Camisa rosa de Lionel Messi vira febre que atravessa continentes

Falsificações do uniforme do Inter Miami inundam o mercado global para suprir a escassez

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Kevin Draper Rory Smith
Miami | The New York Times

A camisa rosa do Inter Miami, de Lionel Messi, está em todos os lugares. Tornou-se quase impossível adquiri-la, mas lá está ela, paradoxalmente, nas costas de milhares de fãs que lotam estádios norte-americanos, pendurada em barracas de mercado em Bancoc e Buenos Aires, em quase todos os campos onde crianças se reúnem para jogar futebol na Inglaterra.

O fato de a camisa ter se tornado, aparentemente da noite para o dia, a peça mais quente de mercadoria esportiva do planeta é uma simples equação capitalista. O resultado é uma combinação irresistível: um dos atletas mais reconhecíveis e amados de sua geração; uma cor distinta e exótica; e a eficiência implacável das fábricas têxteis do sudeste asiático.

No entanto, poucas pessoas previram isso. Tor Southard estava mais bem posicionado do que a maioria, mas, mesmo assim, foi pego de surpresa. Como diretor sênior de futebol da Adidas na América do Norte, ele vinha recebendo emails de colegas havia quase um ano perguntando se a maior estrela da empresa, Messi, jogaria no Inter Miami, também cliente da Adidas.

Até onde ele sabia, eram apenas rumores. Assim como o resto do planeta, Southard descobriu que era verdade apenas em 7 de junho, o dia em que o craque anunciou suas intenções em uma rara entrevista a dois veículos de notícias espanhóis.

O que parecia improvável aconteceu, e Lionel Messi passou a defender as cores do Inter Miami - Sam Navarro - 7.out.23/USA Today Sports via Reuters

Dentro de alguns dias, a empresa recebeu quase 500 mil pedidos de lojas e fornecedores por camisas na cor rosa suave e elétrica de Miami. É um tecido específico e uma tonalidade específica: Pantone 1895C. "Não é como se fosse branco e tivéssemos estoque que pudéssemos reaproveitar", disse Southard.

A Adidas precisaria de mais daquele tecido. Muito mais.

'Prioridade número 1'

No dia em que Messi anunciou que assinaria com o Inter Miami, a Adidas tinha um estoque de camisas do time em lojas e instalações de armazenamento em todo os Estados Unidos. Não durou.

Conseguir o tecido para fazer mais foi apenas o primeiro passo. Embora a Adidas não pudesse vender as camisas oficiais de Messi até que seu contrato fosse formalmente assinado, o que ocorreu em 15 de julho, ela fez pedidos de rolos enormes do tecido rosa necessário para fabricá-las após a entrevista dada pelo atleta à televisão espanhola na primeira semana de junho.

O risco era que o acordo ainda pudesse desmoronar.

Em circunstâncias normais, os varejistas encomendam camisas com até nove meses de antecedência. Grandes marcas de artigos esportivos, como Adidas e Nike, geralmente preferem produzir grandes lotes de equipamentos de equipe, em vez de fabricar para atender à demanda, como as cadeias de moda rápida costumam fazer.

A Adidas sabia que seu plano usual não funcionaria.

Em 2021, quando Cristiano Ronaldo voltou para o Manchester United, um dos poucos varejistas com os quais a Adidas trabalha, a Fanatics, pediu mais 1 milhão de camisas. Um ano depois, quando Messi ajudou a Argentina a vencer a Copa do Mundo, a Adidas teve que produzir e enviar mais 400 mil camisas da seleção em um período de três meses.

Colocar camisas rosas com o nome e o número 10 de Messi no mercado, disse Southard, imediatamente se tornou a "prioridade número 1 da Adidas, globalmente".

Para agilizar o processo, a empresa obteve o tecido rosa de poliéster reciclado para as camisas o mais próximo possível das fábricas do sudeste asiático que as produziriam. Os pedidos de outros detalhes, como logotipos e brasões, foram acelerados em outras instalações, às vezes pulando a produção de roupas para outras equipes da Adidas. Para reduzir os prazos de entrega, os primeiros lotes das camisas de Messi foram enviados em pequenos embarques, quase assim que saíam da linha de produção.

O esforço frenético de produção deu certo. Inicialmente, a Adidas havia dito aos seus varejistas para começar a vender as camisas com a promessa de entrega até 15 de outubro. Mas as primeiras edições chegaram aos Estados Unidos em 18 de julho. Elas foram enviadas diretamente para Miami, onde a demanda era maior, e se esgotaram quase instantaneamente.

