Descrição de chapéu Futebol Internacional

Astros de Hollywood mudam patamar de time da quinta divisão inglesa

Astro de 'Deadpool' e criador de série americana são donos do Wrexham, do País de Gales

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São Paulo

Quando um escritório de advogados informou a Wrexham Supporters Trust (Associação de Torcedores Wrexham, em inglês) do interesse de dois empresários em comprar o clube, a especulação começou: quem seriam?

"Nossa esperança era que fosse alguém com dinheiro e um projeto de verdade", afirma o presidente do grupo, Barry Jones.

O ator Ryan Reynolds, um dos donos do Wrexham, comemora gol da equipe contra o Sheffield United
O ator Ryan Reynolds, um dos donos do Wrexham, comemora gol da equipe contra o Sheffield United - Jason Cairnduff-29.jan.23/Reuters

Faltou acrescentar que eles eram também astros de cinema. Por cerca de US$ 3,5 milhões (R$ 18,2 milhões, na cotação atual), o terceiro time profissional de futebol mais antigo do mundo, fundado em 1886, foi vendido para os atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney em 2021.

O canadense Reynolds ficou conhecido mundialmente pelo filme "Deadpool" e recebe por longa-metragem que participa cerca de US$ 10 milhões. (R$ 52 milhões). O norte-americano McElhenney é o criador da série "It’s Always Sunny in Philadelphia". No ano passado, ele recebeu US$ 50 milhões (R$ 260 milhões) pelos direitos do projeto e por ter atuado nele.

A compra do Wrexham foi aprovada por 98,5% dos sócios da associação, que era dona da agremiação desde que, há cerca de 20 anos, conseguiu reunir 100 mil libras esterlinas (R$ 624 mil hoje em dia) para evitar que o clube fosse à falência.

"Nós colocamos a comunidade em primeiro lugar. Cada vez que temos de tomar uma decisão ou tomar uma direção, sempre buscamos o conselho das pessoas que conhecem o clube e pensamos se é o melhor para a comunidade. Queremos criar uma fórmula que seja vencedora a longo prazo, não a curto prazo", afirmou McElhenney à BBC, canal do Reino Unido.

"Eles realmente têm feito isso. Wrexham está no mapa do futebol. Temos recebido visitantes do mundo todo", concordou Jones.

Apesar de pagar salários para os jogadores e ter recebido dos proprietários famosos um investimento inédito para o torneio de que participa, o Wrexham não está em uma liga considerada profissional. Na pirâmide do futebol inglês, existem a Premier League, a Championship, a League One e a League Two. O que vem abaixo disso é considerado amador.

É o caso da quinta divisão, a National League, da qual o Wrexham ocupa o segundo lugar, a cinco pontos do líder Notts County, mas com dois jogos a menos.

Subir para a League Two, profissional, mudaria o patamar técnico e financeiro.

Não está claro porque a dupla de astros de cinema e TV de dois países sem tradição no futebol decidiu comprar um time de torneio semiprofissional. Apesar de ser galês, o Wrexham está na pirâmide da liga nacional inglesa.

Havia o interesse cinematográfico, claro. A presença dos dois ensejou a produção do documentário em série "Welcome to Wrexham", disponível no Brasil no Star+.

Os episódios retratam a experiência de Reynolds e McElhenney como dirigentes e as desventuras da equipe na tentativa frustrada de acesso para a quarta divisão na temporada passada. Mas a presença deles mudou a perspectiva da equipe.

Ela foi incluída no Fifa 22. Foi a primeira não profissional da história do jogo.

Isso em si é um feito para um clube antigo, mas sem conquistas de expressão. Sua maior glória foi ter sido campeão 23 vezes da Copa de Gales. Em 1992, na Copa da Inglaterra, causou uma das maiores zebras da história da competição ao derrotar o então campeão nacional Arsenal, por 2 a 1. Na Recopa europeia do ano seguinte, bateu o Porto por 1 a 0.

Foram resultados de que Reynolds e McElhenney logo ficaram sabendo porque há pouco para comemorar. A região em torno do estádio Racecourse Ground, fundado em 1807, foi considerada pelo governo como a terceira mais pobre do país. Os atores compraram o terreno para fazer melhorias também para a comunidade.

Nesta temporada, McElhenney teve um gosto do que representa ser dono de um time modesto e viver a roda-gigante que é o futebol. O Wrexham recebeu o Sheffield United, da terceira divisão, pela Copa da Inglaterra, e esteve a segundos da classificação para as oitavas de final. Levou o empate e depois perdeu na partida extra.

O confronto foi exibido pela BBC para todo o Reino Unido. A cabine de transmissão para o pós-jogo foi construída ao lado da barraca de hambúrguer.

Em caso de acesso, os donos prometeram prêmio de cerca de US$ 400 mil (cerca de R$ 2 milhões) a ser dividido pelo elenco. Jogadores de divisões superiores aceitam propostas do Wrexham por causa dos bons salários e da atenção dada ao clube pela mídia. Marcas globais como a rede social Tik Tok se tornaram patrocinadoras.

A média de público dos jogos é de cerca de 10 mil pessoas, superior às de algumas agremiações da Série A do Campeonato Brasileiro.

"Mais de 25 mil camisas foram vendidas no último ano. Isso é incrível!", espantou-se Barry Jones.

É uma atenção que a cidade de 61 mil habitantes, que teve seu auge com as minas de carvão e produção de aço, desacostumou-se a ter. E o inesperado é que tenha chegado por causa de dupla de atores que, em circunstâncias normais, jamais pisaria em Wrexham.

"Nós vamos melhorar. Vamos ser os melhores que pudermos ser e subir de divisão", afirmou Les Reed, chefe de desenvolvimento.

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