santa, com o qual tem agora a chance de ganhar seu primeiro título como técnico.

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