Atletas militares são um terço da delegação brasileira nas Olimpíadas

Esportistas se unem às Forças Armadas para receber salário e benefícios como assistência médica e odontológica

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Rio de Janeiro

Nas Olimpíadas de Paris, 98 atletas brasileiros são também militares, o que corresponde a 35% da delegação. Cinco das sete medalhas conquistadas pelo país nos jogos até agora são de esportistas vinculados às Forças Armadas.

Os atletas se alistam temporariamente para receber salário e outros direitos da carreira, como assistência médica e odontológica, e ter acesso à infraestrutura da Marinha, do Exército e da Aeronáutica para treinar. Os benefícios partem do Programa Atletas de Alto Rendimento (Paar), criado em 2008 pelo Ministério da Defesa para ser executado pelas Forças.

Nos jogos de Paris, são 55 mulheres e 43 homens esportistas militares, divididos em 21 modalidades, do atletismo ao levantamento de peso olímpico. Do total, 43 são vinculados à Marinha, 31 ao Exército e 24 à Aeronáutica.

A imagem é dividida em duas partes. À esquerda, um homem em uniforme militar branco, com um boné de oficial, fazendo um gesto de saudação. Ele usa um distintivo com o sobrenome 'Ferreira'. Ao fundo, há palmeiras e um céu claro. À direita, uma mulher boxeadora em ação, usando um capacete azul e luvas vermelhas, com a inscrição 'PARIS 2024' e a bandeira do Brasil em sua vestimenta. Ela parece concentrada e está em um ringue de boxe.
Classificada para semifinal do boxe em Paris, a pugilista Beatriz Ferreira é sargento da Marinha - Paulo Johnson e Jiang Wenyao/Marinha do Brasil e Xinhua/Paulo Johnson e Jiang Wenyao/Marinha do Brasil e Xinhua

O programa é uma fonte de renda principalmente para quem atua em esportes com menor aporte financeiro. Depois de admitidos, eles podem permanecer alistados por até oito anos, por determinação legal.

"O diferencial das Forças Armadas em relação aos patrocínios é a permanência do atleta. Se ele tiver resultados compatíveis, vai permanecer por oito anos, e muitas vezes, isso é essencial, porque os patrocínios variam muito", diz o almirante de esquadra Carlos Chagas, comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais.

O sargento da Marinha Willian Lima, 24, foi o primeiro brasileiro a levar uma medalha nos jogos de Paris. Lima, que está há quatro anos na força, ganhou prata em sua estreia em Olimpíadas.

A também judoca Beatriz Souza, que levou o primeiro ouro do Brasil, é sargento do Exército.

Na mesma modalidade, Larissa Pimenta, 25, é sargento da Marinha desde 2018. Ela ganhou o bronze no último domingo (28). Já Caio Bonfim, 33, que levou prata na marcha atlética, é sargento da Força Aérea Brasileira. Caio recebeu a primeira medalha na modalidade na história do Brasil.

Na ginástica, as atletas Jade Barbosa, Flávia Saraiva e Lorrane Oliveira também são sargentos da FAB. O grupo ajudou o país a conquistar a primeira medalha na categoria de equipes.

Ainda que tenham título de sargento, os atletas não têm as mesmas obrigações que militares de carreira. Não participam, por exemplo, de operações de segurança.

No entanto, precisam cumprir deveres de conduta: não podem se manifestar publicamente sobre política, usar farda de modo incorreto, entre outros.

Eles chegam às Forças por meio de processo seletivo, abertos a cada ano para diferentes modalidades. Para serem aprovados, enviam currículo que comprove alto rendimento, como medalhas em campeonatos nacionais e internacionais.

Neste ano, a exceção é Philipe Chateaubrian, 35, capitão do Exército e o único militar de carreira na delegação. Atleta de tiro esportivo, ele competiu em Paris na modalidade, sendo eliminado no sábado (27).

Eles descobriu a aptidão para o esporte ainda na Academia Militar das Agulhas Negras, quando passou a participar de campeonatos militares. Inspirado pelas Olimpíadas do Rio em 2016, onde atuou na segurança por ser do Exército, decidiu intensificar os treinos para competir em disputas civis.

Quando entrou para a delegação do Brasil, conseguiu autorização do Exército para dedicar parte da sua jornada de trabalho ao esporte. Foi o primeiro brasileiro a se classificar para as Olimpíadas de Paris, em 2022, depois de vencer o Campeonato das Américas de Tiro no Peru.

Um homem sorridente está agachado em frente aos anéis olímpicos coloridos. Ele usa uma camiseta azul com detalhes amarelos e um boné azul, ambos com o logo do Brasil. O homem também está usando calças escuras e tênis amarelos. Ele tem um crachá pendurado no pescoço, que parece ser de um evento olímpico. O fundo mostra um céu com nuvens e uma área verde.
Philipe Chateaubrian, 35, é atleta de tiro esportivo e o único militar de carreira que participou da delegação brasileira em Paris - Arquivo pessoal

"Foi uma experiência incrível chegar a um lugar tão alto, que todo atleta sonha. Aquele cadete lá do primeiro ano jamais imaginou que pudesse em pouco tempo estar em uma Olimpíada representando seu país."

Os demais atletas militares da delegação brasileira são vinculados ao Paar. Quando ingressam nas Forças Armadas, passam por um período de formação, que dura seis semanas.

Lá, aprendem sobre legislação militar, código de conduta da carreira, entre outros pontos. Também participam de acampamentos com outros atletas, onde fazem exercícios de sobrevivência e aprendem a viver na floresta usando recursos da natureza.

Depois da formação inicial, a cada ano os atletas passam por uma reciclagem, em que participam de rodas de conversa sobre a vida militar. Fora isso, a única obrigação deles é vencer campeonatos. Se não conseguirem, são desligados do programa.

O treinamento fica a cargo da comissão técnica de cada esportista, mas pode ser feito nos espaços das Forças Armadas.

Na Marinha, atletas militares conhecem equipamentos como carro anfíbio e embarcações durante a formação. Além dos 43 esportistas ativos, outros 16 atletas da delegação brasileira já passaram pela Marinha. Entre eles, a medalhista de ouro no judô Rafaela Silva e as bicampeãs olímpicas da vela Martine Grael e Kahena Kunze.

"Não estamos preparando um militar de carreira, mas um temporário que vai representar a Marinha dentro daquilo que ele já conhece bem, que é o esporte", diz o almirante Cláudio Leite, comandante do Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes, da Marinha.

Já no Exército, o processo seletivo envolve testes para avaliar a capacidade física do atleta, com atividades como corrida de 12 minutos e flexão abdominal, segundo o major Douglas de Faria Brasil, chefe da Seção de Operações Esportivas da Comissão de Desportos do Exército.

Depois de aprovados, também passam por formação e, ao concluir, fazem juramento à bandeira e recebem a boina verde-oliva, assim como ocorre entre militares de carreira. Há atletas que inclusive batem continência no pódio ao vencer uma medalha, embora o gesto não seja obrigatório.

"Diante de uma conquista e por estar representando os brasileiros diante do mundo inteiro, eles prestam continência como um símbolo de respeito ao hasteamento da bandeira", diz o major.

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