Descrição de chapéu Olimpíadas 2024

Akio leva bronze no seu ritmo, do seu jeito, e lamenta não ter ficado em quarto

Japinha vai do malabarismo à introspecção em jornada muito particular rumo ao pódio olímpico do skate em Paris

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paris

Augusto Akio, 23, não é o típico medalhista olímpico. Ou, ao menos, não teve a típica reação de alguém que acaba de subir ao pódio dos Jogos Olímpicos. Bronze na modalidade park do skate em Paris, o paranaense surpreendeu quem não o conhecia, com um ritmo muito particular, alternando entre a grandiloquência e a introspecção. Mas sempre reflexivo.

Medalha no peito, ouviu de um repórter que Tony Hawk, lendário skatista norte-americano, havia elogiado sua performance e gritou: "Uaaaaaau!". Após pausa dramática, repetiu: "Uaaaaaau!". Então, fez uma longa explanação sobre os bastidores do campeonato e concluiu: "Todo serviço é digno, o trabalho dignifica o ser humano".

A resposta não satisfez plenamente um grupo ávido por impressões sobre a final que acabara de ocorrer, o que gerou nova resposta peculiar. "Como foi a prova? Bom, desci com o skate já virado, e pum!", afirmou, antes de uma descrição frenética de movimentos, com termos técnicos, que durou dois minutos e cinco segundos. Aí, esclareceu: "Essa foi a primeira manobra".

Foi só nesse momento, aos risos, que os interlocutores do atleta entenderam que estavam diante de alguém com uma cadência única. A própria organização dos Jogos Olímpicos teve de se adaptar a isso, realizando a protocolar entrevista dos três medalhistas só com os ganhadores do ouro e da prata. O dono do bronze apareceu depois.

Japinha considera terapêutico o malabarismo - Mathilde Missioneiro/Folhapress

Quando Akio terminou as rodadas iniciais de atendimento à imprensa, ainda na área de competição, o campeão Keegan Palmer e o vice-campeão Tom Schaar já tinham ido embora, com todos os seus compromissos oficiais cumpridos. E Japinha, como é conhecido Augusto entre os brasileiros do skate, ainda não havia explicado seu amor pelo malabarismo, que considera terapêutico.

Antes e depois de suas apresentações na arena montada na Place de la Concorde, na tarde francesa de quarta-feira (7), o curitibano demonstrou sua habilidade também com três claves nas cores do Brasil. Foi com elas que celebrou a exibição que o levou ao pódio, em uma volta que lhe rendeu pontuação 91.85.

No skate park, cada competidor tem três voltas de 45 segundos para executar suas manobras, com nota de 0 a 100, e vale a melhor das três. A pista tem o formato de uma tigela cheia de ondulações, e os esportistas são incentivados a buscar manobras aéreas, acrobáticas. Ao primeiro erro, postos os dois pés no chão, a tentativa é interrompida.

De novo, no seu ritmo, Japinha não completou nenhuma das duas primeiras. Foi só na oportunidade derradeira que terminou a apresentação de pé, na terceira colocação. Vibrou, mas vibrou ainda mais quando o skatista seguinte, o também brasileiro Pedro Barros, cravou uma volta de qualidade, com a possibilidade de ultrapassá-lo.

Barros –medalhista de prata na mesma prova em 2021, em Tóquio– atingiu 91.65, apenas 0.20 atrás de Akio, que se viu com sentimentos conflitantes. Questionado sobre o que passou em sua cabeça quando entendeu que seria bronze, conteve o choro, em um discurso de reverência ao quarto colocado. "Sabe, foi duro… Eu queria ter visto o Pedro no pódio."

Embora a diferença de idade não seja tão grande, Pedro, 29, já era um atleta relevante na adolescência, uma figura relevante no cenário do skate. E o menino Augusto, quando compreendeu seu amor pela modalidade, passou a ver vídeos no YouTube daquele que hoje é seu amigo. Mais do que os movimentos precisos, apreciou a ideia.

"Eu o admiro muito, porque a mensagem que ele sempre passou foi de união, respeito, coisas boas. Então, é pelos valores e princípios que o Pedro carrega, não só pela performance. A mensagem que ele passa é a que eu quero passar. Ele sempre carregou essa bandeira, levou essa ideia para o mundo todo", disse Akio.

"No momento em que ele fez a última apresentação completa, eu não estava chateado [com a possibilidade] de ter saído do pódio. Na verdade, estava grato, porque ele é merecedor. Era um bom motivo para eu não estar no pódio olímpico. Eu teria vibrado, comemorado, talvez até mais do que pela minha conquista", acrescentou.

Akio (à dir.), em momento de comunhão com Pedro Barros - Mathilde Missioneiro/Folhapress

O paranaense também se emocionou ao falar sobre a mãe, o pai e o avô, que considera decisivos em sua jornada. Mas até nisso se diferenciou do habitual medalhista. Questionado sobre os pais, que enfrentaram diferentes obstáculos para fomentar o amor do filho pelo esporte, descreveu minuciosamente seus currículos profissionais. Pausadamente.

"A minha maneira de falar talvez seja um pouco devagar, para que quem está escutando possa entender. Eu compreendo que o erro seja comum, assim como não acredito que a ignorância seja um pecado, porque tudo bem você não saber algo, isso é normal", afirmou, em resposta a um pedido para que descrevesse seu estilo.

"Acredito que não tenha respondido a sua pergunta, mas, para ser sincero, eu não sei a resposta."

Esse é o mais recente medalhista do Brasil, que se despediu de Paris mencionando seus planos para os Jogos de 2028. No caminho a Los Angeles, em mais um fluxo de pensamento bem particular, observou que o cozinheiro da Vila Olímpica pode mudar a história de nações e valorizou o trabalho de todos os envolvidos nas Olimpíadas, arrancando enorme sorriso de uma voluntária encostada à parede.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.