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Ryan Reynolds estrela no papel de investidor com olho vivo para esportes

Depois do sucesso no Wrexham, o ator de Hollywood aposta na F1, outro esporte que finalmente cresce nos Estados Unidos

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Christopher Grimes Samuel Agini
Los Angeles e Londres | Financial Times

O diretor de cinema Shawn Levy estava trabalhando duro em Londres, no fim do mês passado, em "Deadpool 3", com seu grande amigo Ryan Reynolds, quando surgiu a notícia de que o ator e empresário de Hollywood tinha feito mais um investimento espetacular.

Reynolds e outros investidores, incluindo os proprietários do Milan, RedBird Capital Partners, adquiriram uma participação de 24% na equipe Alpine da Fórmula 1, dando ao grupo apoiado pela Renault uma avaliação de US$ 900 milhões (R$ 4,3 bilhões).

Mas Reynolds, que está reprisando seu papel-título na franquia "Deadpool", não deu nenhuma indicação a seus colegas no set de filmagem de que estava prestes a fazer mais uma transação multimilionária –uma prova de sua incrível capacidade de conciliar seus papéis de negociador em série e superastro de Hollywood, disse Levy.

Ryan Reynolds no campo do Wrexham, um de seus investimentos - Oli Scarff - 29.jan.23/AFP

"Sempre suponho que Ryan esteja trabalhando em algo enorme nas sombras e nos bastidores, mas nunca sinto a distração ou o peso de tudo o mais que ele faz", disse Levy, que costuma trabalhar com Reynolds. "É um de seus superpoderes –ele tem essa visão empreendedora, mas [também] a capacidade de se concentrar inteiramente nas coisas que está fazendo em determinado momento."

Certamente, há muitas demandas à atenção de Reynolds. Ele estrelou três filmes em 2021 –"Dupla Explosiva 2 – E a Primeira-Dama do Crime", "Alerta Vermelho" e "Free Guy – Assumindo o Controle"–, seguidos por "O Projeto Adam" no ano passado. Assim como os filmes "Deadpool", os dois últimos foram feitos com Levy.

Sua vida de empresário tem sido tão agitada quanto a carreira de ator. Por meio de sua empresa, Maximum Effort, Reynolds lançou o gim Aviation, que vendeu para a Diageo em 2020 por US$ 610 milhões (quase R$ 3 bilhões, na cotação atual). E neste ano veio a venda do Mint Mobile, o grupo sem fio de baixo custo do qual ele era coproprietário, para a T-Mobile por US$ 1,35 bilhão (R$ 6,5 bilhões) –um acordo que vai lhe render US$ 300 milhões (R$ 1,44 bilhão).

Mesmo em questões de alto risco, Reynolds exibiu o humor brincalhão que o tornou um dos atores mais lucrativos de Hollywood. "Estamos tão felizes que a T-Mobile venceu uma oferta agressiva de última hora da minha mãe, Tammy Reynolds", disse ele, em comunicado quando o acordo foi anunciado.

Com o investimento na Alpine F1, Reynolds expandiu seu portfólio esportivo inicial –e pouco ortodoxo. Em 2021, ele e seu colega ator Rob McElhenney gastaram 2 milhões de libras (R$ 12,6 milhões, na cotação atual) para comprar o clube de futebol Wrexham e fizeram um reality show, "Welcome to Wrexham". O programa se tornou um sucesso mundial e ajudou a estimular o renascimento do derrotado time galês.

Por meio de uma mistura de investimento, marketing inteligente –geralmente construído em torno da personalidade de Reynolds– e a atração de Hollywood, o Wrexham conquistou seguidores internacionais e foi promovido de volta à liga de futebol inglesa após um período de 15 anos afastado.

Levy disse que o sucesso do Wrexham foi produto do olho de Reynolds para uma boa matéria-prima, que ele poderia então transformar num empreendimento maior. O ator também deixou sua marca nas camadas mais baixas do futebol inglês depois de fazer lobby para que um novo serviço global de streaming fosse criado para os fãs internacionais do Wrexham sintonizarem os jogos ao vivo.

"Ele gosta de construir histórias. Ele gosta de construir marcas. Ele gosta de construir empresas", disse Levy. "E seu empreendimento favorito é quando essas coisas se juntam, como aconteceu com o Wrexham, onde uma história é contada e, como resultado, uma marca e um negócio são construídos."

Reynolds, 46, percorreu o caminho mais longo para o sucesso. Ele cresceu como o caçula de quatro filhos em Vancouver, no Canadá, e começou a atuar na televisão quando adolescente. Depois, aos 20 anos, mudou-se para Los Angeles, onde teve uma carreira mediana na telinha.

A carreira cinematográfica de Reynolds começou no início dos anos 2000, mas muitas vezes ele atraiu mais atenção por sua vida amorosa (foi casado com Scarlett Johannson de 2008 a 2011 e agora é casado com Blake Lively) do que por seu trabalho no cinema. Foi só com o lançamento em 2016 de "Deadpool", que arrecadou mais de US$ 780 milhões (R$ 3,75 bilhões na cotação atual) nas bilheterias, que ele se tornou uma grande estrela de cinema.

Agora, com o acordo com a Alpine, Reynolds e seus sócios estão investindo em outro esporte que finalmente está crescendo nos Estados Unidos, assim como o futebol.

A Fórmula 1 lutou por muito tempo para entrar no mercado norte-americano, mas lentamente ganhou popularidade desde que o bilionário norte-americano das telecomunicações John Malone adquiriu a F1 num acordo de US$ 8 bilhões (R$ 38,4 bilhões, na cotação atual), em 2017, por meio de seu grupo Liberty Media.

O esporte conquistou um público maior por meio de transmissões de videogames e do sucesso da série de bastidores "Dirigir para Viver", da Netflix. Além da corrida anual em Austin, no Texas, a F1 assinou um contrato de dez anos para sediar um Grande Prêmio em Miami a partir de 2022, e, no final deste ano, Las Vegas terá a primeira corrida noturna após um hiato de 41 anos.

Esteban Ocon pilota carro da Alpine, nova aposta de Reynolds - Andrej Isakovic - 7.jul.23/AFP

Os novos investidores da Alpine estão comprando uma franquia que não consegue vencer os campeonatos mundiais de F1 desde 2006. Mas o sistema fechado do esporte –há apenas dez equipes– significa que mesmo as franquias de baixo desempenho são vistas como ativos valiosos, especialmente desde que foram implementadas mudanças que limitam quanto as equipes podem gastar no desenvolvimento de carros.

Para Reynolds e Levy, também há muito em jogo no próximo episódio de "Deadpool", previsto para o ano que vem. Ele marcará a introdução da franquia no Universo Cinematográfico da Marvel –um grupo de mais de 30 filmes que incluem algumas das maiores bilheterias de todos os tempos. E chega num momento em que alguns analistas temem que a máquina da Marvel tenha perdido parte de sua tração.

Com tanta coisa em jogo no filme, Levy admitiu que temia que o trabalho empreendedor de Reynolds pudesse tirar um pouco de sua atenção. Mas o ator garantiu a ele que sua mente está totalmente focada no filme.

"Ryan me olhou nos olhos e disse: ‘[Deadpool] foi o que lançou esta nova etapa da minha carreira’", lembrou Levy. "É mais importante do que qualquer outro empreendimento que eu tenha", afirmou a ele Reynolds.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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