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Autoridades buscam dar respostas a racismo contra Vinicius Junior; jogadores protestam

Depois de prisões de torcedores, governo espanhol e LaLiga falam em medidas mais enérgicas

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São Paulo

Criticadas pela passividade diante de casos de racismo no futebol, autoridades espanholas tentaram nesta terça-feira (23) dar uma resposta ao mundo com prisões e pedidos de mudanças na legislação. Com manifestações contra a discriminação racial, jogadores retornaram a campo pelo Campeonato Espanhol, após as ofensas sofridas no último domingo (21) por Vinicius Junior.

Sete torcedores foram presos nesta terça-feira (23) pela polícia da Espanha. Todos são suspeitos de gritos racistas contra brasileiro que atua pelo Real Madrid. Três deles, jovens entre 18 e 21 anos, passaram por interrogatório e acabaram liberados horas depois.

Vinicius Junior reage a ofensas racistas que recebeu no estádio Mestalla
Vinicius Junior reage a ofensas racistas que recebeu no estádio Mestalla - Pablo Morano-21.mai.23/Reuters

Os soltos foram apontados como responsáveis pela discriminação contra o jogador na partida realizada em Valencia, no último domingo (21).

Em comunicado, a polícia afirmou que contou com a ajuda do clube rival do Real Madrid nas investigações, que continuam abertas "para identificar outros possíveis autores".

Vinicius Junior reclamou de ter sido insultado e chamado de "macaco" durante o jogo entre Real e Valencia, que chegou a ser interrompido pela arbitragem. Estes ataques levaram a Procuradoria a abrir uma investigação por "crime de ódio", categoria penal que, na Espanha, inclui crimes raciais.

Após confusão em campo com adversários, ele foi expulso. Nesta terça, a Real Federação Espanhola anulou o cartão vermelho. Isso o libera para entrar em campo nesta quarta-feira (24), quando o Real Madrid enfrenta o Rayo Vallecano.

A entidade também decidiu fechar por cinco rodadas a tribuna Mario Kempres, no estádio Mestalla, de onde saiu a maioria da ofensas racistas. O Valencia foi multado em 45 mil euros (R$ 241 mil, pela cotação atual).

Além dos três torcedores liberados pela polícia, outros quatro continuam detidos. Eles fazem parte de investigação sobre boneco com uniforme do atacante pendurado em uma ponte de Madri no fim de janeiro deste ano.

Três são "membros ativos de um grupo radical de torcedores do Atlético de Madrid", diz nota divulgada pela polícia espanhola.

O boneco foi colocado para simular um enforcamento depois da vitória de 3 a 1 do Real no dérbi da capital pelas quartas de final da Copa do Rei. Ao lado, estava faixa com a frase "Madri odeia o Real".

Uma lista produzida pela própria LaLiga aponta que Vinicius Junior foi alvo de ao menos nove ataques racistas pelo torneio nacional desde que chegou ao Real Madrid, em 2018. A maioria dos casos segue sem torcedores identificados ou punidos.

Antes dos jogos desta quarta-feira pelo Campeonato Espanhol, as equipes mostraram faixas de protesto pedindo que o racismo seja expulso do futebol.

A mesma mensagem foi exibida nos confrontos entre Real Valladolid x Barcelona, Celta de Vigo x Girona e Real Sociedad x Almería.

Mesmo jogadores do Valencia prestaram solidariedade ao brasileiro. O norte-americano Yunus Munsah escreveu em suas redes sociais que "se você é racista contra ele, você é racista contra mim", referindo-se ao atacante.

As faixas mostradas pelos atletas, que tinham logotipo de patrocinador do campeonato, é mais uma ação da própria liga para tentar amenizar as críticas que recebeu após o incidente.

Vinicius voltou a fazer postagem sobre o assunto para lembrar que as ofensas recebidas não foram atos isolados. Ele mostrou, em sua conta no Instagram, imagens de mensagens racistas direcionadas ao lateral Roberto Carlos em partida do Real contra o Barcelona, no Camp Nou, em 1997.

A repercussão do caso e a pressão fizeram as autoridades espanholas se solidarizarem ao atacante. O Ministério da Igualdade Racial, do Brasil, e o Ministério da Igualdade, da Espanha, publicaram uma nota conjunta.

"O referido acordo baseia-se no fato de que o racismo é estrutural em nossas sociedades e que eventos como o ocorrido em Valencia não são eventos isolados, mas estão profundamente enraizados na sociedade", diz o texto conjunto das pastas.

LaLiga, responsável pela organização do Campeonato Espanhol, vai pedir mais poderes para tomar medidas contra clubes e torcedores acusados de discriminação.

Em nota publicada em seu site, a entidade que organiza o campeonato de clubes da Espanha se diz "frustrada" por não ter condições de impor punições mais severas.

"Diante dessa grave situação, nos próximos dias LaLiga solicitará formalmente que se proceda modificação da lei (...) contra a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância no esporte", diz o texto publicado.

Ela quer ter poder para sancionar clubes com o fechamento total ou parcial de estádios, a proibição de torcedores envolvidos em caso de racismo e a imposição de sanções econômicas "sem prejuízo da adoção de medidas provisórias ou cautelares que possam proceder atendendo a natureza e gravidade dos fatos".

O presidente de LaLiga, Javier Tebas, havia minimizado o racismo contra Vinicius Junior e disse que não permitiria ao jogador brasileiro manchar a imagem do torneio.

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