Sigilo igual ao da abertura marca encerramento dos Jogos

Contrato de confidencialidade teria multa de R$ 1,5 milhão; polêmico Thomas Jolly também será diretor do show de domingo

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Paris

Um sigilo tão grande quanto o da abertura cerca a cerimônia de encerramento dos Jogos de Paris, marcada para domingo (11), às 21h locais (16h em Brasília). Os participantes têm que assinar um contrato de confidencialidade com validade de dez anos, que proíbe "divulgar qualquer informação ou imagem relacionada às cerimônias".

Segundo o jornal francês "Le Figaro", a multa por descumprimento chega a 250 mil euros (cerca de R$ 1,5 milhão).

Ao contrário da festa inaugural, realizada fora de um estádio pela primeira vez na história olímpica, o "grand finale" parisiense terá um palco mais convencional, o Stade de France. O que não muda é o responsável pelo show, Thomas Jolly, o diretor de teatro que tanto irritou a ultradireita e alguns cristãos com ideias audaciosas, como a participação de drag queens.

Jolly sofreu ameaças de morte, assim como uma das drag queens e uma DJ que participaram da abertura. Todos prestaram queixa na polícia.

Cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris - Lionel Bonaventure - 26.jul.24/Reuters

A expectativa agora, em relação à cerimônia de encerramento, é se haverá o mesmo tipo de ousadia.

Poucos detalhes de "Records", nome dado ao espetáculo, foram divulgados. Um trailer divulgado na TV e na internet mostra acrobatas ensaiando em uma roda metálica de cerca de 5 metros de altura. É dada como certa a presença do ator hollywoodiano Tom Cruise, provavelmente no trecho relacionado à próxima sede olímpica, Los Angeles.

Entre as atrações musicais, fala-se na cantora americana Beyoncé e no compositor francês Jean-Michel Jarre.

"Trabalhamos muito o visual e o sonoro, como eu faria no teatro ou na ópera", limitou-se a dizer Thomas Jolly.

Ao todo, cerca de 8 mil pessoas participaram da realização da cerimônia de abertura, o que dá uma ideia da dificuldade em guardar segredo.

O roteiro ficou pronto um ano antes dos Jogos, elaborado por Jolly e quatro colaboradores principais - o historiador Patrick Boucheron, a romancista Leïla Slimani, a roteirista Fanny Herrero e o dramaturgo Damien Gabriac. Foram pelo menos 47 versões até chegar ao formato final, em razão de restrições técnicas e financeiras. Nenhuma informação era impressa em papel; até as mensagens trocadas sobre o assunto eram criptografadas e se autodestruíam.

As apresentações de dança foram ensaiadas em hangares na periferia de Paris. Os 3 mil dançarinos recebiam uma pulseira, com um codinome —"Projeto Aurora"— e o local só era informado poucas horas antes. Ao chegar, todos tinham que colocar o celular em bolsas de plástico seladas.

Alguns contratos de confidencialidade foram assinados dois anos antes dos Jogos. Foi assim com os bateaux-mouches, os barcos que fazem passeios turísticos ao longo do rio Sena e que serviram para o desfile fluvial dos atletas.

O cavalo prateado que "flutuou" sobre as águas do rio foi soldado em uma oficina de Nantes, no oeste da França. Ele se apoiava em um discreto trimarã (barco com três cascos) elétrico. Os ensaios foram feitos de madrugada.

As estátuas de dez mulheres marginalizadas pela história - como Olympe de Gouges, precursora do feminismo do século 18 - foram montadas em uma oficina de Corbehem, cidade de 2 mil habitantes no norte da França. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, quer instalar as estátuas para sempre em algum ponto da cidade.

Apenas Hidalgo e o presidente Emmanuel Macron tinham acesso aos detalhes mais sigilosos da cerimônia.

Mesmo assim, algumas informações confidenciais vazaram. "Na França, é impossível guardar segredo", disse à Folha, em tom de brincadeira, Tony Estanguet, o presidente de Paris-2024, três semanas antes da abertura, em meio aos ensaios.

Vazamentos eram inevitáveis, pois alguns ensaios tinham que ser públicos, como as acrobacias aéreas da Patrulha da França, o equivalente francês da Esquadrilha da Fumaça. Outros causaram polêmica. A cantora Aya Nakamura, nascida no Mali, foi vítima de ataques racistas quando vazou a notícia de que cantaria clássicos da "chanson" francesa.

O trabalho de Thomas Jolly não se esgota no próximo domingo. A missão seguinte será a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos, na praça de La Concorde, no dia 28 de agosto.

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