Esporte feminino deve ultrapassar US$ 1 bilhão em receitas em 2024, prevê consultoria

Apesar do recorde projetado, 30% das jogadoras que disputaram a Copa do Mundo recebem menos de US$ 30 mil/ano

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São Paulo

Os esportes praticados por mulheres devem superar em 2024, pela primeira vez, a marca de US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões) em receitas, segundo estimativa publicada nesta quarta-feira (29) pela consultoria Deloitte.

A projeção aponta que as esportistas de elite em suas respectivas modalidades devem movimentar um volume financeiro da ordem de US$ 1,28 bilhão (R$ 6,2 bilhões) ao longo do ano que vem. De acordo com a Deloitte, o montante estimado representa um crescimento de aproximadamente 300% em comparação com o último levantamento, de 2020.

A previsão tem como base as três principais fontes de receita geradas pelo esporte feminino: compras dos fãs no dia em que são realizadas as partidas; verbas de transmissão; e acordo comerciais.

Jennifer Hermoso, da Espanha, e Georgia Stanway, da Inglaterra, durante a final da Copa do Mundo feminina no Estádio Olímpico de Sydney, na Austrália
Jennifer Hermoso, da Espanha, e Georgia Stanway, da Inglaterra, durante a final da Copa do Mundo feminina no Estádio Olímpico de Sydney, na Austrália - Franck Fife - 20.ago.2023/AFP

A receita de acordo comerciais, que inclui patrocínios aos clubes, parcerias e vendas de produtos, deve representar a maior parte do bolo total, com uma fatia em torno de 55%, ou de US$ 696 milhões (R$ 3,4 bilhões).

Vêm em seguida a receita de transmissão, com 27%, ou US$ 340 milhões (R$ 1,6 bilhão), e a receita nos dias dos jogos, com 18%, ou US$ 240 milhões (R$ 1,17 bilhão).

A Deloitte prevê ainda que o futebol feminino é o esporte que mais deve gerar receitas em 2024, de US$ 555 milhões (R$ 2,7 bilhões), correspondendo a cerca de 43% da receita total. Na sequência, vem o basquete, com US$ 354 milhões (R$ 1,73 bilhão), ou 28%.

Na quebra por geografia, os mercados da América do Norte e da Europa devem ser os que mais vão gerar receitas no esporte praticado por mulheres durante o ano que vem, com US$ 670 milhões (R$ 3,3 bilhões) e 52% de participação de mercado, e US$ 181 milhões (R$ 884,4 milhões) e 14%, respectivamente.

Segundo Jennifer Haskel, líder de estudos do grupo de negócios esportivos da Deloitte, ao longo dos últimos anos, foi possível observar um crescimento excepcional no esporte feminino em todo o mundo, impulsionando um aumento significativo em seu valor comercial, o que, por sua vez, tem despertado cada vez mais interesse dos investidores.

"Esse aumento no envolvimento de fãs e investidores está levando a novas e melhores oportunidades para clubes e ligas, incluindo parcerias comerciais mais fortes. Para garantir que esse crescimento seja consistente e sustentável, as organizações esportivas devem garantir que o investimento seja direcionado para os lugares certos, como incentivar a lealdade dos fãs, o bem-estar dos jogadores e a manutenção da competição entre as ligas", afirmou Haskel.

A expectativa da Deloitte é que, em 2024, os esportes de elite femininos tenham cada vez mais horários nobres nas grades de transmissão, tornando os eventos mais fáceis de encontrar e assistir.

"Emissoras, plataformas de streaming e mídias sociais terão um papel importante em mostrar eventos importantes que capturam o interesse de novos e antigos fãs", disse Paul Lee, chefe global de pesquisa de tecnologia, mídia e telecomunicações da Deloitte.

1 em cada 3 jogadoras que participaram da Copa recebem menos de US$ 30 mil/ano

Ao mesmo tempo em que os dados da Deloitte apontam para uma evolução das finanças nos esportes praticados por mulheres, um levantamento do Fifpro (sindicato das atletas) que se debruçou sobre a Copa do Mundo feminina de 2023 mostrou que uma em cada três jogadoras que participaram da competição recebem menos de US$ 30 mil (R$ 147 mil) por ano, e que uma em cada cinco precisam complementar a renda com um segundo emprego.

A remuneração inclui os rendimentos periódicos pagos pela seleção e pelos clubes e não considera a premiação mínima de US$ 30 mil recebida pelas jogadoras que disputaram a Copa.

"As jogadoras deram tudo de si para realizar uma Copa do Mundo brilhante, mas ainda existem lacunas importantes que precisam ser abordadas", disse Sarah Gregorius, diretora de política e relações estratégicas para o futebol feminino da Fifpro.

A premiação total na Copa do Mundo feminina aumentou para US$ 150 milhões (R$ 734 milhões) na edição deste ano, 10 vezes mais do que em 2015 e três vezes mais do que em 2019. No entanto, esse valor ainda ficou bem abaixo em comparação com o prêmio de US$ 440 milhões (R$ 2,15 bilhões) para a Copa do Mundo masculina no Qatar, em 2022.

O levantamento do FifPro ouviu 260 jogadores de 26 das 32 seleções que participaram do Mundial, realizado entre julho e agosto na Austrália e na Nova Zelândia. A Espanha foi a campeã do torneio, ao bater na final a Inglaterra.

Além da remuneração, as jogadoras também se manifestaram sobre o calendário e o tempo de preparação. 53% das participantes da pesquisa disseram que não tiveram descanso suficiente antes de disputar a primeira partida na Copa; e 2/3, que não estavam no auge físico no início do torneio.

Além disso, a maioria das jogadoras afirmou não ter tempo suficiente de recuperação após a Copa —60% sentiram que seu descanso pós-torneio foi insuficiente, com 86% tendo menos de duas semanas de descanso antes de retornar ao clube. As diretrizes da Fifpro recomendam uma pausa de quatro semanas na temporada, com um período de recondicionamento de seis semanas.

Segundo o sindicato, os resultados evidenciam a necessidade de melhorias centradas em áreas-chave do esporte, incluindo calendário de jogos e apoio médico.

A pesquisa revelou ainda que 10% das jogadoras não fizeram exames médicos pré-competição, e 22% não realizaram um eletrocardiograma, ambos previstos nos regulamentos dos torneios organizados pela Fifa (Federação Internacional de Futebol). Além disso, 60% disseram que não tinham apoio à saúde mental.

"Qualquer coisa abaixo de 100% quando se trata de acesso a um eletrocardiograma ou a realização de um exame médico pré-torneio não é aceitável", disse Alex Culvin, chefe de estratégia e pesquisa para o futebol feminino da Fifpro. "As jogadoras precisam de um ambiente que apoie seu bem-estar holístico, desde a saúde mental até as condições para disputar o torneio, para que possam alcançar seu melhor desempenho competitivo", acrescentou.

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