O 'alérgico a vacinas' Aaron Rodgers é o salvador do New York Jets

Veterano é a nova cartada do time que tem como dono o herdeiro da Johnson & Johnson

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São Paulo

Com cabelo curto, vestido de maneira impecável e segurando a camisa verde de número 8, Aaron Rodgers disse todas as coisas certas. Estava ali para ganhar o troféu mais importante dos esportes norte-americanos. Tinha muito a ajudar. Desejava dar alegrias a uma torcida sofrida da NFL (a liga profissional de futebol americano). Mas não se esqueceu de fazer uma ressalva.

"Não sou um salvador."

Aaron Rodgers segura a camisa de seu novo time - Elsa - 26.abr.23/Getty Images via AFP

A ressalva pode ter chegado tarde demais. Depois de uma das mais prolongadas sagas da história recente, o jogador assinou contrato com o New York Jets. Não sem antes apresentar lista de reforços com os quais queria jogar, conseguir reestruturar seu contrato e ver sua nova equipe ceder para o Green Bay Packers, seu antigo time, uma série de escolhas futuras no "draft", o sistema de recrutamento de jovens que chegam à liga.

Além do "quarterback" de 39 anos, os Jets receberam a primeira (15ª posição) e quinta (170ª) escolhas no "draft" que seriam dos Packers. Mas, em troca, deram seu primeiro direito de seleção (13ª posição), o segundo (42ª) e o sexto (207ª) de 2023. Se Rodgers atuar em pelo menos 65% dos jogos na próxima temporada, o Green Bay também terá direito à segunda escolha do New York do ano que vem.

É um pacote relevante porque o "draft" é o processo de seleção de jogadores que saem da universidade e a principal ferramenta de reformulação dos elencos na NFL.

"Eu sou um cara velho, então quero estar em um lugar em que possa vencer. Acredito que possa conseguir isso aqui", disse, em sua apresentação.

À exceção do Buffalo Bills, que jamais venceu o Super Bowl, a final da liga, não há nenhum time mais desesperado pelo título do que o New York Jets. Aaron Rodgers quer consolidar seu legado como um dos maiores "quarterbacks" da história. Precisa de mais conquistas. Em Green Bay, onde assumiu a vaga do lendário Brett Favre em 2005, só consegui uma: em 2011.

Uma boa campanha e, talvez, o título do Super Bowl, podem também restaurar o atrativo publicitário de um dos nomes mais procurados da NFL para comerciais. Durante a pandemia de Covid-19, Rodgers se recusou durante várias semanas a dizer se havia tomado vacina. Quando confessou não ter recebido nenhuma dose, afirmou ser alérgico a um dos componentes.

Ele declarou na época que procurava tratamentos alternativos para "se proteger". Um deles foi o uso de ivermectina, medicamento contra parasitas e vermes, sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus.

O astro da liga esportiva mais importante dos Estados Unidos, que atua na posição mais valorizada de qualquer modalidade no país, transformou-se assim em espécie de garoto-propaganda de campanhas contra vacinação.

Em ironia percebida pelos seus críticos, Rodgers vai jogar para time que tem como dono Woody Johnson, herdeiro da Johnson & Johnson, fabricante da vacina que o atleta se recusou a tomar. O empresário foi embaixador dos Estados Unidos para o Reino Unido durante a presidência de Donald Trump (2017-2021), que menosprezou o impacto da pandemia e não se entusiasmou com as vacinas.

Rodgers diz ter buscado meios alternativos de proteção - Elsa/Getty Images via AFP

Rodgers estava acostumado a vestir a camisa 12, um número aposentado nos Jets por ter pertencido a outro "quarterback". Joe Namath foi o maior nome da história da equipe, lançador no único Super Bowl da franquia, o de 1968. Namath se tornou idolatrado não apenas pela vitória mas porque, nos dias anteriores à partida contra o Baltimore Colts, amplo favorito, assegurou que os Jets venceriam. Cumpriu.

Namath disse que não haveria problema. Cederia seu número para Rodgers. Em um gesto perfeito de relações públicas, o novo jogador dos Jets se derreteu em elogios a Namath, falou que não poderia usar o número de lenda e, em vez disso, escolheu o 8.

Rodgers precisa também deixar para trás a imagem de quem colocou a faca no pescoço do New York com pedidos de jogadores de ataque para atuar ao seu lado. A equipe contratou quatro atletas que foram seus companheiros em Green Bay e estavam em sua "lista de desejos" apresentada durante as negociações.

Chegaram a Nova York os "wide receivers" Allen Lazard e Randall Cobb, o "quarterback" reserva Tim Boyle e o "offensive tackle" Billy Turner.

A percepção era que Rodgers, consciente de que os Jets estavam desesperados por um novo nome para a posição, fez do time refém nas negociações.

"Eu acho que esta é uma narrativa tola", reclamou o técnico Robert Saleh. "Há 32 equipes na NFL, e é comum, quando há mudanças, você querer cercar-se de pessoas que já conhece."

O acordo financeiro foi complicado porque as franquias na NFL possuem um limite de gastos com a folha salarial. Para reestruturar seu contrato, o jogador aceitou empurrar até 2027 o que tem a receber. Neste ano, terá o salário mínimo da liga: US$ 1,16 milhão (R$ 5,75 milhões). Até o fim do acordo, terá direito a mais US$ 107,65 milhões (R$ 533,2 milhões na cotação atual).

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