Descrição de chapéu Futebol Internacional

Com gritos de 'LaLiga racista', manifestantes protestam no consulado da Espanha em SP

Movimento negro brasileiro se organiza para apoiar Vinicius Junior

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São Paulo

Dezenas de manifestantes se reuniram em frente do Consulado da Espanha, na zona sul da capital paulista, na tarde desta terça-feira (23). O ato foi organizado para prestar solidariedade ao atacante Vinicius Junior, depois da série se ataques racistas que o jogador vem sofrendo.

Com gritos de "LaLiga racista" e cobranças por ações do governo espanhol, o protesto contou com faixas, instrumentos musicais, caixas de som e sinalizadores.

A Polícia Militar chegou a pedir que os manifestantes retirassem as faixas dos muros do consulado, mas desistiram diante das reclamações dos participantes. Segundo os policiais, o pedido para a retirada partiu de membros do Consulado da Espanha.

Em frente ao Consulado da Espanha, em São Paulo, movimentos negros fazem protesto com sinalizadores e faixas contra o racismo sofrido por Vinicius Junior em jogo da Liga Espanhola
Em frente ao Consulado da Espanha, em São Paulo, movimentos negros fazem protesto contra o racismo sofrido por Vinicius Junior em jogo da Liga Espanhola - Bruno Santos/Folhapress

Além do movimento negro, o ato contou ainda com a participação de sindicatos, partidos políticos e parlamentares.

Entre as intervenções, manifestantes cantaram e tocaram samba. Em vários discursos, os organizadores afirmaram que a música na porta do prédio era para simbolizar as aversões que existem no país europeu às danças do brasileiro.

"Nós vamos estar presentes no amistoso da seleção brasileira na Espanha, já que não quiseram cancelar", disse André Alexandre, presidente da Unegro de São Paulo.

Segundo ele, o movimento ainda está se organizando e não sabe quantos membros assistirão à partida.

A CBF mantém o planejamento de jogar um amistoso, em junho, na Espanha. O adversário ainda não está confirmado.

"Nós, brasileiros, levamos alegria [em referência às danças do jogador após os seus gols]. Nós temos uma história de tantos negros famosos que fizeram a história do futebol da Espanha. O futebol espanhol é o que é hoje graças aos negros brasileiros", diz Alexandre.

Ele citou jogadores como Romário, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Neymar, como exemplos.

Outros manifestantes falaram do histórico do presidente de La Liga, Javier Tebas, que tem ligações com um partido de extrema-direita.

Também lembraram que casos de racismo ocorrem com frequência no Brasil, tanto no futebol quanto fora dele. "Não é só sobre futebol", era uma das frases vistas em vários cartazes. "Não fechem os olhos pro racismo que ocorre aqui", dizia outro.

"Viemos nessa casa, que faz parte do Estado espanhol, para responsabilizar a Espanha pelo que acontece. Ele sofreu insultos racistas, violência, injustiça dentro do campo", diz a vereadora de São Paulo Elaine Mineiro (PSOL-SP).

"É absurdo pensar que, no final da partida, nada havia acontecido", diz.

Para ela, existe uma demonstração óbvia sobre a conivência do Estado espanhol. "E a própria LaLiga tinha condições de evitar que isso continuasse acontecendo."

"A gente só veio provar que o governo espanhol é racista, porque aceita o racismo. Assim como o governo brasileiro também aceita o racismo", disse Evaldo, do movimento negro de Salvador.

Ele se disse muito indignado com a situação da população negra brasileira, e pediu para que não fosse incluído seu sobrenome na reportagem. O manifestante criticou a imprensa por, segundo ele, por só dar atenção aos casos de racismo de grande repercussão. Ele afirma que combater o ataque a Vinícius Junior é importante, mas não é o único e que agressões deste tipo não ocorrem só na Espanha.

"A gente vai continuar morrendo porque todos os governos brasileiros, independente se é de esquerda ou de direita, não fizeram o seu papel, que é reparar a minha população, que morre. Todo mundo vai ficar queto olhando a gente morrer?".

A psicóloga Andreia Dias afirma que não faz parte oficialmente de nenhum dos movimentos organizadores do protesto, mas que acompanha reuniões e tenta participar das manifestações. Segundo ela, a mobilização é necessária diante da força do racismo.

Ela fez coro as outras pessoas que repetiram durante toda a manifestação a importância de cobrar medidas também relacionadas ao futebol brasileiro. Andreia lembrou de casos como o do goleiro Aranha, que foi atacado por parte da torcida do Grêmio, ou do zagueiro Antônio Carlos, que fez um gesto racista quando jogava pelo Juventude.

"Tudo fica por isso mesmo. A imprensa da Espanha relativiza, mas a nossa também fez isso muitas vezes. É só olhar as mesas redondas feitas por homens brancos. Isso explica muita coisa", diz. "As pessoas não têm ideia do impacto na saúde mental que isso causa. São só do Vini, de todo mundo que precisou assistir aquelas cenas e se sentiu atingido e amedrontado".

Procurada, a LaLiga disse que não vai se manifestar a respeito do protesto. Ao longo desta terça, porém, a entidade divulgou nota em que afirma buscar mais poderes para agir contra o racismo.

"Diante dessa grave situação, nos próximos dias, a LaLiga solicitará formalmente que se proceda modificação da lei (...) contra a violência, o racismo, a xenofobia e a intolerância no esporte", diz um trecho do texto publicado pela entidade que organiza o Campeonato Espanhol.

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