'Todo o mundo tem uma conexão'

Em uma esquina da rica vizinhança de Brickell, em Miami, dois jovens montaram uma loja temporária com produtos de Messi. Havia prateleiras cheias de camisas do Inter Miami em rosa e uma versão alternativa –preta com detalhes em rosa– que a equipe usa fora de casa. Esse foi o trabalho da loja criativamente intitulada Messi Miami Shop.

No entanto, a Messi Miami Shop não tinha nenhuma afiliação com Messi, Inter Miami ou Adidas. Suas camisas vieram de um contato na Tailândia, compradas por US$ 10 (R$ 49,47) cada uma. "Isso é Miami", disse um dos vendedores. "Todo o mundo tem um contato." E uma margem de lucro: a barraca estava vendendo as camisas por US$ 25 (R$ 123,68) para a versão infantil e até US$ 65 (R$ 321,58) para uma versão "autêntica" e falsa da camisa preta da equipe.

Os vendedores, que se recusaram a dar seus nomes por motivos óbvios, disseram que venderam cerca de 30 em algumas horas. Mas eles não são os únicos que estão se esforçando.

A shopkeeper with a Lionel Messi jersey, in Inter Miami?s distinctive pink color, at a shop Rio de Janeiro, Sept. 26, 2023. In the span of three months, the soccer superstar has made Inter Miami?s eye-catching pink jersey the hottest piece of sports merchandise on the planet. (Dado Galdieri/The New York Times)
Camisa de Messi é sucesso no Rio de Janeiro - Dado Galdieri - 26.set.23/The New York Times

Algumas noites antes, do lado de fora do Exploria Stadium, em Orlando, um grupo diferente de vendedores ambulantes estava fazendo seu próprio negócio rápido com camisas de Messi. Lionel não estava jogando naquela noite, por lesão, mas o Inter Miami estava na cidade, e muitos fãs estavam dispostos a pagar US$ 40 (R$ 197,90) por uma camisa rosa com o nome dele, mesmo que tivesse costuras ruins.

Apesar de todas as tentativas da Adidas de colocar suas camisas oficiais de Messi nas lojas o mais rápido possível, a demanda por elas –qualquer versão delas– tem sido tão grande que as falsificações inundaram o mercado global para suprir a escassez.

Em Buenos Aires, onde o status de Messi como um tesouro nacional foi selado pela vitória na Copa do Mundo, há camisas rosas à venda em loja após loja e quiosque após quiosque ao longo da calle Florida, uma das movimentadas ruas comerciais da capital argentina, e nas barracas do movimentado Mercado de San Telmo. Em alguns vendedores, as falsificações custam cerca de US$ 50 (R$ 247,37).

As vendas oficiais superaram todas as expectativas da Adidas, disse Southard: mais do que o frenesi que acompanhou a mudança de David Beckham para o Los Angeles Galaxy em 2007; além da corrida provocada pelo retorno de Cristiano Ronaldo ao Manchester United em 2021; além do clamor pela camisa da Argentina do próprio Messi após Mundial do Qatar.

O Inter Miami é agora a camisa de futebol mais vendida da Adidas na América do Norte, à frente dos cinco clubes europeus tradicionais que a marca considera como as joias da coroa de seu portfólio: Manchester United, Real Madrid, Juventus, Bayern e Arsenal.

A Lionel Messi jersey, in Inter Miami?s distinctive pink color, at a shop outside Tokyo, Sept. 28, 2023. In the span of three months, the soccer superstar has made Inter Miami?s eye-catching pink jersey the hottest piece of sports merchandise on the planet. (Kosuke Okahara/The New York Times)
Camisa do Inter Miami à venda em Tóquio - Kosuke Okahara - 28.set.23/The New York Times

No site da Fanatics, que domina o mercado de roupas esportivas nos Estados Unidos, nenhum jogador, de qualquer esporte, vendeu mais camisas do que Messi nas primeiras 24 horas após sua mudança de equipe.

A chegada cinematográfica do craque aos Estados Unidos –com um gol vencedor no último minuto em sua estreia, em 22 de julho– só ocorreu tarde demais para salvar a temporada do Inter Miami, que não se classificou para a fase final da MLS. Messi não jogará de rosa novamente até o próximo ano.

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