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Torcedores veem jogo pela TV, dentro do Castelão, após terem o ingresso furtado

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Carlos Castro, 48 anos, comprou o ingresso para as quartas de final no Castelão, em Fortaleza, ainda no primeiro sorteio. Apostou no Brasil. Quando o ingresso chegou em casa, escondeu na estante de livros, atrás de compêndios de medicina. "Aqui nesses monstrengos ninguém vai mexer", concluiu. E esperou. Na véspera do jogo, fez plantão na maternidade, como neonatologista. Chegou em casa às 7h da manhã desta sexta-feira (4) e não pôde dormir. "Estava muito ansioso, não tinha jeito." Tirou o ingresso do esconderijo e partiu para o estádio. No caminho, na companhia de outros dois médicos, comentou: "É surreal o que estamos vivendo. Um jogo decisivo da Copa, com o Brasil, no Castelão!". Quando botou a mão no bolso, já subindo as escadas do estádio, Carlos desmoronou: o ingresso não estava mais lá.

Ele foi um entre mais de 100 torcedores que, ao buscar o ingresso no bolso ou na bolsa para apresentá-lo, descobriram que o sonho tinha acabado. E jamais haveria outra chance. Muitos deles tiveram o ingresso furtado já na área da Fifa. "Só senti que alguém tocou em mim, mas já estava dentro, então fiquei tranquilo", conta Carlos. No celular, a foto do ingresso, feita muito antes da partida, para exibir aos amigos, foi tudo o que restou.

Dentro do estádio, mas longe do jogo, Carlos assistiu ao Brasil vencer a Colômbia esparramado no chão do Juizado do Torcedor, as costas encostadas na porta de vidro. Pela TV. "Estou que nem vocês, vendo o jogo pela TV, mas dentro do Castelão", contou aos amigos, por telefone. De fato, estava bem pior. "A TV da minha casa é maior do que essa."

De vez em quando passava a juíza, Maria José Pinto, o rosto abatido, com uma pilha de liminares nas mãos. "Quanto é que tá?, perguntava ao grupo de desafortunados. Eles gritavam o placar de lá. "Conseguimos resolver o problema de vários, mas não de todos. Não tenho pessoal suficiente para cumprir as ordens, é muita gente", afirmou. "Muitos dos que estavam nos seus lugares eram gente de bem. Compraram o ingresso na porta do estádio."

Em vez de assistir à seleção vencer a Colômbia, os torcedores vagavam pelos corredores da área externa do estádio. A certa altura, o grupo tentou alcançar a entrada da tribuna de imprensa e a tropa de choque da PM foi chamada. "Por que não estão prendendo quem roubou a gente?", xingavam. E voltavam para diante da TV. Alguns aos prantos, porque era muito o que tinha sido levado. Estavam a metros do campo, mas a distância era intransponível. Sentiam como se nunca tivesse sido tão longe.

"É um vazio tão grande, mas tão grande, que dá vontade de chorar", disse Edson Teixeira, empresário de Criciúma. Empunhava o boletim de ocorrência enquanto o segundo tempo da partida já começava. "Três mulheres nos empurraram e, de repente, o ingresso não estava mais lá", contou, o olhar perdido de quem ainda não acreditava no que estava acontecendo.

Juliane Dantas, que veio do Rio Grande do Norte, chorou. "Gastei dinheiro, perdi prova da faculdade, pra nada. Por que não tiraram a pessoa do meu lugar?" Eram muitas primeiras vezes para ela. Tinha voado de avião pela primeira vez, ia assistir a um jogo da Copa - e do Brasil! - também pela primeira vez. "Esse jogo era tudo pra mim". O Brasil já tinha feito dois gols contra a Colômbia e Juliane não vira. Mas continuava tentando.

Dirigindo de volta para casa depois da vitória do Brasil, que acompanhou até o fim pela TV do juizado, o médico Carlos Castro desabafou: "Só comprei esse ingresso para a Copa. Era único. E impagável. Tou me lixando para o dinheiro, o que levaram foram décadas da minha vida. A minha geração nunca mais vai ver outra Copa no Brasil. Acabou."

Eliane Brum/folhapress
Sentado no chão e com a mão no joelho, Carlos Castro vê o jogo pela TV
Sentado no chão e com a mão no joelho, Carlos Castro vê o jogo pela TV
Eliane Brum/folhapress
Foto tirada por Carlos Castro do seu ingresso
Foto tirada por Carlos Castro do seu ingresso
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