Em um duelo de gerações marcado pelo equilíbrio, o sérvio Novak Djokovic, número 2 do mundo de 37 anos e maior vencedor de Grand Slams da história do esporte, completou a prateleira de troféus com a conquista neste domingo (4) do ouro olímpico, batendo na grande final o jovem espanhol Carlos Alcaraz, número 3 do ranking de 21 anos.
A vitória foi por 2 sets a 0, ambos definidos no tie-break —7/6 (7/3) e 7/6 (7/2)—, em uma partida que durou 2h50, mais longa que uma maratona.
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Djokovic, que passou por uma cirurgia no joelho direito em junho, tornou-se o mais velho campeão da chave de simples do tênis nas Olimpíadas desde o retorno da modalidade ao programa olímpico, em Seul-1988. O recorde pertencia ao britânico Andy Murray, campeão na Rio-2016 com 29 anos.
Antes deles, os britânicos Arthur Gore e Major Ritchie venceram em Londres-1908 aos 40 e 37 anos, nas chaves de simples indoor e outdoor, respectivamente.
Se Alcaraz tivesse vencido, seria o mais novo campeão olímpico, recorde que pertence ao norte-americano Vincent Richards, que levou o ouro em Paris-1924, com 21 anos.
Dois dos principais nomes do circuito internacional na atualidade —os Jogos não contam pontos para o ranking mundial—, Djokovic e Alcaraz fizeram um jogo bastante disputado, com grandes jogadas de ambos os lados, para deleite do público ilustre que lotou a quadra Philippe-Chatrier, em Roland Garros —Serena Williams, Pau Gasol, Sharon Stone, Nasser Al-Khelaïfi (dono do PSG) e Thomas Bach (presidente do COI) eram alguns dos nomes que acompanharam a partida.
A vitória de Djokovic representou o desempate no retrospecto de confrontos entre os dois. Eles já haviam se enfrentado seis vezes até aqui, com três vitórias para cada.
Djokovic venceu nas semifinais de Roland Garros e do ATP Finals e na decisão do Masters 1000 de Cincinnati, em 2023. Já Alcaraz venceu na semifinal do Masters 1000 de Madri, em 2022, e na final de Wimbledon em 2023 e 2024.
Os dois chegaram à final sem perder sets. Djokovic venceu o australiano Matthew Ebden (6/0, 6/1), o espanhol (e rival) Rafael Nadal (6/1, 6/4), o alemão Dominik Koepfer (7/5, 6/3), o grego Stefanos Tsitsipas (6/3, 7/6) e o italiano Lorenzo Musetti (6/4, 6/2).
Já Alcaraz passou pelo libanês Hady Habib (6/3, 6/1), o holandês Tallon Griekspoor (6/1, 7/6), o russo Roman Safiullin (6/4, 6/2), o norte-americano Tommy Paul (6/3, 7/6) e o canadense Felix Auger-Aliassime (6/1, 6/1).
No primeiro set, Djokovic chegou a ter a chance de quebrar o serviço de Alcaraz algumas vezes no segundo, no quarto e no 12ª game, mas viu o espanhol reagir com força para confirmar seu serviço. No nono game, que durou mais de 14 minutos, foi a vez de o sérvio ter de salvar cinco break-points até conseguir confirmar o serviço.
A decisão da primeira parcial foi para o tie-break, em que o equilíbrio se manteve, com Djokovic se valendo de uma devolução certeira para abrir a vantagem e fechar o primeiro set, que durou 1h33.
No início do segundo set a toada se manteve, sem que nenhum dos dois conseguisse abrir qualquer vantagem, confirmando os respectivos saques e levando a partida novamente para o tie-break. No desempate, Djokovic conseguiu ser mais consistente, conseguiu dois ‘mini-breaks’ e, com golpes firmes, fechou o tie-break em 7 a 2.
Após a vitória, o sérvio ficou bastante emocionado. Ele se ajoelhou na quadra e chorou, enquanto era celebrado pela torcida em Paris. Antes de se levantar, ele, que é cristão ortodoxo, fez o símbolo da cruz, um gesto pouco comum em suas comemorações.
"Foi uma luta incrível e eu tive que jogar meu melhor tênis", disse o sérvio após a partida. "Eu coloquei meu coração, minha alma, tudo para ganhar o ouro. Eu fiz isso primeiro pelo meu país, pela Sérvia."
A medalha de ouro olímpica era o único título que ainda faltava na extensa prateleira do multicampeão.
Dono de 24 troféus de Grand Slam, Djokovic tinha como melhor resultado até aqui nos Jogos um bronze em Pequim-2008, quando fez sua estreia olímpica e acabou derrotado nas semifinais por Rafael Nadal. Na disputa pelo terceiro lugar, venceu o norte-americano James Blake.
Em Londres-2012, caiu na semifinal para o britânico Andy Murray e perdeu a disputa do bronze para o argentino Juan Martin del Potro. Na Rio-2016, caiu ainda na primeira fase novamente diante de del Potro. Em Tóquio-2020, perdeu nas semifinais para o alemão Alexander Zverev, e o bronze para o espanhol Pablo Carreno Busta.
Campeão de tudo
O sérvio agora se iguala a André Agassi, Rafael Nadal, Serena Williams e Steffi Graf, que também venceram os quatro títulos de Grand Slam e o ouro olímpico.
Alcaraz, por sua vez, fez sua primeira participação em Olimpíadas na capital francesa.
Tenista mais novo a alcançar o posto de número 1 do ranking, em setembro de 2022, aos 19 anos, o espanhol dono de quatro títulos de Grand Slam —sendo o atual campeão de Roland Garros e Wimbledon—, se tornou o mais jovem finalista olímpico do tênis desde Seul-1988, quando o suíço Marc Rosset foi prata aos 21 anos e 275 dias —o espanhol tem 21 anos e 91 dias. O finalista mais jovem é o norte-americano Robert Leroy, prata em St. Louis-1904, aos 19 anos.
"Acho que tive um grande desempenho durante o torneio e fiz uma partida muito boa. Obviamente, na minha frente, eu tinha um Novak realmente faminto", declarou Alcaraz, também emocionado como poucas vezes foi visto. Ele chorou durante a entrevista.
Nas redes sociais, Rafael Nadal parabenizou Alcaraz pela prata. Os espanhóis jogaram juntos no torneio de duplas em Paris-2024, caindo nas quartas de final.
"Carlos, embora eu saiba que hoje é um dia difícil, valorize uma medalha que é muito importante para todo o país e você verá, com o tempo, que é para você também. Obrigado por esta semana incrível e pela medalha ao desporto espanhol", escreveu Nadal.
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