CBV cria punição para racismo, mas pena não deve ser aplicada em casos recentes da Superliga B

Em janeiro, segunda divisão do vôlei brasileiro teve dois relatos de discriminação em dias consecutivos

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São Paulo

A CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) anunciou nesta segunda-feira (5) atualização nos regulamentos de suas competições para punir atos racistas, após duas ocorrências do tipo na Superliga B ao final de janeiro. Porém, as equipes denunciadas à época —Curitiba, no feminino, e Goiás, no masculino— não devem ser penalizadas pela entidade.

Isso porque ficou acordado que os novos princípios valem apenas para jogos realizados a partir da aprovação.

Na proposta, qualquer ação discriminatória de cunho racial passa a ser considerada gravíssima durante partidas. Sanções previstas incluem multa, retirada de três pontos, suspensão, perda de mando e até eliminação do campeonato.

Em meio ao texto, um detalhe é destacado: se o infrator for torcedor e houver identificação do indivíduo, o clube será punido apenas em caso de reincidência. Foi exatamente essa a situação relatada nos mandos de Curitiba e Goiás. Os acusados foram encontrados.

Os fatos ainda serão julgados pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva). Gestores dos projetos envolvidos relataram à Folha, entretanto, confiança na absolvição e contentamento em relação à regra criada pela confederação. Eles acreditam que as campanhas dos times não podem ser prejudicadas pelo comportamento da torcida.

Jogadoras do Tijuca Tênis Clube em vídeo feito para relatar caso de racismo sofrido na Superliga B - Reprodução/@danisuco no Instagram

No último dia 26, três jogadoras do Tijuca Tênis Clube, do Rio de Janeiro, declararam ter escutado sons de macaco vindos da torcida do Curitiba durante partida na capital paranaense. Após o encontro, a central Dani Suco, a ponteira Camilly Ornellas e a levantadora Thaís Oliveira gravaram vídeo relatando o ocorrido.

"Era o segundo set, teve um rali, nós ganhamos, e eu fui para o saque. No momento em que eu estava batendo a bola, escutei, em alto e bom som, barulhos de macaco mesmo", disse Dani. "Não acreditei, olhei para trás e vi que eram muitas pessoas, mas não consegui identificar ninguém. Quando eu saí da quadra, perguntei para as meninas se elas tinham escutado, e disseram que sim", continuou.

O Curitiba disse ter solicitado abertura de inquérito policial para apuração minuciosa dos fatos.

Já no dia 27, foi a vez de a competição masculina ter seu relato de racismo. Durante partida em Goiânia entre Goiás e América-RN, o técnico da equipe potiguar, Alessandro Fadul, interrompeu a disputa de um dos pontos para informar ter sido chamado de macaco por um espectador.

A atitude do profissional irritou o árbitro, que lhe apresentou um cartão vermelho. No esporte, a punição representa um ponto para o adversário.

O homem acusado por Fadul não foi retirado do ginásio, e a Associação Esportiva Vôlei Pró, mantenedora do time goiano, negou ter havido qualquer tipo de injúria. "Diante do que foi apurado, não houve o alegado fato envolvendo insultos racistas por parte de um torcedor", divulgou em nota.

Dias após os casos, a CBV realizou o levantamento de imagens dos jogos, súmulas, relatórios dos delegados das partidas e manifestações de atletas e clubes envolvidos. Tudo foi encaminhado ao STJD.

A comunidade do vôlei, em especial atletas negros, emitiram manifestações sobre as denúncias surgidas na Superliga B e questionaram sobre punições. Fabiana Claudiano, central bicampeã olímpica, publicou vídeo no Instagram dizendo ser inadmissível nada ter sido feito quando as ofensas foram percebidas. O mesmo foi feito por Serginho, líbero histórico da seleção masculina.

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